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O aumento da procura por emprego – e não o retorno ao estudo ou a conquista da vaga de trabalho – foi o responsável pela redução dos “nem, nem, nem” | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
O aumento da procura por emprego – e não o retorno ao estudo ou a conquista da vaga de trabalho – foi o responsável pela redução dos “nem, nem, nem”| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Com a economia estagnada e a piora do mercado de trabalho, a proporção de jovens “nem, nem, nem” (“nem estuda, nem trabalha, nem procura emprego”) encolheu no Brasil pela primeira vez em cinco anos.

No ano passado, 6,8 milhões de jovens compunham o contingente de “nem, nem, nem” no país, o que representava 13,9% das pessoas de 15 a 29 anos. No ano anterior, a proporção era de 15%, ou seja, 546 mil jovens a mais nessa situação.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (4) pelo IBGE e fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais, que examina aspectos como condições de trabalho, moradia e educação da população.

Segundo Cintia Simões Agostinho, pesquisadora do IBGE, o aumento da procura por emprego – e não o retorno ao estudo ou a conquista da vaga de trabalho – foi o responsável pela redução dos “nem, nem, nem” no país em 2014.

Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Política Públicas do Insper, diz que o desemprego começou a crescer no país no ano passado e o avanço da renda perdeu fôlego (alta de apenas 0,8%, para R$ 1.774). “Quando a renda dos país aperta, o jovem tem de começar a procurar emprego. Ele não consegue se sustentar mais só pela renda dos pais. Ele precisa de um emprego para compra o tênis”, diz o professor do Insper.

Canguru

Enquanto os “nem, nem, nem” se concentram na parcela pobre da população, outro fenômeno ocorre no extremo social oposto: os “cangurus”, jovens adultos que adiam a saída da casa dos pais.

Uma em cada quatro pessoas de 25 a 34 anos no país ainda moravam com os país, segundo o IBGE. Essa proporção cresceu de 21,2% em 2004 para 24,3% no ano passado.

Os jovens adultos cangurus são em sua maioria formados por homens (59%), da região Sudeste (47%) e mais escolarizados (34,9% tinham ensino superior).

São pessoas que adiaram a saída de casa porque dedicaram mais tempo aos estudos, casam-se mais tarde ou foram afetados pela alta do custo de vida no país.

Dificuldades

Esses jovens, entretanto, encontram dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. Primeiro, porque a oferta de vagas ficou mais escassa. Segundo, porque os “nem, nem, nem” são na média pouco qualificados.

Um sinal disso é que mais da metade (58%) deles não tinha completado o ensino médio. Em sua maioria moram nas regiões Norte (36%) e Nordeste (34,8%), as mais pobres do país. E 62,9% eram pretos ou pardos.

Claudio Dedecca, professor da Unicamp, afirma que, apesar da redução, uma parcela majoritária dos “nem, nem, nem” exerce uma função na estrutura familiar que impede uma mudança.

Gênero

Pelo fator sexo, 75% dos jovens que não trabalham, não estudavam nem procuravam emprego eram mulheres, das quais 62% tinham filho. Dos “nem, nem, nem”, 91% se dedicavam aos afazeres domésticos.

“Estamos falando majoritariamente de mulheres que exercem um papel importante na estrutura familiar, cuidando dos filhos. Elas cumprem esse papel porque precisam, porque não há creche ou não existe alternativa”, disse o especialista.

Segundo relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho), essa proporção de jovens que não trabalha nem estuda cresceu em 30 de 40 países analisados de 2007 a 2012.

Com a economia brasileira em recessão há três trimestres e a piora do mercado de trabalho, mais jovens tem procurado emprego neste ano. No terceiro trimestre de 2015, a taxa de desemprego chegou a 8,9% no país.

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