OPINIÃO - O subsídio continua, e faz mal. Depois não adianta reclamar
Fernando Jasper, repórter de Economia
Poucos acreditam quando o jornalista diz que o preço da gasolina estava defasado. Mas estava - e continuará defasado. Que fique claro: estou falando do valor lá na refinaria da Petrobras. Aquilo que o posto da sua esquina está cobrando desde o feriadão de Finados é outra história.
Antes do reajuste de ontem, o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estimava que o preço nas refinarias brasileiras estava 13% abaixo do valor internacional, sem contar os impostos. Isso significa que a Petrobras levava prejuízo ao importar quantidades crescentes de combustível para atender à demanda nacional. E continuará levando, porque o reajuste autorizado por Dilma Rousseff - preocupadíssima com a inflação -- cobre só metade do rombo.
Segundo cálculo do jornal Valor Econômico, a estatal vinha perdendo R$ 1,8 bilhão por mês nessas operações. Problema dela, dirá o leitor. Pode ser. Mas tenha em mente que, ao queimar dinheiro com subsídios, a Petrobras tem menos recursos para investir no pré-sal (que está atrasado) e na produção local de gasolina (que hoje não supre a demanda).
Pior: o preço artificial da gasolina asfixia a indústria de etanol, que não é perfeita, mas é bem menos agressiva ao meio ambiente. Mantido o círculo vicioso, ficaremos cada vez mais dependentes da importação de combustíveis, "viciados em petróleo", como diria um ex-presidente dos EUA. Depois não adianta reclamar.
Consultoria calcula alta de 4,2% da gasolina no posto
Agência Estado
O economista e sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen, afirmou que o aumento da gasolina, de 6,6% na refinaria, anunciado nesta terça-feira (29) pela Petrobras, será equivalente a uma elevação de 4,2% na bomba dos postos.
A Petrobras anunciou alta do preço da gasolina de 6,6% na refinaria e do diesel em 5,4% a partir de quarta-feira (30), em um movimento amplamente esperado pelo mercado diante da defasagem dos valores dos combustíveis no país em relação às cotações internacionais.O reajuste provavelmente não eliminará a defasagem, mas dará fôlego para a Petrobras desenvolver seu bilionário plano de investimentos."Esse reajuste foi definido levando em consideração a política de preços da companhia, que busca alinhar o preço dos derivados aos valores praticados no mercado internacional em uma perspectiva de médio e longo prazo", afirmou a estatal em comunicado nesta terça-feira (29).
A defasagem dos valores dos combustíveis foi um dos fatores que prejudicou os resultados da Petrobras em 2012 - entre abril e junho passado, a empresa teve o primeiro prejuízo trimestral em mais de 13 anos.
Ao longo de boa parte de 2012, a defasagem da gasolina da Petrobras vendida nas refinarias na comparação com o mercado norte-americano, uma referência internacional, esteve acima de 20%, com o governo - controlador da empresa - temendo o impacto de um aumento do combustível na inflação.
Em aumentos dos combustíveis em 2011 e 2012, o governo compensou a alta com redução de taxas, o que não será mais possível, uma vez que a Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) está zerada para o diesel e a gasolina.
Os reajustes deverão ser repassados aos consumidores e, ainda que não integralmente, deverão ter impacto na inflação.
"O impacto na bomba é menor, é amortecido pela mistura de biocombustíveis, no caso da gasolina, o álcool, e no caso do diesel, o biodiesel", afirmou à Reuters o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alisio Vaz.
A gasolina recebe atualmente uma mistura de 20% de etanol, enquanto a do biodiesel no diesel é de 5%.
Vaz disse ainda que o impacto do aumento pode ser amenizado por eventuais mudanças nas margens de distribuição e comercialização de cada distribuidora.
Segundo ele, cada distribuidora pode mexer em sua margem para repassar esse valor em um percentual maior ou menor, e por isso é difícil calcular qual será o nível de repasse de preço.
