A uma semana de divulgar o resultado do primeiro trimestre, a Gol anunciou uma ampla operação para renegociar a maior parte de sua dívida, que no fim do ano passado somava R$ 17 bilhões. No esforço está um pacote de propostas a detentores de debêntures (títulos de dívida) que totalizam R$ 1,05 bilhão — quase integralmente nas mãos de Bradesco e Banco do Brasil — uma troca de até US$ 780 milhões em bônus sem garantias nos Estados Unidos, além de reduções de garantias em empréstimo com a Delta Airlines e revisão de contratos com a Boeing.
O programa de reestruturação é visto por especialistas como uma alternativa para evitar a recuperação judicial. Com isso, as ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo fecharam em alta de 28,46%, a R$ 3,25. Nos Estados Unidos, seus recibos de ação (ADRs) subiram 28,69%, a US$ 9,06. Por outro lado, os especialistas lembram que a companhia precisa encontrar um modelo para gerar caixa e que seja capaz de atrair novos investidores.
No caso das debêntures, a proposta da Gol é prorrogar o pagamento de 90% do valor do principal (o que deve ser pago excluindo os juros) que venceria este ano ou em 2017 para 2018 a 2020. A companhia pede ainda uma renúncia, o chamado waiver, para quitar obrigações financeiras pelo período de um ano, além de um empréstimo de R$ 380 milhões num prazo de dois anos. Esta negociação, se concluída, “iria reduzir, até 2018, o pagamento de principal pela companhia no valor de R$ 225 milhões”, informou a Gol.
Um dia antes, a empresa anunciara uma operação para trocar um valor de até US$ 780 milhões em bônus sem garantias nos Estados Unidos com redução entre 30% e 65% no valor de face dependendo do título. Caso essa operação seja bem sucedida, a Delta — com 9,48% do capital da Gol — concordou em reduzir as garantias (lastreadas em ações da subsidiária Smiles) de um empréstimo entre a aérea e investidores em 2015 de US$ 300 milhões. Em fevereiro, a Gol já anunciara acordo com a Smiles para a venda antecipada de passagens para injetar R$ 1 bilhão na companhia. A Gol fez acertos com a Boeing, com quem tem encomenda de 124 aviões até 2027. Haverá redução da frota e adiamento de entregas previstas, suspensas até meados de 2018.
“A reestruturação visa a evitar a recuperação judicial, que é um risco iminente. Mas é preciso saber se os credores vão aceitar. O fato é que a Gol precisa de uma injeção de capital e de um plano para gerar receita. A reestruturação é uma boa notícia, mas não resolve o problema, pois o que a companhia apresentou são medidas paliativas”, disse Adeodato Volpi Netto, da Eleven Financial Research.
Dívida em dólar
A Gol é a segunda maior empresa aérea no mercado doméstico, atrás da TAM, com 32,6% de participação, de acordo com dados de março da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Segundo Cleveland Prates, especialista em regulação e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a Gol está tentando se manter no mercado:
“O programa envolve ainda a redução de custos, com a redução da quantidade de aeronaves. A liberação do mercado para o capital estrangeiro pode ainda ajudar a companhia, que precisa de injeção de recursos.”
Hoje, 90% da receita da empresa são em reais e 86% de sua dívida são em moeda estrangeira. “Não vejo a renegociação de dívida da companhia como uma “recuperação branda”. Ela tem caixa, mas nas condições atuais, vai queimar esses recursos numa velocidade absurda”, conta uma fonte do setor.
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