Os planos do Palácio do Planalto para mudar a cara dos portos brasileiros enfrentam forte questionamento e insatisfação de empresários e governos estaduais. As propostas de arrendamento, encomendadas pela Secretaria de Portos da Presidência (SEP), perderam apoio até do governador baiano Jaques Wagner (PT), um fiel aliado político do Planalto.

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Descontente com os planos federais para os Portos de Salvador e Aratu, Wagner procurou ontem a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para expressar contrariedade com as propostas e pedir mudanças no desenho dos dois portos, incluídos na segunda rodada de consultas públicas pela SEP. A ministra Gleisi pediu a Wagner que aguarde o resultado da consulta pública e a audiência marcada para dia 17.

O desacordo do governador baiano soma-se à ofensiva anunciada pelo governo do Paraná, que ameaça questionar na Justiça a licitação do Porto de Paranaguá sob alegações de falta de diálogo com o Planalto, restrição da concorrência e subutilização das áreas.

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Nos bastidores, os governadores estão incomodados com a forma dos anúncios, feitos sem consulta prévia a chefes políticos locais, apurou o Estado. Os planos também têm sido entendidos como uma interferência direta na esfera de influência de políticos aliados às vésperas das eleições de 2014.

Mudanças

Antes desses dois casos, o governo federal recuou nas propostas de arrendamento de outros portos. Em Santos, houve questionamentos da comunidade portuária contra os preços de aluguel e a prorrogação e unificação de áreas públicas. Nesta semana, a ministra Gleisi anunciou uma redução de dois dígitos nesses alugueis e acenou com a ampliação dos prazos de concessão.

No Pará, um levante de produtores rurais também obrigou o governo a rever seus planos. Em Outeiro, onde deveria haver três terminais, a proposta inicial previa apenas um, deixando na mão de apenas um operador. Em Santarém, os planos oficiais descartavam a construção de um terminal de fertilizantes.

Na Bahia, há reclamações de limitação ao crescimento do porto da capital e alerta para o reajuste de 30% nos preços da operação. Wagner quer a alteração nos estudos feitos pela Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), uma empresa privada autorizada pela SEP a elaborar planos para vários portos no País.

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Em Salvador, está previsto um novo terminal, mas com capacidade idêntica à atual, de apenas 500 mil TEUs - medida padrão adotada para contêineres. Wagner disse à ministra que construir dois terminais não resolve a situação. A solução é ampliar o atual. "Fica melhor e mais barato." Além disso, é essencial expandir o berço de atracação de 370 metros para mais 400 metros, o que ajudaria a atrair navios maiores.

Pelos cálculos apresentados na consulta pública, o preço básico de movimentação, valor que os operadores cobram dos armadores, deve sofrer reajuste de 30% no porto. Também pode haver prejuízos ao polo petroquímico de Camaçari, cujo peso na economia da Bahia supera 30%. A proposta cancelaria o arrendamento de duas áreas de 44 mil m² operadas pela Braskem. Uma delas tem contrato vencido, mas a outra estaria vigente. A proposta federal cancela ambas e as coloca para renovação.

No Porto de Aratu, a proposta do Planalto também submete à relicitação um terminal de concentrado de cobre da Paranapanema, obrigando à renovação de uma das duas áreas hoje utilizadas. O preço da operação deve subir, avalia o governo baiano.

Em nota, a Casa Civil informou que o governo "está aberto e disposto a dialogar para construir os melhores estudos possíveis para as licitações, assim como fez diversos aperfeiçoamentos durante a fase de consulta dos portos de Santos e do Pará". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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