"Um aumento de reajuste na refinaria normalmente não chega nos mesmos percentuais aos postos. Normalmente, são ligeiramente inferiores", afirmou ele.
O Banco Central (BC) estimou na semana passada que os preços da gasolina subiriam cerca de 5% neste ano ao consumidor final. Ao mesmo tempo, o BC espera que os preços das tarifas residenciais de energia elétrica caíam ao redor de 11%.
"O governo promoveu uma transfusão de sangue da Eletrobras para a Petrobras, baixando os preços da energia para promover um aumento da gasolina", disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, que prevê impacto na bomba de 4% para a gasolina, aproximadamente.
O BC tem mostrado cada vez mais preocupação em 2013 com a inflação, que continua pressionada e pode colocar em xeque a atual política monetária de manutenção, por vários meses, da taxa básica de juro Selic na mínima histórica de 7,25% ao ano.
Segundo Pires, os percentuais de reajuste dos combustíveis e a data do anúncio vieram dentro do esperado. Isso porque, segundo ele, o balanço da estatal do quarto trimestre de 2012 não é muito promissor.
"É para dar uma alegria ao mercado, antecipando um resultado do quarto trimestre fraco na próxima segunda-feira."
O aumento da gasolina e do diesel deverá provocar uma geração de caixa mensal de R$ 600 milhões a R$ 650 milhões por mês para a Petrobras, segundo cálculo do CBIE.
Etanol
Se o etanol amortece um pouco a alta no preço da gasolina, o aumento do combustível fóssil também abre caminho para usinas de cana elevarem os valores do biocombustível.
O governo não havia anunciado até a noite de terça-feira nenhuma medida compensatória ao setor sucroalcooleiro na tentativa de evitar uma alta do preço do etanol na esteira do aumento da gasolina.
O preço da gasolina tem atuado, nos últimos anos, como um teto para o valor do etanol.
De acordo com a estatal, os preços da gasolina e do diesel, sobre os quais incide o reajuste anunciado, não incluem os tributos federais Cide e PIS/Cofins e o tributo estadual ICMS.
Situação em Curitiba
No dia 16 de janeiro, o presidente do Sindicombustíveis, Roberto Fregonese, disse à Gazeta do Povo que, se o preço subisse 7% na refinaria, subiria em torno de R$ 0,19 por litro na bomba em Curitiba.
Segundo a pesquisa mais recente da ANP, na semana passada o preço médio da gasolina em Curitiba era de R$ 2,82 por litro, variando de R$ 2,70 a R$ 3,28. Na verdade, entre os 94 postos pesquisados pela agência, apenas um cobrava mais de R$ 2,90 um estabelecimento com bandeira da Cosan que fica na Rua Professor João Soares Barcelos, 3716, no bairro Boqueirão, e estava cobrando R$ 3,28.
Como o preço médio cobrado pelas distribuidoras aos postos era de R$ 2,39, a chamada "margem de revenda" dos estabelecimentos de Curitiba era de R$ 0,43 por litro. Esse lucro refere-se apenas à diferença entre o que o posto paga à distribuidora e o que cobra dos clientes não inclui, portanto, receitas com outros produtos e despesas com aluguel, funcionários e outros.
Veja a nota da Petrobras na íntegra
"A Petrobras informa o reajuste nos preços de venda nas refinarias dos derivados abaixo, a vigorar a partir da meia noite de 30 de janeiro de 2013:
Produtos - Reajuste (*)
Gasolina A - 6,6%
Diesel - 5,4%
(*) média Brasil
Os preços da gasolina e do diesel, sobre os quais incide o reajuste anunciado, não incluem os tributos federais CIDE e PIS/Cofins e o tributo estadual ICMS.
Esse reajuste foi definido levando em consideração a política de preços da Companhia, que busca alinhar o preço dos derivados aos valores praticados no mercado internacional em uma perspectiva de médio e longo prazo"
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