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Pressionado pelo setor empresarial, o governo enviou ao Congresso projeto para alterar um dispositivo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que trava o lançamento do novo programa de redução de jornada e salário ou suspensão de contrato de trabalhadores. Segundo o governo, o projeto também vai destravar a nova rodada do Pronampe, programa de crédito voltado a pequenas empresas.
Com a adoção de medidas restritivas em estados e municípios para tentar conter o avanço da covid-19, setores como comércio e serviços já começam a demitir e cobram pressa do governo na recriação da medida.
A LDO de 2021 foi aprovada com um artigo que exige uma compensação para gastos com novos programas, via aumento de receita ou corte de despesas, mesmo que o gasto recém-criado seja apenas temporário, como é o caso do benefício emergencial (BEm), pago aos trabalhadores para compensar parte da perda salarial nos acordos.
Há hoje um projeto em tramitação, apresentado pelo senador Esperidião Amin (PP-SC), que busca recriar o programa, mas técnicos do governo avaliam que ele não resolve o problema do impedimento da LDO.
As empresas, principalmente do varejo, são as que mais têm pressionado o Palácio do Planalto, que reclama das restrições fiscais e tinha o entendimento de que não seria preciso alterar a LDO.
"O BEm tem que sair logo. Já passou da hora. Boa parte das empresas está fechando as portas e muitas delas estão mandando os funcionários embora", alerta o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas.
Segundo ele, as empresas estão cobrando as medidas porque o BEm e um novo Pronampe (programa de crédito para micro e pequenas empresas com garantia do Tesouro) têm potencial para garantir um ano melhor para o setor, afetado de novo pela pandemia.
Compensação
Nas negociações do BEm, técnicos da área orçamentária do Ministério da Economia apontaram que o artigo da LDO impõe a necessidade de uma compensação, mesmo que o programa seja financiado por crédito extraordinário. Esse tipo de crédito é para casos de urgência e imprevisibilidade e fica fora do teto de gastos (regra que limita o crescimento das despesas à variação da inflação).
O governo chegou a avaliar a possibilidade de apontar a compensação com base em aumento de arrecadação, que já ocorreu em outras ocasiões e foi identificado pela Receita Federal. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) foi acionada, mas manifestou preocupação com uma interpretação da lei que nunca foi avaliada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
A opção menos arriscada, segundo fontes que participam das discussões, é o envio do projeto para retirar ou alterar o dispositivo da LDO. Essa é a proposta defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que teme que o impasse para o programa seja um gatilho para a aprovação de estado de calamidade – que suspende as regras fiscais e abre caminho para um aumento mais significativo dos gastos públicos.
A calamidade é considerada pelo ministro um "cheque em branco", já que todas as contrapartidas de ajuste previstas na regra que prevê esse dispositivo já estão na prática acionadas, como o congelamento de salários de servidores.
Emissários do Palácio do Planalto fizeram consultas informais a ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a possibilidade de abrir o crédito extraordinário sem a necessidade de medidas compensatórias de corte em outras despesas.