Enquanto a fabricante de embalagens longa-vida Tetra Pak entra na mira da fiscalização ambiental do governo do estado, acusada de gerar um passivo de 500 milhões de caixinhas cartonadas por ano, sua única concorrente mundial a multinacional suíça Sig Combibloc prepara a instalação de uma unidade em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, com incentivo fiscal garantido em protocolo assinado pelo governador Roberto Requião.
O Paraná disputava o investimento suíço de 100 milhões de euros (cerca de R$ 275 milhões) com Santa Catarina e Bahia, e teve preferência oferecendo benefícios do programa Bom Emprego, que prevê a dilação no pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Na terça-feira, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) informou que estuda proibir a comercialização de embalagens longa-vida no Paraná. A decisão se deve, segundo o secretário Lindsley Rasca Rodrigues, à falta de responsabilidade ambiental da Tetra Pak que tem fábrica em Ponta Grossa. Segundo ele, a empresa não tem uma logística de recolhimento das embalagens que coloca no mercado, o que é obrigatório por lei.
Para o secretário de estado da Fazenda, Heron Arzua, a polêmica com a Tetra Pak não tem qualquer relação com a instalação da Sig Combibloc no estado apesar de ambas produzirem o mesmo tipo de embalagem nem interfere na garantia dos incentivos fiscais à empresa. "Os incentivos não estão condicionados a impactos ambientais", diz. O secretário não vê incongruência no comportamento do governo. "A Tetra Pak já obteve incentivos e agora a Combibloc terá."
Segundo a assessoria de imprensa da Sema, a Sig Combibloc já tem o licenciamento prévio para se instalar, emitido no fim de novembro de 2006, mas ainda precisa cumprir mais duas etapas: a do licenciamento de instalação e a de operação, antes de iniciar a construção. Na terceira etapa, deverá apresentar um plano de gerenciamento de resíduos. O secretário não foi encontrado para esclarecer se a Sig Combibloc foi orientada assim como a Tetra Pak a garantir o recolhimento de todas as embalagens que produzir, após o descarte pelo consumidor.
Acordo
O vice-presidente da Tetra Pak para América Central e do Sul, Nelson Findess, deve se reunir com Rodrigues na segunda-feira. "O presidente me garantiu que o que vem sendo discutido não representa a opinião da empresa e abriu a possibilidade de buscarmos uma solução conjunta. É um bom sinal. Mesmo que não haja uma política de recolhimento, já teremos o compromisso ambiental restabelecido", disse o secretário, em texto da agência de notícias do governo do estado.
A direção da Tetra Pak afirmou, em nota, que todos os pontos abordados com a área ambiental do governo do Paraná foram amplamente discutidos e "continuarão a ser parte da agenda positiva que tem caracterizado o relacionamento com a comunidade, clientes, parceiros e consumidores".
Também em nota, o prefeito de Ponta Grossa, Pedro Wosgrau Filho, disse acreditar em um desfecho rápido e positivo da situação porque a fábrica exerce "singular impacto" no contexto econômico da cidade e dos Campos Gerais, com reflexos tributários importantes. "A Tetra Pak é parceira do governo municipal em diversas iniciativas de cunho social e assistencial, em particular no que tange a programas de conscientização ambiental e incremento da coleta seletiva de lixo", diz a nota.
Planos não mudam
A gerente de marketing da Sig Combibloc, Luciana Galvão, diz que a discussão entre governo estadual e Tetra Pak não interfere nos planos da empresa para o estado. Ela prefere não comentar a possível proibição de cartonados no Paraná. Diz apenas que a multinacional atende aos padrões nacionais e internacionais no que diz respeito à segurança ambiental. "E isso não será diferente na unidade de Campo Largo."
O projeto da Sig Combibloc prevê a criação de 250 empregos diretos e 750 indiretos. A previsão é que a fábrica comece a operar no início do próximo ano. Segundo a prefeitura de Campo Largo, a empresa já comprou o terreno na cidade e no mês passado apresentou o projeto ao prefeito Édson Basso e aos vizinhos.
A Sig Combibloc entrou no mercado brasileiro através de importações. Ao divulgar o investimento, a empresa informou que, com a unidade de Campo Largo, pretende conquistar entre 10% e 15% do mercado nacional de embalagens longa-vida. Em nota disponível no site, o CEO do grupo Sig, André Rosenstock, diz que o Paraná foi escolhido porque a empresa encontrou "uma administração estadual competente e comprometida com o desenvolvimento da região e da sua indústria".