A General Motors, montadora dona da marca Chevrolet e líder em vendas no Brasil, estaria em busca de incentivos do governo e de renegociação com fornecedores e revendedores para um novo plano de investimentos da ordem de R$ 10 bilhões – valor muito próximos aos R$ 13 bilhões aplicados nos últimos cinco anos. Enquanto “chora” incentivos e descontos, a GM também tem tentado pressionar funcionários a aceitar mais de 20 medidas como redução do piso, terceirização e licença não remunerada.
O valor do novo plano foi citado por sindicalistas que têm de explicar aos trabalhadores as razões de novos “sacrifícios” pedidos pela GM. Entre eles, estão redução do piso salarial e da participação nos resultados, terceirização em todas as áreas e aumento da jornada de trabalho. Nem a empresa nem pessoas que participam das negociações confirmam oficialmente o valor do novo investimento.
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O prefeito de São Caetano do Sul (SP), José Auricchio Júnior, afirma apenas que “o novo ciclo representará garantia de, pelo menos, mais dez anos de funcionamento da planta na região”. Segundo a secretaria municipal de Fazenda do município, dados preliminares indicam que, do repasse total de ICMS recebido no ano passado, 24% (R$ 80 milhões) foram de responsabilidade direta ou indireta da GM. Em relação ao ISS, a montadora recolheu R$ 6,5 milhões, 3% do total arrecado por São Caetano do Sul.
Em São José dos Campos, onde a GM é a terceira maior empresa – atrás da Revap e da Embraer –, o secretário de Inovação e Desenvolvimento Econômico, Alberto Marques Filho, diz que “a empresa tem intenção de produzir novos veículos em 2023 e, para isso, teria de fazer investimentos para preparar as linhas a partir deste ano”.
Segundo Marques, o município se dispõe a suspender a cobrança de ISS e IPTU da GM, “mas primeiro queremos saber que investimento será destinado à cidade para então avaliarmos prazos e se a renúncia será total ou parcial”.
Do governo do estado de São Paulo, a GM espera receber créditos acumulados de ICMS, retidos há quatro anos. O imposto é pago pelas empresas nas exportações e deveria ser devolvido em forma de crédito a ser descontado de outros impostos. Só as montadoras têm mais de R$ 5 bilhões retidos, dizem fontes do setor. No ano passado, a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo informou que tinha um calendário para a devolução que iria até 2020. Em 2018, seriam devolvidos R$ 1,2 bilhão às montadoras. Na sexta-feira (25), o órgão disse que devolveu no ano passado R$ 770 milhões e não informou quando vai liberar os outros R$ 430 milhões.
A montadora também está em negociação com os governos estaduais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Além das plantas de São José dos Campos e de São Caetano do Sul, em São Paulo, a GM também tem fábrica em Gravataí (RS) e duas de autopeças em Mogi das Cruzes (SP) e Joinville (SC).
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A discussão sobre os rumos da montadora começou no dia 18, quando o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, enviou carta aos funcionários dizendo que a situação do grupo depende da volta, ainda este ano, da lucratividade da operação, que está negativa desde 2016.
Na carta, ele reproduz texto em que a presidente mundial da companhia, Mary Barra, demonstra estar insatisfeita com os resultados da América do Sul (Brasil e Argentina). “Não vamos continuar investindo para perder dinheiro”, disse ela. Zarlenga disse que um plano para viabilizar investimentos na região foi entregue à matriz. “Do sucesso desse plano dependem os investimentos da GM e o nosso futuro.”
Na terça-feira (29), será a vez de encontro com fornecedores, de quem Zarlenga espera redução de preços. Dos concessionários já teria obtido corte de 1 ponto porcentual da comissão das vendas.
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Sindicatos dizem que funcionários já fizeram sacrifícios demais
O Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul realiza nesta terça (29) assembleia com os 7,7 mil trabalhadores da fábrica da GM. Pouco mais da metade deles, todos da área produtiva, estava em férias coletivas desde 23 de dezembro e retorna nesta segunda-feira. Segundo o presidente do sindicato, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, as férias foram para preparar a fábrica para a produção de novos veículos.
“Será uma assembleia para informar o que a empresa está propondo”, diz Cidão, que na semana passada participou de duas reuniões com a montadora. Ele não adianta as propostas da empresa, mas diz que os funcionários já contribuíram muito no acordo fechado em 2017, quando a empresa também ameaçava sair da cidade. A unidade produz os modelos Onix Joy (antigo), Spin, Cobalt e Montana.
“Não vamos aceitar mais flexibilização do que já fizemos”, diz Cidão. Pelo acordo anterior houve, por exemplo, redução do piso salarial, do adicional noturno e suspensão de reajustes pelo INPC.
A maioria desses itens consta também da proposta entregue pela GM ao Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos na semana passada. O vice-presidente da entidade, Renato Almeida, também afirma que os cerca de 6 mil trabalhadores já fizeram sacrifícios em troca de promessas não cumpridas.
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Ele cita um investimento de R$ 2,5 bilhões e a produção de novos veículos prometida há quatro anos e que não se concretizou. É a fábrica do grupo com maior ociosidade desde que a produção de carros menores foi desativada, em 2013.
Em Gravataí (RS) situação não está muito diferente, segundo informações do Jornal do Comércio . Por lá, a GM também propôs mudanças no acordo coletivo, num total de 21 medidas. A fábrica tem 2,6 mil empregados, mas acaba por gerar 6 mil vagas no total se considerada também a cadeia de fornecedores. Assim como no caso de São Caetano do Sul, os funcionários de Gravataí já tinham um acordo em vigor, de 2017 a 2019. Esse acordo foi firmado em 2017 em razão da terceira ampliação da planta de Gravataí, que, também segundo informações do Jornal do Comércio, é a que tem a maior capacidade de produção instalada da GM hoje no país.
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