O ministro Carlos Fávaro, da Agricultura, minimizou a possibilidade de que deputados da oposição consigam abrir uma CPI para investigar o leilão fracassado de arroz importado, que foi anulado nesta semana após suspeitas de irregularidades.
O certame chegou a comprar 263 mil toneladas do grão ao custo de R$ 1,3 bilhão para conter o que o governo classifica como uma “especulação” por parte de produtores por causa da dificuldade de escoar a produção do Rio Grande do Sul após as enchentes. O estado responde por 70% do plantio nacional e já estava com 78% da safra colhida.
“CPI é um processo natural do Congresso. Prerrogativa da minoria. Não há o que temer. Só não podemos fazer de algo tão importante, que é alimentação, se torne motivo de palanque político. Não houve R$ 1 de dinheiro gasto”, disse Fávaro após participar de um fórum para investidores na quarta (12) no Rio de Janeiro.
"Movimento especulativo"
Fávaro voltou a citar que há um “movimento especulativo” de se “ganhar dinheiro com a tragédia”, “um movimento de desestabilização da economia, da população”.
Apesar das críticas, ele reconheceu que a safra brasileira “é mais ou menos suficiente com a demanda brasileira”, mas ressaltou que o país vive um momento excepcional e que o governo “não tem compromisso com o erro”.
“Portanto não faz sentido nenhum, ao final da safra, no momento que os estoques estão postos, ter aumento de preços exacerbados como tivemos, logo após a tragédia. 30%, 40%”, pontuou ao justificar a necessidade do leilão.
Secretário x Fávaro
A fala de Fávaro foi uma repetição do que já vinha alegando desde a semana passada, e que foi rebatida um pouco mais cedo na quarta (12) pelo ex-secretário de Políticas Agrícolas, Neri Geller. Ele disse que o governo tinha informações de que não havia a necessidade de importar arroz.
Geller foi demitido na terça (11) pouco antes do anúncio de anulação do leilão, e afirmou que houve uma “queda de apenas 500 mil toneladas” que poderia ser suprida pela produção da região Centro-oeste do país, que teve crescimento de 30%. As 263 mil toneladas compradas não seriam necessárias, “deveria ser feito de forma mais escalonada”, disse.
Ele foi demitido após se descobrir uma possível ligação do filho dele com uma das corretoras participantes – Geller criticou essa afirmação e disse que está sendo feito de “bode expiatório” para justificar a anulação do leilão.
“Nós fomos surpreendidos, com as notícias pela imprensa, de uma tendência de informação privilegiada ao ter, no secretário de Política Agrícola, um vínculo familiar entre o presidente da Bolsa de mercadorias do Mato Grosso além de corretora. Ora, não temos compromisso com o erro, infelizmente”, completou Fávaro.
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