Depois de dois meses de discussões e divergências públicas, se­­rão apresentadas amanhã, ao pre­­sidente Luiz Inácio Lula da Sil­­va, propostas que vêm sendo elaboradas por um grupo técnico do governo para colocar em prática o projeto de massificação da banda larga. Já está certo que o governo vai usar como base para esse projeto as redes ópticas de empresas estatais, como as da Pe­­trobras, Eletrobrás e Eletronet – companhia falida que tem a Ele­­trobrás como acionista.

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A ideia é criar uma estatal da banda larga, que poderá ser administrada pela Telebrás, para atuar na transmissão de dados, am­­pliando a oferta de capacidade e estimulando a competição no setor, além de atender a comunicação do próprio governo. Lula aposta nesse programa para concluir seu mandato tendo garantido a expansão da internet rápida para as classes mais carentes da população e para os pontos mais distantes do país.

As empresas da iniciativa privada, como as de telefonia e provedores de internet, operariam na ponta, fornecendo serviços ao cliente final. Esse modelo híbrido é fruto das negociações envolvendo técnicos de diversos ministérios, entre eles Casa Ci­­vil, Co­­municações e Planejamen­to. A decisão final será do presidente e, quando tomada, será criado um fórum, com a participação dos setores envolvidos, para acompanhar a implantação do Plano Nacional de Banda Larga.

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2014

Todo o projeto terá 2014 como meta final. Os técnicos dos mi­­nistérios estão traçando diagnósticos com base nas diferenças regionais e econômicas do Brasil. O coordenador dos projetos de in­­clusão digital do governo federal, Cezar Alvarez, que participa das discussões, disse, na semana passada, que a banda larga no Brasil é "para poucos, concentrada, lenta e cara", e que são esses os problemas que o governo quer corrigir.

Segundo ele, 80% dos acessos à internet em alta velocidade es­­tão nas regiões Sul e Sudeste. Al­­varez lembra que o Brasil ainda considera como banda larga as conexões acima de 128 quilobits por segundo (Kbps) enquanto, no mundo, a alta velocidade é acima de 1 megabit por segundo (Mbps).

Parceria

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, que desde o início defendeu uma parceria com as teles, vai apresentar uma proposta mais focada no atendimento da demanda do que na estrutura estatal. O argumento dele é de que é impossível cumprir o objetivo de atender a toda a população sem usar a infraestrutura das teles, que soma 200 mil quilômetros de fibras e estará em todos os municípios brasileiros até o fim de 2010.

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Assessores de Costa lembram que a rede do governo tem apenas 21 mil quilômetros. Desse total, 16 mil quilômetros são da Eletronet, que tem pendências na Justiça, o que poderia comprometer a implantação do projeto.

O Ministério das Comuni­cações fez estudos com as teles, considerando uma meta de chegar a 2014 com 80 milhões de acessos de banda larga, sendo 30 milhões pela rede fixa e 50 milhões pelas redes de telefonia celular. Hoje, o país tem pouco mais de 21 milhões de conexões.

R$ 30 por mês

Os estudos concluem que, se não houver incentivos, o Brasil chegaria a 2014 com 48 milhões de acessos, 32 milhões a menos que a meta. Para bancar a diferença, seriam necessários in­­vestimentos adicionais de até R$ 32 bilhões, segundo as estimativas de técnicos das empresas. Cumprida essa meta, estariam alcançadas as classe C e D, que, segundo os mesmos técnicos, estariam dispostas a pagar até R$ 30 por mês.

Mesmo oferecendo um produto mais barato, as empresas sairiam lucrando porque ga­­nhariam na quantidade. Para participar do projeto, as teles reivindicam desoneração tributária de produtos e serviços de telecomunicações e a liberação de recursos de fundos setoriais.

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Alvarez já anunciou que serão liberados recursos recolhidos ao Fundo de Universali­za­­ção dos Serviços de Teleco­mu­nicações (Fust) a partir de 2009, que são em torno de R$ 1 bilhão ao ano. Desde 2001, já foram recolhidos pelas empresas mais de R$ 8 bilhões, mas os recursos não foram aplicados em nenhum projeto e vêm sendo usados para fazer superávit primário.