634 megawatts é a capacidade conjunta das seis hidrelétricas previstas para o Paraná no Plano Decenal de Energia 2022. Essa quantidade de energia é capaz de abastecer cerca de 1,8 milhão de pessoas.
Descompasso
O descompasso entre planejamento e execução de usinas hidrelétricas que não é exclusividade do Paraná é um dos fatores que explicam as dificuldades do setor nos últimos tempos. A expansão do parque de geração é desenhada para dar conta do consumo esperado; se ela ocorrer em ritmo mais lento que o planejado, cedo ou tarde podem aparecer "furos" no abastecimento. Segundo estudo da consultoria PSR, em 2013 o país só conseguiu pôr em operação 44% da capacidade adicional de geração esperada. No ano anterior, apenas 20%.
Caixa d´agua pequena
Os números do Plano Decenal de Energia indicam que a capacidade de armazenamento de água do setor elétrico vai crescer apenas 2% até 2022, ao passo que a potência total do parque de hidrelétricas deve aumentar 40%. A explicação para essa diferença é que a maioria das novas usinas será do tipo fio dágua, sem reservatório. A aposta nessas hidrelétricas, aprovadas com mais facilidade pelos órgãos ambientais, é considerada uma ameaça por alguns especialistas, uma vez que tende a deixar o país mais vulnerável a longas estiagens.
Estado produz quase 20% da eletricidade brasileira
A última grande hidrelétrica inaugurada no Paraná foi a de Salto Caxias, no Rio Iguaçu, que começou a funcionar em 1999 e tem potência de 1.240 megawatts (MW). Depois dela, vieram três usinas de médio porte. As de Santa Clara e Fundão, no Rio Jordão, têm 120 MW cada e entraram em operação em meados da década passada. A de Mauá, no Tibagi, com 361 MW, está funcionando desde o fim de 2012.
Apesar da expansão relativamente tímida de sua capacidade de geração, o estado se mantém no topo do ranking de geradores de energia. Em 2013, gerou em média 10,3 mil MW, o equivalente a 19,3% de toda a eletricidade produzida no país, à frente de São Paulo (15,4%) e Minas Gerais (11,3%), conforme dados do ONS. Como a seca têm limitado a geração na maioria das hidrelétricas, a fatia do Paraná caiu um pouco em janeiro deste ano, para 17,8% do total.
Estado que mais gera energia no país, o Paraná pode ganhar mais seis hidrelétricas nos próximos anos, quatro delas no Rio Piquiri, uma no Tibagi e outra no Chopim. É o que indica o mais recente Plano Decenal de Energia (PDE) do governo federal, que lista os projetos com conclusão esperada até 2022.
Confira o plano de energia das hidrelétricas
O documento foi aprovado no fim de janeiro pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal responsável pelo planejamento do setor. Dos seis projetos paranaenses, cinco podem ser colocados em leilão ainda neste ano, segundo declarações do presidente da EPE, Maurício Tolmasquim.
A conclusão dessas usinas está programada para os anos de 2019 e 2020. Porém, a experiência dos últimos anos mostra que elas dificilmente serão entregues no prazo. É possível que algumas nem mesmo sejam leiloadas, isto é, concedidas a companhias elétricas.
Das nove hidrelétricas paranaenses incluídas no primeiro plano decenal, o PDE 2006-2015, apenas uma ficou pronta até hoje: a de Mauá, no Rio Tibagi, que começou a funcionar em novembro de 2012, quase dois anos após o prazo. Outra usina, a de Baixo Iguaçu, está em construção. Deveria ter ficado pronta há um ano, mas a expectativa é de que seja concluída apenas em 2016.
As outras sete hidrelétricas elencadas naquele PDE nunca foram colocadas em leilão. A de Telêmaco Borba, no Tibagi, continua nos planos do governo. As demais ficaram pelo caminho. Não constam do PDE 2022, ou seja, já não têm data para serem licitadas e muito menos, construídas.
Na maioria dos casos, os atrasos estão ligados a questões ambientais: ou as usinas não conseguem a licença prévia a tempo de serem incluídas nos leilões de geração; ou os vencedores dos leilões têm dificuldade em obter a licença de instalação, que permite o início da construção; ou decisões judiciais impedem o início das obras ou as interrompem.
Licenciamento
Segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), as cinco usinas paranaenses que o governo federal pretende leiloar ainda neste ano (veja quadro nesta página) estão em processo de licenciamento, mas nenhuma recebeu licença prévia até agora. O IAP informou que avalia solicitar o estudo integrado de bacia aos empreendedores antes de emitir ou não o licenciamento ambiental o que deve postergar a conclusão do processo.
O órgão não dá mais detalhes, mas a tendência é de que tal estudo seja exigido para as quatro hidrelétricas previstas para o Rio Piquiri, no Oeste, um dos dois grandes rios paranaenses o outro é o Ivaí que ainda não abrigam hidrelétricas. As usinas costumam animar prefeitos dos municípios envolvidos, uma vez que geram empregos e incrementam a arrecadação de tributos. Mas devem enfrentar a resistência de agricultores, que correm o risco de perder áreas ou ser desalojados, e ambientalistas.
As barragens podem eliminar quedas dágua da região e ainda afetar a pesca extrativa. "O Piquiri é um importante corredor para a reprodução de peixes. Se for barrado, vai prejudicar dezenas de comunidades de pescadores do Rio Paraná, no qual o Piquiri deságua", diz Carlos Eduardo Zacarkim, coordenador do curso de Engenharia de Aquicultura do setor Palotina da UFPR.
Termelétricas
Custo de geração da usina de Araucária mais que dobrou
Com os reservatórios de hidrelétricas nos menores níveis em mais de uma década, o país está tendo de usar termelétricas em tempo integral pelo segundo ano consecutivo. Para piorar, o custo de geração da maioria dessas usinas muito sensível à variação do preço do combustível ficou bem mais alto.
Segundo levantamento feito pela Gazeta do Povo em relatórios do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o custo médio da geração térmica no Brasil subiu 12% desde o início do ano passado. Era de R$ 457,11 por megawatt-hora (MWh) na primeira semana de 2013, e chegou a R$ 510,33 por MWh no fim do mês passado.
De uma lista de 113 usinas, o maior aumentou ocorreu na termelétrica de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. O custo do MWh na usina, que pertence à Copel, mais que dobrou, passando de R$ 304,42 para R$ 686,27. O reajuste se deve ao término do contrato de locação para a Petrobras, no fim de janeiro, que resultou em forte reajuste no preço do gás natural consumido pela térmica o combustível é fornecido pela própria estatal federal.
Normalmente, os gastos com as termelétricas são repassados ao consumidor no ano seguinte. A conta de 2013, portanto, seria cobrada neste ano. Mas, para segurar a inflação, o governo federal estuda postergar o repasse às tarifas.
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