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Experimento ou provocação?

Novo celular do Google é um pedaço de papel que não faz ligações telefônicas

paper phone google
Paper Phone Google (Foto: Divulgação.)

Não dá para tirar uma selfie, nem fazer ligações. O Google Paper, novo smartphone do Google, é apenas um pedaço de papel dobrável, com algumas informações impressas. Um pequeno corte feito com tesoura pode transformá-lo em um porta cartões.

Funciona assim: o usuário escolhe quais funções de seu smartphone precisará ao longo do dia - a agenda com os compromissos, números de telefones para ligar, o QR de uma passagem aérea, o sudoku para passar o tempo, por exemplo - e manda imprimi-las. A folha de papel pode ser dobrada e guardada no bolso. A empresa garante uma experiência sem distrações.

O Paper Phone não é um telefone físico, mas um aplicativo para Android disponível no Google Play.

O Paper Phone (telefone de papel) faz parte de um experimento de "detox digital" da empresa e foi anunciado na mesma semana em que Google lançou seu último smartphone, o Pixel 4, vendido a U$ 800. O celular tem tecnologia de radar que permite que o usuário o controle com os movimentos das mãos.

O Paper Phone é a mais recente tentativa da empresa de chamar a atenção do público cansado da presença cada vez maior da tecnologia em nossas vidas, com a sensação de ser escravo do telefone.

Os defensores do bem-estar sugerem deixar o celular em outros cômodos enquanto dormimos. Há também o movimento "No-Tech Sundays" (Domingos sem tecnologia) para quem quer ficar um dia inteiro desconectado. Resorts, startups e gurus do bem-estar faturam com viagens e eventos detox.

"Esperamos que esses experimentos inspirem desenvolvedores e designers a manter no topo das prioridades o bem-estar digital ao projetarem novas tecnologias", afirma Emma Turpin, do laboratório criativo do Google.

Alguns dos movimentos que pregam a desconexão se baseiam em pesquisas sobre os efeitos da tecnologia na saúde. A Organização Mundial de Saúde divulgou novas orientações para os pais após pesquisas mostrarem que crianças que passam horas na frente da tela apresentam problemas de comportamento e desenvolvimento. Outros estudos identificaram conexões entre o uso do smartphone e a ansiedade.

Tanya Goodin, uma evangelista do bem-estar digital, comparou o projeto do Google às grandes empresas de tabaco que ofereceram a seus consumidores, preocupados com a saúde, cigarros com baixo teor de alcatrão para mantê-los como clientes.

"Ao invés de criar brinquedos para crianças, eles têm que olhar seriamente ao fato que somos ratos nesse grande experimento do Vale do Silício", diz Goodin. "O fato que não podemos nos libertar da tecnologia vem exatamente por causa das coisas que essas companhias têm feito por anos"

O ex-consultor de ética do Google, Tristan Harris, lançou uma empresa de tecnologia ética chamada Time Well Spent (Tempo Bem Gasto), mais conhecida agora como Centro para a tecnologia Humana. Harris argumenta que a indústria tecnológica está comprometida em uma "corrida até a essência do cérebro" e que a tecnologia deveria realçar e não ameaçar a humanidade. O conceito "tempo bem gasto" tem sido amplamente citado por executivos do Vale do Silício, incluindo o Ceo de Facebook, Mark Zuckerberg.

Zuckerberg contou num evento na última sexta-feira que pediu ao seu time para otimizar as interações significativas entre os usuários da plataforma, ao invés de maximizar o tempo gasto nela.

O Paper Phone não é a primeira tentativa de Google de usar produtos de papel para explorar o mundo digital. Em 2014, a companhia introduziu o Google Cardboard, uma maneira de ver aplicativos de realidade virtual no smartphone. O Google disse ter enviado 5 milhões de óculos de papelão em 19 meses.

Anthony Ramirez, pesquisador da Biblioteca Pública de Chicago, tuitou sua aprovação à iniciativa do Google. "Eu sou a favor do minimalismo e isso é fantástico. Parece um projeto artístico que vai na direção correta", disse.

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