O diretor presidente da Copel, Rubens Ghilardi, é um defensor convicto do acordo pelo qual a Copel tornou-se sócia majoritária da UEG Araucária, em maio. A estatal, que até então tinha 20% do capital da térmica, pagou US$ 190 milhões para comprar os 60% da norte-americana El Paso. A Petrobrás manteve-se como sócia minoritária, com 20% da UEG. "O que fizemos foi comprar a parte do sócio por um terço do valor que desembolsaríamos como despesas. Se jogarmos fora a usina, ainda foi um ótimo negócio, porque pagamos apenas um terço do que pagaríamos sem que ela funcionasse", disse Ghilardi.

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Por conta de contratos do tipo "take or pay" – que obrigavam a Copel a comprar toda a energia da UEG e o equivalente a 2,1 milhões de metros cúbicos de gás da Petrobrás por dia –, a estatal teria gasto mais de R$ 2 bilhões desde a inauguração da UEG, em 2002. Tudo isso sem ter gerado energia, garante Ghilardi.

Os pagamentos foram suspensos pelo governador Roberto Requião no início de seu mandato, o que fez a El Paso pedir uma indenização superior a US$ 800 milhões na Câmara Arbitral de Paris. A briga judicial de três anos entre Copel e El Paso só terminou com o acordo realizado em maio. Dois meses antes, a Petrobrás perdoou uma dívida de R$ 750 milhões, referente ao contrato de gás natural. Em contrapartida, a Copel vai pagar R$ 150 milhões à petroleira em 60 parcelas, a partir de 2010.

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Segundo Ghilardi, a usina não funcionou entre 2002 e 2006 porque não havia mercado para a sua energia e porque a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) jamais homologou o contrato entre UEG e Copel. "Para a Aneel, a tarifa da energia que a UEG vendia à Copel [R$ 187 por megawatt hora] estava fora dos padrões da época, ninguém tinha uma tarifa tão absurda. E reajuste em dólar não foi aceito, simplesmente porque a UEG não era uma usina estrangeira. Pagar a energia seria cometer uma ilegalidade, e por isso suspendemos os pagamentos."

Em matéria publicada pela Gazeta do Povo há duas semanas, um executivo da administração anterior da Copel classificou o acordo como "um ótimo negócio", mas criticou a quebra de contrato com a Petrobrás (que incluía garantia de fornecimento de gás a preços vantajosos) e disse que a estatal paranaense deveria ter feito as negociações já em 2003, antes de suspender os pagamentos à UEG e à petroleira.

Em resposta, Ghilardi afirmou que o preço do gás sofreria variações ao longo do tempo, sendo "irreal" supor que a Copel pagaria hoje o mesmo preço de 2002. Além disso, informou que a Copel tentou negociar com a El Paso por duas vezes – uma no início de 2003 e outra em agosto de 2005, a pedido da então ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef –, mas a empresa norte-americana teria se mostrado irredutível. Em 2006, foi a vez de a El Paso, em dificuldades nos EUA e interessada em se desfazer de suas operações em geração de energia, procurar a Copel.