O dólar não pára de cair e dividir opiniões. No ano, já acumula baixa de 2% e ronda os níveis mais baixos dos últimos nove meses. Boa notícia para uns e problema para outros, a questão cambial foi alvo de debates durante a semana, quando a pergunta se instalou: afinal, o que o governo deve fazer com o dólar? Para boa parte dos interessados, a resposta é simples: deixar cair, pelo menos por enquanto.

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Entre os defensores desta linha de atuação está o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na sexta-feira (9) disse que os problemas da economia não se resolvem por mágica e que o câmbio será ajustado pelo próprio mercado. "O câmbio é móvel e, por isso, ele se mexe para cima ou para baixo. E eu não tenho dúvida nenhuma de que ele será ajustado no momento certo", afirmou.

Durante a semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou a posição do governo de não interferir nas cotações com "artificialismos". "O país é muito sólido e isso, infelizmente ou felizmente, afeta o câmbio".

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Se é motivo de comemoração para quem planeja viajar para o exterior ou comprar produtos importados, o dólar baixo tem recebido pesadas críticas por parte dos exportadores, que recebem o pagamento pelos produtos que vendem na moeda norte-americana e têm visto seus ganhos caírem diariamente, junto com a cotação.

"A volatilidade excessiva causa distorções na economia e gera incerteza e expectativa", diz o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Roberto Gianetti da Fonseca. Para o economista, mais que manter inflação em patamares baixos, é fundamental que o Banco Central (BC) garanta a estabilidade do câmbio.

O que o BC pode fazer

O Banco Central é o responsável pela política monetária do país e cuida dos juros e do câmbio. Em épocas de altas ou baixas excessivas, ele tem poder para interferir na relação dólar/real.

O comportamento da moeda segue a lógica econômica: quando está sobrando no mercado, o preço cai. Nessas horas, o BC entra no mercado e compra os dólares abundantes: diminui assim a quantidade ofertada e obriga os preços a subirem.

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E é o que a autoridade monetária tem feito: o BC comprou US$ 5,1 bilhões em janeiro e US$ 3,2 bilhões apenas nos primeiros sete dias úteis de fevereiro, impedindo uma derrubada ainda maior nas cotações, segundo o gerente da Corretora Liquidez, Francisco Carvalho. Apesar disso, o BC não assume que queira segurar o câmbio: justifica que as compras são apenas para aumentar as reservas cambiais. Na quinta-feira (8), o BC registrava US$ 93,4 bilhões em reservas.

Desta vez, a seqüência de quedas foi causada pelo grande volume de dólares que entraram no país, principalmente por causa das exportações. "A principal razão para a baixa é o fortalecimento da balança comercial", diz o economista do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal.

Teto para o dólar

Outra possibilidade defendida por alguns economistas é a de que, além de comprar as moedas, o BC passasse a estabelecer metas para o dólar e as anunciasse para o mercado, e garantisse que elas se cumprissem. O comportamento de compras ocasionais é considerado "passivo" por Gianetti da Fonseca.

"O BC tem que aumentar sua atuação e absorver todo o excesso para garantir a estabilidade do câmbio", diz o economista.

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Há ainda a ferramenta do controle de capitais, sugerida esta semana por afiliados do PT. Nesta opção, o BC imporia restrições para a entrada e saída de dólares no país, atrapalhando investidores que aplicam dinheiro no país de um dia para o outro, atraídos pelos juros. A hípótese foi descartada pelo ministro Mantega. Para ele, apenas a redução dos juros é o que fará reduzir a entrada de dinheiro estrangeiro no país.