Após uma reunião que durou mais de nove horas, sindicalistas e representantes da General Motors chegaram na noite deste ssábado a um acordo que deve evitar demissões em massa no complexo da montadora em São José dos Campos (SP), mas vai resultar no afastamento temporário de 940 operários. O acordo também prevê um PDV (Plano de Demissão Voluntária) para todos os operários que trabalham no complexo da montadora.
Também pelo acordo, a GM anunciou que deve continuar a produzir o modelo Classic, na linha da MVA (Montagem de Veículos Automotores) de São José dos Campos, que corria o risco de ser fechada.
Segundo os termos do acordo, o afastamento dos 940 operários será em regime de lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho), e deve durar até novembro, um total de três meses e dez dias. Nesse período, esses operários vão receber bolsa do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e apenas parte do salário será pago pela montadora. Logo após a reunião, o acordo foi anunciado pelo Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região) como sendo positivo para os trabalhadores.
Segundo o sindicato, 1.840 operários corriam o risco de serem demitidos caso a produção do Classic, único modelo fabricado na MVA fosse interrompida, e a unidade, fechada.
Segundo o Sindmetal, as propostas serão apresentadas para os operários na terça-feira e devem ser votadas em assembleia. Caso aprovadas, o período de lay-off deve começar no mesmo dia. O sindicato também afirma que nos próximos 70 dias, outros pontos devem ser negociados com a montadora.
O acordo foi anunciado pelo secretário nacional de Relações do Trabalho, Manoel Messias Nascimento Melo, após um reunião que durou mais de nove horas e que contou com a presença de diretores da montadora, representantes do Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região) e o prefeito da cidade, Eduardo Cury (PSDB).
Risco de demissões
O temor com possíveis demissões ronda a unidade há meses, mas a tensão entre os trabalhadores e a montadora chegou ao auge em julho, quando diversos modelos pararam de ser fabricados na unidade. Até o mês passado, quatro modelos diferentes (Corsa, Zafira, Meriva e Classic) eram fabricados na unidade. Restou apenas um, o Classic, que vinha tendo sua produção reduzida.
No dia 24 de julho, a unidade amanheceu fechada e isolada. A montadora alegou que dispensou todos os funcionários temendo possíveis mobilizações dentro da unidade. Na quinta-feira, os trabalhadores da unidade fizeram uma manifestação e bloquearam os dois sentidos da Via Dutra, num trecho próximo à sede da empresa. Sem tolerância
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que não vai tolerar o descumprimento dos acordos de não demissão nos setores beneficiados pela redução do IPI. Por meio da sua assessoria, ele afirmou que demissões serão interpretadas como descumprimento do acordo. Apesar do tom genérico, a declaração foi uma reação ao caso da GM. A assessoria de do Ministério da Fazenda não disse, no entanto, quais seriam as consequências do não cumprimento da acordo. A redução do IPI para o setor automotivo vale a até 31 de agosto. Um das possibilidade é o governo não prorrogar o benefício.
A declaração de Mantega destoa do tom que manteve na reunião da última terça-feira com o diretor de Relações Institucionais da GM, Luiz Moan. Na ocasião, o ministro saiu da reunião dizendo estar "satisfeito" sob o ponto de vista do acordo de não demitir, já que havia um saldo positivo de geração de empregos no setor e, especificamente, na GM. Naquele momento, Moan disse que o caso de São José dos Campos era pontual, provocado pela realocação de investimentos produtivos. "Temos esse problema em uma das fábricas e o pessoal foi admitido em outras unidades fabris", disse.
Moan informou ainda que foram abertas 1.848 vagas nas fábricas da GM entre 2008 e junho de 2012, e que esse número crescerá para 2.063 vagas até dezembro. O diretor não deu dados específicos para este ano.
O sindicato dos metalúrgicos de São José de Campos, porém, diz que a GM fechou 1.212 vagas nas suas três fábricas no Brasil entre agosto de 2011 e junho deste ano.