O governo quer ganhar tempo e se preparar melhor para enfrentar os desafios que vieram à tona com a perspectiva de exploração da camada do pré-sal, localizada abaixo do leito marinho. Só agora o governo começa a ter uma avaliação mais realista quanto aos impactos sobre a macroeconomia, as finanças públicas e a geopolítica comercial do País. Apesar de os discursos do presidente Lula exibirem euforia com as descobertas, nos bastidores, os técnicos revelam uma crescente preocupação com os obstáculos a superar para usar de forma adequada esse "bilhete premiado".
"Há um problema de timing fundamental. Se apressarmos, podemos perder oportunidades. As escolhas de investimento devem ser repensadas e tudo isso demanda tempo", diz o economista Antônio Barros de Castro, assessor da presidência do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Embora Castro se refira à política industrial e aos efeitos macroeconômicos indesejáveis que atingem economias petrolíferas, como as pressões cambiais e inflacionárias, o mesmo tipo de raciocínio se aplica a outras políticas. A definição do marco regulatório e do ritmo das futuras concessões de campos petrolíferos depende, por exemplo, da capacidade do governo de manter sob seu controle direto ou da Petrobras a maior parte das reservas, como pretende Lula.
Se novas licitações de blocos em mar fossem abertas agora, os técnicos acreditam que haveria um grande risco de a Petrobras perder a hegemonia operacional que detém hoje na exploração, superior a 80%. "As multinacionais estão altamente capitalizadas e, para disputar com elas, a Petrobrás teria de atrasar outros investimentos", afirma o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
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