Nuvem de quê?
Entenda o significado de algumas palavras que estão entrando na língua portuguesa pelas portas da informática:
- Embedar: quando você vê um vídeo do YouTube em outro site que não o YouTube, ele foi embedado (ou incorporado).
- Flash: linguagem de programação que serve para rodar vídeos e animações na internet.
- Geotag: é uma etiqueta digital que localiza onde uma foto foi tirada.
- Google: nosso querido Big Brother. Reinventou a web há dez anos, espalhou-se por todas as áreas do mundo digital e até virou verbo.
- HDMI: é a porta para entrada e saída de som e imagem em alta qualidade, comum em aparelhos mais novos.
- Hoax: é o bom e velho boato. Na web, eles ganham vida própria.
- HTML: linguagem de programação que inaugurou a web, ainda está presente na maioria dos sites.
- HUB: aparelho que conecta vários equipamentos entre si.
- Javascript: linguagem que reúne pequenos aplicativos dentro de um programa ou site.
- LCD: sigla em inglês para tela de cristal líquido, usada em tevês e monitores finos.
- LOL: sigla para "Laughing Out Loud", ou rindo bem alto. Equivale a dar uma gargalhada.
- Mashup: é o que acontece quando dois programas ou duas músicas se misturam num só.
- Nuvem: programas e dados podem ser guardados on-line, ou "na nuvem", como se diz.
- Old: sabe quando mandam um vídeo ou link que você já viu? Se quiser tirar sarro, é só responder: old.
- RSS: forma de acompanhar sites sem precisar entrar neles. As atualizações são reunidas no agregador, um leitor de RSS.
- SEO: sigla para "Search Engine Optimization" -- ações e truques que melhoram a posição de um site em um resultado de busca.
- Tag: ao pé da letra, é etiqueta. São termos que organizam o conteúdo na internet.
- Tumblr: é como se fosse um blog, mas com foco em republicar coisas legais que você viu on-line e é mais fácil de usar.
- URL: é o endereço do site, o que você escreve na barra do navegador.
- Viral: quando um vídeo, link ou foto parece que se espalha sozinho na web, ele virou um viral.
- Web 2.0: é a web social, que todos produzem. A 3.0 é a web semântica, nela, conteúdo de diferentes sites interagem entre si e com o usuário.
Cada mudança tecnológica apresenta novas palavras, abreviaturas e siglas. Termos que são criados para produtos e ideias que não existiam são importados junto das novidades e entram no vocabulário de quem lida diretamente com a área. Aos poucos, essas novas palavras são incorporadas ao português e vão se popularizando até passarem a fazer parte dos diálogos de quem não tem vínculo direto com os assuntos da tecnologia.O léxico, explica Maria Cristina Altman, coordenadora do Centro de Documentação em Historiografia Linguística da Universidade de São Paulo (USP), é a parte da língua que primeiro e mais visivelmente acompanha as mudanças do mundo. Se, agora, é do inglês a origem da maior parte das novas palavras, esse privilégio já foi do italiano no século 15, do tupi no século 16 (graças aos nomes de muitas plantas e animais) e das línguas europeias no século 19 principalmente do francês, responsável direto por aproximadamente 60% do nosso atual vocabulário, de acordo com Mario Eduardo Viaro, coordenador do grupo de pesquisa Morfologia Histórica do Português na USP. Quem já frequentou um restaurante ou comprou um abajur há de concordar com isso.
Trânsito
O trânsito de palavras entre línguas é um processo constante, natural e inevitável. Na opinião de Viaro, esse fluxo não é uma ameaça ao português. "As palavras não têm dono. O acúmulo de estrangeirismos se deve ao maior contato que temos hoje entre os povos." Mas o que determina a forma como uma palavra será incorporada ao vocabulário? Usaremos o termo tal como veio do inglês como em cheddar e brownie? Vamos aportuguesá-lo como caubói e bangue-bangue? Ou o substituiremos por um equivalente em português chuveiro, tradução livre de shower? Não dá para saber, diz Maria Cristina. É o uso cotidiano da língua que vai determinar.
A linguista explica que a utilização de determinada palavra em propagandas, espetáculos de entretenimento ou por grandes personalidades da mídia e da academia podem contribuir e muito para o sucesso do termo, mas isso também não é uma garantia.
Como se diz?
A única regra obrigatória é a adaptação da pronúncia. A primeira coisa que fazemos com uma palavra recém chegada é colocá-la dentro do nosso sistema fonético. Ou você já ouviu alguém falar hambúrguer começando com som de r e torcendo a língua no fim, como manda o inglês? Se ouviu, com certeza achou estranho.
Uma vez adaptada e integrada ao português, toda palavra estrangeira passa a funcionar como qualquer outra da nossa língua. "Aí a vida é livre", diz Maria Cristina. Podemos fazer com ela o que quisermos: colocar sufixos, criar um aumentativo, diminutivo, transformar em adjetivo. Surf chegou como "sârf" e hoje é surfe mesmo. Daí, criamos o surfar, o surfista e a surfistinha. O delete já virou deletar e daí para o deletador aparecer é só alguém sair deletando por aí fazendo a palavra se tornar necessária. Algumas palavras se cristalizam de tal forma que perdem totalmente o vínculo com sua motivação original; disk-pizza é um ótimo exemplo: ninguém mais disca nada para acionar o delivery.
Os dois pesquisadores concordam que não é necessário temer o empobrecimento do português ou a perda de identidade nacional. A língua é um processo dinâmico e muda com o mundo. Precisa mudar. Adota-se uma palavra estrangeira toda vez que não existe uma em nosso idioma pátrio que expresse determinada ideia tão bem. Foi assim com football, que aportuguesado ficou futebol e não ludopédio, como linguistas defensores da pureza do português já propuseram em uma das várias tentativas frustradas de domar o que é naturalmente falado por nós.
E por que não existir mais de uma palavra para falar de uma única coisa? Se você baixa um arquivo, eu posso querer fazer um download. Ele me manda um e-mail e eu recebo um correio eletrônico. O governo tem um sítio, o jornal tem site. É um processo natural e imprevisível. Não importa que esteja escrito hot dog no cardápio (ou menu, vai do gosto do freguês). O que se pede é sempre um bom "róti dógui".
Como explica Viaro, "adotamos a expressividade do estrangeirismo mais do que a palavra. Nem tudo é necessidade. É preciso também poesia".
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