Temer e Padilha: convencer parlamentares a mexer na Previdência será mais difícil que aprovar o teto de gastos.| Foto: Lula Marques/Agência PT

O governo tenta combater com números – e algum “terror”, segundo a oposição – a ofensiva de parlamentares que apresentam emendas para aliviar as novas regras de aposentadoria, que estão sob análise de uma comissão especial da Câmara dos Deputados.

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Algumas das mudanças sugeridas por deputados da oposição e da própria situação têm o potencial de reduzir ou quase anular os ganhos que a reforma da Previdência pode trazer aos cofres públicos. Mesmo alinhado ao Planalto, o relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) na Câmara, Arthur Maia (PPS-BA), também pretende suavizar alguns pontos do projeto.

Saiba mais: Conheça as propostas que buscam suavizar a reforma da Previdência

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Em dezembro, o secretário da Previdência, Marcelo Caetano, disse que a proposta traria uma economia de R$ 678 bilhões em dez anos para os cofres públicos. Cada alteração que facilite o acesso à aposentadoria ou melhore o valor do benefício vai reduzir esse ganho.

Arthur Maia pretende concluir seu relatório em 20 de março, mas tem dito que “já será um grande negócio” se a comissão aprovar o projeto até o fim de abril. O Planalto ainda sonha em ver a reforma aprovada neste semestre.

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A batalha tende a ser mais difícil que votações anteriores, como a da PEC do teto de gastos. Os parlamentares sabem, afinal, que o impacto negativo das novas regras sobre os trabalhadores – e eleitores – será grande e imediato, ao passo que o efeito positivo sobre as contas do governo e a economia do país vai demorar anos para aparecer.

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O governo, estrategicamente, não divulga a perda que cada emenda pode causar. O que mais tem feito é repetir, com ênfase crescente, os números que atestam a inviabilidade do sistema no médio e longo prazo e que só a manutenção do texto original assegura a sustentabilidade da Previdência. Caso contrário, alega, uma nova reforma terá de ser feita daqui dois ou três anos.

Mas há uma novidade no discurso. Dias atrás o Planalto passou a dizer que, mesmo aprovando tudo o que foi proposto, o Congresso provavelmente terá de voltar ao assunto daqui a uma década. Segundo o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, a reforma vai estabilizar o déficit da Previdência em cerca de R$ 280 bilhões. Mas o ideal, diz, seria torná-la superavitária.

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“Nós vamos conviver com um déficit de R$ 280 bilhões para sempre?”, questionou, sugerindo em seguida a necessidade de uma revisão daqui a dez anos. A ideia dele é buscar “uma nova fonte de financiamento” para o sistema.

Estudos de analistas do setor privado reforçam os alertas do governo. Um dos mais recentes, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), estima que, se a reforma em estudo não passar, a economia brasileira terá de crescer 3,7% ao ano até 2050 – algo improvável – apenas para manter o déficit previdenciário nos níveis atuais, perto de 2% do PIB.

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Para a oposição, o governo Temer recorre ao “terror” e faz “propaganda enganosa” para aprovar a reforma. O PSOL, por exemplo, anunciou que vai à Justiça contra a campanha publicitária que afirma que “as mudanças são necessárias para que os benefícios continuem a ser pagos”.

R$ 305 BILHÕES

foi o déficit conjunto do INSS e dos regimes de previdência dos servidores públicos federais, estaduais e municipais em 2016, segundo dados do Ministério do Planejamento. O rombo, resultado do rápido crescimento do número de aposentados e da recessão prolongada, que diminui o total de contribuintes, é um dos tantos que serão usados pelo governo para tentar aprovar a reforma.

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Munição da “contrarreforma” tem apelo popular e vai testar coesão do governo

A missão da equipe econômica e dos analistas que defendem a reforma da Previdência não é trivial. Para convencer parlamentares e a opinião pública, o front reformista ataca com a frieza dos dados e projeções. Expõe constatações desagradáveis para a maioria, como o fato de que alguém com 50 e poucos anos é jovem para se aposentar. E faz alertas que soam alarmistas: se nada for feito, em algum momento faltará dinheiro para pagar os benefícios.

Na trincheira oposta, o batalhão da “contrarreforma” usa munição de forte apelo popular. Diz que o déficit da Previdência “não existe”, que se aposentar aos 65 é “trabalhar até morrer”, que a idade mínima vai prejudicar os mais pobres, que cobrar os devedores do INSS já resolve o problema. Se os números mostram que não é bem assim, é porque foram manipulados para enriquecer banqueiros e rentistas. Há quem lembre que, por ter se aposentado aos 55, Michel Temer não tem condições de exigir nada além disso.

É um discurso capaz de arregimentar com alguma facilidade parlamentares que pensam em se reeleger no ano que vem. Por isso, a reforma da Previdência será a verdadeira prova de fogo da coesão da base governista. Não há como comparar com a aprovação folgada do teto dos gastos públicos, coisa que afeta a população de forma difusa – e não direta, como mexer nas aposentadorias e pensões.

Os desafios do sistema são conhecidos há tempos e repetidos à exaustão por técnicos do setor público e analistas da iniciativa privada. Tanto que governos do PSDB e do PT já tiveram de enfrentar o tema. Lá atrás, na reforma de 1998, Fernando Henrique Cardoso tentou emplacar uma idade mínima de aposentadoria, sem sucesso. No começo do ano passado, nos estertores do governo Dilma Rousseff, a necessidade desse requisito voltou a ser ressaltada pelo último ministro da Fazenda da petista, Nelson Barbosa, para quem a reforma da Previdência era a mais urgente das reestruturações.

Sempre haverá quem diga que está tudo bem e não há por que mexer nas regras. A questão é como Temer vai convencer a maioria do contrário.

R$ 305 BILHÕES

foi o déficit conjunto do INSS e dos regimes de previdência dos servidores públicos federais, estaduais e municipais em 2016, segundo dados do Ministério do Planejamento. O rombo, resultado do rápido crescimento do número de aposentados e da recessão prolongada, que diminui o total de contribuintes, é um dos tantos que serão usados pelo governo para tentar aprovar a reforma.