Uma nova cobrança do governo pela diminuição das taxas de juros causou desconforto a executivos do setor financeiro. Nem tanto pelo conteúdo, ao qual eles já se acostumaram, mas pelo contexto em que se deu: durante o tradicional jantar de fim de ano da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), realizado quinta-feira em São Paulo. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, que representava a presidente Dilma Rousseff, foi direta em seu discurso. "Seremos desenvolvidos e equilibrados se continuarmos no processo de redução das taxas de juros para garantirmos o desenvolvimento do nosso País", disse.
"Precisamos cada vez mais da ajuda dos senhores para fazer isso (dar uma vida digna aos brasileiros), de maneira mais equilibrada e mais rápida, onde todos possam ganhar. Baratear o crédito é garantir investimentos, gerar progresso e desenvolvimento. É apostar num círculo virtuoso da vida e das relações. Este é o nosso chamado."
As palavras da ministra foram interpretadas por vários dirigentes de bancos como uma mensagem clara da presidente Dilma de que os juros das operações financeiras ainda estão altos e têm de baixar mais.
"É um evento festivo. São esperados pronunciamentos de conciliação, como o do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que em seu discurso afirmou que as novas regras internacionais para o setor financeiro (Basileia 3) serão adotadas no Brasil com um cronograma confortável para os bancos" disse o diretor de uma grande instituição. "A relação do governo com os bancos foi tensa neste ano. Mas a ministra deu uma cutucada. E ela doeu."
Para outro alto executivo de banco, a ministra "não tinha que falar sobre juros". Ele contou que, em sua mesa, quando Gleisi começou a tocar no tema, houve apreensão. "Um colega do meu lado perguntou para outro se ele estava ouvindo. Ele riu e disse que não estava escutando nada." Para o presidente de um banco, a ministra "esqueceu" de oferecer contrapartidas para permitir a continuidade da queda dos juros. "Como reduzir ainda mais os juros com a quantidade de impostos que incidem sobre a intermediação financeira?", indagou. "Por que não reduzir ou acabar com o IOF, por exemplo?"
Em nota enviada ao Estado no início da noite de ontem, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, disse que a presença da ministra no jantar foi "um importante gesto de aproximação e convite para o diálogo, do qual não nos furtaremos". "Ela mencionou a importância dos bancos no desenvolvimento da economia e ressaltou que via com satisfação a evolução recente dos juros e spreads. Através de uma interação construtiva podemos contribuir para encontrar as soluções que tornem nosso sistema financeiro ainda mais eficiente, reduzindo ainda mais o custo da intermediação financeira."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.