O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou hoje que o governo federal está dedicado em evitar que a valorização do real ante o dólar norte-americano cause danos à economia brasileira. "As autoridades estão empenhadas para mitigar a valorização do câmbio", comentou.
De acordo com dados disponíveis no site do Banco Central (BC), a taxa real do câmbio, deflacionada pelo IPCA e CPI dos Estados Unidos, apresentou uma apreciação de 31,38%, levando em consideração a base de comparação com junho de 1994. "Acho que a sociedade brasileira inteira está apoiando e compreende a relevância de evitar uma apreciação exagerada e prolongada da taxa de câmbio, que só vai trazer prejuízos para o emprego e o desenvolvimento do Brasil", afirmou.
Em evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista, Coutinho ressaltou que alguns segmentos manufatureiros já sentem efeitos nocivos diante do câmbio valorizado, mas destacou que esses problemas ainda não são sentidos pela indústria em geral. Ele observou que a geração de postos de trabalho no Brasil está sendo "muito boa", pois devem ser criados mais de 2 milhões de vagas formais neste ano. "Mas a composição do emprego pode não ser ideal se nós permitirmos a valorização muito forte no câmbio", alertou.
O presidente do BNDES observou que as fábricas no Brasil poderão ser prejudicadas com uma apreciação expressiva e prolongada do câmbio em duas frentes. Uma delas é a entrada maciça de importados com preços muito baixos e a outra seria a "inibição" dos exportadores de mercadorias, dado que o real exageradamente forte poderia eliminar condições de competitividade, especialmente em relação aos preços das mercadorias brasileiras com seus concorrentes internacionais. Coutinho destacou também que "não há problema" no ingresso de máquinas e equipamentos importados de alta tecnologia, que vão colaborar para o aumento da produtividade no Brasil. "A dificuldade toda é quando começam a ter importações de produtos acabados, de componentes que vão esvaziando cadeias produtivas", comentou.
"Em alguns casos, estamos vendo déficit (comercial) em setores com capacidade competitiva e isso não seria observado se não estivéssemos diante de uma expectativa de valorização cambial, que leva determinadas empresas a mudarem de estratégia", frisou.
Segundo Coutinho, a próxima reunião do G-20, que ocorrerá em novembro, na Coreia do Sul, será muito importante para que os atuais desequilíbrios cambiais, registrados em nível global, comecem a ser corrigidos. Ele antecipou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem levar uma mensagem aos participantes do fórum.
De acordo com ele, a mensagem irá destacar ser necessário que as políticas cambiais sejam coordenadas a fim de evitar que as desvalorizações de moedas em série tragam efeitos negativos para o mundo inteiro. "É o mesmo que ocorre com o protecionismo (comercial)", ressaltou, observando que se todos os países fazem protecionismo, todo o mundo sai perdendo. Ele destacou que as autoridade do G-20 começam a compreender que a guerra cambial é nociva para todos e espera que os resultados da reunião no próximo mês, em Seul, expressem avanços na área cambial.