A General Motors pediu proteção judicial contra falência nesta segunda-feira (1º), empurrando a montadora centenária, que já foi considerada como símbolo da força e dinamismo econômico norte-americano, para uma nova e incerta era de controle estatal.
O pedido de proteção contra falência é o terceiro maior da história dos Estados Unidos e o maior já feito pela indústria manufatureira do país.
Sem termos dos ativos de 82 bilhões de dólares listados pela companhia até o final de março, a concordata da GM só fica atrás dos colapsos do banco de investimento Lehman Brothers e da companhia de telecomunicações WorldCom.
A decisão de forçar a GM em direção a um rápido processo de concordata, e fornecer 30 bilhões de dólares em fundos adicionais dos contribuintes para reestruturar a montadora, é uma aposta grande e arriscada da governo de Barack Obama.
Mas em um sinal de progresso no esforço do governo, um juiz de falências aprovou a venda de praticamente todos os ativos da Chrysler para um grupo liderado pela italiana Fiat.
A recuperação judicial da Chrysler, também financiada pelo Tesouro norte-americano, era vista como um teste para uma reorganização da GM, que é muito maior e complexa que a da rival.
O plano da GM prevê um rápido processo de venda que permitirá que uma GM muito menor saia da recuperação judicial dentro de 60 a 90 dias.
"Agora a parte difícil começa, que é tornar a GM e a Chrysler competitivas. Se eles não fizerem isso, então teremos de fazer tudo isso de novo em alguns anos", disse Christopher Richter, analista do setor automotivo da CLSA Asia-Pacific Markets, em Tóquio.
"A implicação imediata é que as companhias ficarão menores e a fatia de mercado estará disponível para ser tomada, o que significa que concorrentes como Toyota, Honda, Nissan e Hyundai ganharão participação".
Procurada, a GM no Brasil informou por sua assessoria de imprensa que o pedido de proteção judicial da matriz não afeta as operações no país. O presidente da filial brasileira, Jaime Ardila, concederá entrevista à imprensa na terça-feira para "comentar o estado dos negócios da empresa no país".
Linha vital
Desde o começo do ano, a GM tem sido mantida por fundos do governo dos Estados Unidos, conforme a força tarefa apontada pela Casa Branca avaliava planos de reestruturação envolvendo 50 bilhões de dólares em financiamento federal.
Assumindo uma fatia de 60 por cento na GM reorganizada, o governo de Obama está apostando que a montadora poderá competir com rivais como a Toyota, após sua dívida ter sido reduzida pela metade e os custos trabalhistas terem sido cortados em um novo contrato aceito pela central sindical United Auto Workers.
Os governos do Canadá e da província de Ontario decidiram fornecer outros 9,5 bilhões de dólares à GM em uma adição tardia aos planos de concordata.
A montadora planeja fechar 11 fábricas nos Estados Unidos e desativar outras três unidades. A GM ainda não forneceu uma meta atualizada sobre a redução dos postos de trabalho, mas pretende cortar 21 mil vagas entre os 54 mil trabalhadores sindicalizados pela UAW que emprega no país.
A UAW terá uma participação de 17,5 por cento na "nova GM". O governo canadense, por sua vez, receberá uma fatia de 12 por cento, enquanto os detentores de bônus da GM terão 10 por cento.
Investidores relutantes
Autoridades envolvidas nos planos afirmaram que a Casa Branca é um "investidor relutante" na GM, mas tem que evitar uma liquidação que, segundo analistas, custaria dezenas de milhares de empregos em um momento no qual a economia dos EUA está imersa em recessão.
A montadora sozinha emprega 92 mil pessoas nos Estados Unidos e é indiretamente responsável por 500 mil aposentados.
"Nós queremos uma saída rápida e limpa (da concordata) assim que as condições permitirem", afirmou o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, a estudantes na Peking University, em Pequim. "Nós estamos muito otimistas de que essas companhias deixarão a concordata sem mais assistência do governo."
O presidente Barack Obama deve discursar brevemente sobre a indústria automotiva às 11h (horário de Brasília) desta segunda-feira. Mais cedo, ele afirmou que a Chrysler se fortalecerá após a aprovação da venda de seus ativos para o grupo de investidores liderado pela Fiat.
Autoridades dos EUA acrescentaram que não há planos de fornecer nenhum novo financiamento à GM e insistiram que todas as três montadoras de Detroit podem sobreviver. A Ford Motor nao buscou ajuda emergencial junto a Washington.
No caso da GM, a meta de reestruturação é permitir que a montadora retorne à lucratividade caso as vendas no setor automotivo nacional se recuperem mesmo que levemente, para quase 10 milhões de unidades anualmente.
Até agora, para parar de perder dinheiro, a GM conta que a indústria norte-americana alcançará a marca de 16 milhões de veículos vista pela última vez em 2007, afirmaram autoridades.
Mesmo que a GM e a Chrysler saiam rapidamente da concordata, a força tarefa permanecerá em atividade.
Fundada em 1908, a GM chegou a dominar o setor automotivo global e dos Estados Unidos durante a administração do presidente-executivo Alfred Sloan. Até meados de 1950, no auge do seu sucesso, a GM tinha cerca de 514 mil empregados e respondia por cerca de metade da produção de carros dos Estados Unidos.