No primeiro pacote de medidas duras de ajuste das contas públicas, o governo Dilma Rousseff anunciou mudanças nas regras de pagamento de cinco benefícios trabalhistas e previdenciários abono salarial, seguro-desemprego, seguro-defeso, pensão por morte e auxílio-doença. O governo espera economizar ao menos R$ 18 bilhões por ano aos cofres públicos.
As alterações, classificadas como "correções de distorções" pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, terão impacto principalmente para os novos beneficiários.
As medidas, que tornam mais difícil o acesso aos benefícios, serão enviadas em duas medidas provisórias ao Congresso, sem que o Palácio do Planalto tenha negociado o teor do pacote com a base parlamentar. Essa fórmula repete o padrão adotado pela presidente Dilma em seu primeiro mandato, o que causou muita reclamação e problemas ao governo no Congresso.
Ao apresentar o pacote, Mercadante justificou a falta de negociação com o atual Congresso em razão da renovação dos parlamentares. "Não houve ainda consulta à base", admitiu o ministro. "Estamos aguardando a posse, 47% dos deputados são novos, um terço do Senado será renovado. Apresentamos e negociamos com as centrais sindicais."
Impopulares
Questionado sobre a impopularidade das medidas, que mexem com direitos trabalhistas algo que a presidente Dilma afirmou que não faria "nem a pau" durante sua campanha de reeleição , Mercadante discordou. "Eu não concordo que, necessariamente, são medidas impopulares. Eu senti, inclusive, na conversa com vários líderes sindicais, que eles não só aguardavam as mudanças como sabem que as distorções têm de ser corrigidas. Não estamos acabando com os programas. Todos estão sendo mantidos", afirmou.
"Nós estamos mudando as regras de acesso para os direitos serem preservados de forma sustentável, essas regras de acesso têm de ser alteradas. Agora, temos de corrigir distorções. O FAT e a Previdência são um patrimônio de todos. Então, se não garantirmos a sustentabilidade da Previdência, as futuras gerações vão pagar um preço caro."
Embora tomadas para corrigir problemas e irregularidades nos programas, segundo o governo, as medidas não são exatamente populares. O pacote aumenta os tempos de contribuição e, em alguns casos, reduz o valor dos benefícios pagos.
As mudanças no seguro-desemprego, por exemplo, são justificadas pelo governo pelo fato de 74% estarem sendo pagos a quem está entrando no primeiro emprego. "Os mais jovens estão mais dispostos a fazer experimentos com o mercado de trabalho", explicou Mercadante.
Resultado fiscal tem rombo de R$ 19,6 bi
O governo Dilma Rousseff deve fechar 2014 com uma marca negativa na política fiscal. Com o anúncio feito ontem de um novo rombo de R$ 8,1 bilhões nas contas públicas em novembro, o chamado resultado fiscal do conjunto de União, Estados e municípios acumulou um buraco de R$ 19,6 bilhões neste ano. Este é o pior resultado em toda a série histórica, iniciada em 1996, e sinaliza que o ano deve ser o primeiro a terminar com um déficit primário.
De saída após quase oito anos no cargo, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, garantiu que haverá um superávit "de dois dígitos" nas contas em dezembro. Mas para zerar o déficit acumulado entre janeiro e novembro, esse eventual resultado positivo terá de ser de R$ 20 bilhões hoje, isso é considerado impossível, mesmo entre os mais otimistas técnicos do governo.
Foi praticamente abandonado, também, o objetivo de poupar R$ 10,1 bilhões para o pagamento dos juros da dívida pública, o chamado superávit primário.
Atípico
"O ano de 2014 foi atípico", disse ontem Augustin. De fato, o ano que se encerra amanhã conseguiu registrar indicadores fiscais ainda piores do que em 2013, que terminara com o pior esforço fiscal da história apenas 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2014, apenas nos meses de janeiro, março, abril e outubro o governo central registrou superávit. Nos outros sete meses, o governo teve déficit nas suas contas.