De guerra em guerra, com o passar dos anos, a artilharia utilizada ganha novas armas. O mesmo ocorre na fase atual da “guerra das maquininhas”: depois dos terminais de pagamentos, as tecnologias para e-commerce chegam à linha de frente.
Há cerca de um mês, a Getnet, do Santander, lançou sem alarde uma plataforma que a qualifica para esta batalha. Pequenas e médias varejistas podem criar lojas eletrônicas completas diretamente com a empresa de pagamentos. Para o CEO da empresa, Pedro Coutinho, esta é uma das novidades que elevam o patamar da empresa em um ambiente competitivo que não tem mais a ver só com preço de aluguel e compra da maquininha.
Chamado simplesmente Loja Digital, o produto tem como maior trunfo posicionar a Getnet como solução completa dentro do segmento de PMEs, considerado por analistas um grande potencial na indústria de adquirência. A plataforma foi justamente o que chamou a atenção de grandes investidores estrangeiros para a Stone na ocasião de seu IPO no ano passado.
Qualquer lojista pode contratar o serviço, que possibilita a construção de uma plataforma de vendas online do zero, desde o domínio até a geração de boletos. Para além da aceitação de cartões, a Getnet oferece ferramentas como sistema antifraude, cofre, pagamento recorrente, conciliação das vendas, aceitação e geração de boleto, checkout digital seguro, consultoria e infraestrutura na nuvem.
Incorporada em sua totalidade pelo Santander em dezembro, a Getnet vem crescendo a taxas impressionantes. Já ocupa 14,4% do mercado de maquininhas, conforme dados do terceiro trimestre de 2018. Em 2016, seu tamanho era de apenas 8,3%. O faturamento cresce mais de 30% ao ano há 30 trimestres.
O crescimento, claro, significa perda de espaço para a concorrência. Fundada em 2003, a Getnet chegou ao mercado quando apenas Cielo e Rede dominavam todo o mercado de adquirência. Agora, a contagem de empresas no ramo está até difícil. Duas delas, Pagseguro, do grupo UOL, e Stone, abriram capital na bolsa dos Estados Unidos.
Ao longo de 2018, todas essas empresas – e algumas outras – desfilaram novidades. Foram lançados (e relançados, no caso da Cielo Lio) terminais inteligentes, tecnologias mais simples com preços menores, maquininhas acopláveis a celulares, entre outras inovações de empresas especializadas no ramo. Até o Itaú entrou na dança, ao lançar a POP Credicard com taxas de transação extremamente agressivas.
Não à toa, a Cielo, única empresa focada totalmente em adquirência listada na B3, foi justamente a ação que mais despencou no ano passado. A queda foi de quase 60%.
Para as concorrentes listadas fora, não está mais fácil. Da máxima, em março de 2018, até hoje, a Pagseguro perdeu 43% em valor de mercado. Já a Stone teve sua máxima justamente no dia de sua abertura de capital, em outubro. De lá para cá, caiu quase 33%.
Com todo este pano de fundo, na visão do CEO, o mercado já atingiu um nível de maturidade em que, mais que o preço, é a capacidade de resolver problemas específicos que interessa a cada cliente. Daí a relevância da Loja Digital, bem como outras frentes de negócios criadas recentemente pela companhia. “Esse é o nosso modelo mental: a gente quer prestar serviço que o cliente de fato acredite que é o melhor para ele”, diz o executivo.