O governo federal convocou uma reunião para a quinta-feira com produtores e distribuidores de etanol para discutir mais uma vez como lidar com o cenário apertado de oferta do biocombustível no país, informou uma fonte do governo nesta quarta-feira.
Deve entrar em discussão também uma eventual mudança na mistura de etanol anidro na gasolina, atualmente em 25 por cento, mas que por lei pode ser reduzida para até 18 por cento.
O receio do governo, segundo a fonte, é de que uma eventual redução do volume de adição de anidro possa levar a aumento de produção de hidratado, consequentemente levando a uma queda do preço deste tipo de etanol no mercado e a um potencial aumento da demanda pelos donos de carros flex.
"A preocupação principal evidentemente é o anidro, apesar de ter que cuidar do hidratado, porque se faltar hidratado tem que compensar com mais anidro", afirmou a fonte, fazendo referência ao fato de uma eventual escassez de hidratado levar a um maior consumo de gasolina, e indiretamente a maior consumo de anidro, devido à mistura.
"Temos uma grande preocupação com o volume de anidro, se o produtor vai conseguir ofertar todo o anidro que o mercado precisa", explicou.
Outra preocupação é o aumento volume necessário de gasolina no mercado caso a adição de anidro caia, o que até poderia levar a novas importações do combustível, afetando a balança comercial brasileira e o balanço da Petrobras.
"O mercado está muito apertado, é a mesma produção de etanol do ano passado e até um pouco menos, enquanto isso a frota de flex só cresce e a demanda de gasolina e álcool está crescendo à taxa de 7 por cento", ressaltou a fonte.
O impasse sobre a questão da mistura está na pauta do governo desde que os preços do etanol dispararam no mercado no início de 2011, como sempre ocorre, mas que neste ano e em 2010 o problema recebeu o agravante de uma oferta também apertada de gasolina, o que obrigou a Petrobras a importar o produto.
"Vamos estudar o quanto o mercado está com problema e se é produtivo ou não a mudança do percentual (na mistura)", acrescentou a fonte governamental.
De acordo com Arnaldo Corrêa, gestor de riscos e diretor da Archer Consulting, empresa focada em negócios de commodities agrícolas, dificilmente o total de moagem de cana ficará próximo dos 560 milhões de toneladas originalmente previstos pelo setor no início da safra.
Estimativas da Archer Consulting indicam que o número de produção da safra deverá ficar em torno de 535 milhões de toneladas.
"O que vai certamente aumentar a preocupação do pessoal do governo, que esperava ver equacionado o problema de oferta do etanol", afirmou Corrêa.
Para ele, uma possível solução seria liberar efetivamente o mercado de combustíveis no Brasil.
"Esse é ainda o principal entrave para que o etanol se torne, de fato, uma commodity, uma vez que no Brasil o preço do etanol é equiparado ao da gasolina que, por sua vez, é indiretamente determinado pelo governo", explicou o consultor, alertando que por isso há falta de segurança para o produtor aumentar a produção.