O governo estava à procura de um novo chefe para a Secretaria da Receita Federal desde maio, quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, demitiu por improbidade administrativa os auditores Paulo Baltazar Carneiro e Sandro Martins, ligados a Jorge Rachid. Na ocasião, Mantega informou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a situação de Rachid ficara insustentável. Motivo: alegou que havia fortes indícios de procedimentos irregulares do grupo de Rachid para favorecer a construtora baiana OAS.
Um auxiliar direto de Lula disse ao Grupo Estado que a repercussão do escândalo foi a "gota dágua" para a demissão de Rachid. O caso envolveu a redução de uma multa devida pela OAS, de R$ 1 bilhão para R$ 25 milhões. A dupla de auditores demitida pelo ministro prestava consultoria privada à OAS e, de acordo com as conclusões de uma investigação interna, recebeu comissão de R$ 18,3 milhões para reduzir a multa da construtora. A infração foi registrada em 1994 e o caso arrasta-se desde então.
Uma investigação específica para apurar a responsabilidade de Rachid no episódio estava em banho-maria na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, mas Mantega decidiu ressuscitá-la. O ministro, que já vinha em rota de colisão com Rachid há tempos, convenceu Lula da gravidade da situação.
Em pelo menos outras duas ocasiões ele já havia tentado, sem sucesso, defenestrar o secretário da Receita. Chegou a sugerir para o cargo o petista Nélson Machado, que já comandou a Previdência e é atual secretário-executivo da Fazenda. Foi dissuadido da idéia por amigos economistas. Muitos lembraram a ele que a Receita é uma "área nervosa". Com este perfil, exigia funcionários de carreira.
O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, hoje deputado do PT, integrava o time dos defensores de Rachid e adiou o quanto pôde a demissão do secretário. Lula sempre ouviu Palocci, que discorda de Mantega em vários pontos na condução da política econômica. Ligado a Everardo Maciel - o homem que chefiou o Fisco no governo Fernando Henrique -, Rachid assistia, impassível, à queda-de-braço na seara petista. Sabia que Mantega queria tirar da equipe todos os remanescentes da era Palocci e ele era, nesse cenário, o último da lista. Mesmo assim, foi surpreendido com a demissão na quinta-feira.
"O presidente tem até carinho pelo Rachid, mas resolveu dar carta branca ao ministro para que ele montasse sua equipe", contou um assessor de Lula. Diplomático, Rachid enviou carta ao presidente, na qual agradece a confiança nele depositada no período em que esteve à frente da Receita Federal. Depois, conversou com uma penca de petistas.
A todos garantiu que sai do governo sem mágoas de Mantega.
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