
O rápido encarecimento do álcool fez com que o governo decidisse reduzir sua proporção na mistura da gasolina de 25% para 20%. Com isso, os ministros envolvidos com a medida esperam aumentar o volume do produto disponível para abastecer os carros com etanol nesta entressafra. A alteração, porém, pode elevar o preço da gasolina em 2% a 2,5%. O novo porcentual vai valer a partir de 1º de fevereiro e foi estabelecido por portaria assinada ontem pelos ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, Minas e Energia, Edison Lobão, e interinos da Fazenda, Nelson Machado, e do Desenvolvimento, Ivan Ramalho. Após os 90 dias, o porcentual obrigatório de adição de etanol à gasolina retornará aos 25%.
Nas últimas semanas, com as chuvas fortes que atingiram as regiões produtoras de cana-de-açúcar, a colheita acabou sofrendo atraso. Inicialmente, o ministro Stephanes era contrário à decisão de reduzir a mistura, mas acabou sendo convencido pela área energética do governo. Com a redução, injeta-se mais álcool no mercado de hidratado, a versão vendida nos postos.
Análise
Na opinião do presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, a redução do porcentual de álcool anidro na gasolina não vai trazer um alívio na oferta de produto. O consultor acredita que a decisão tenha um viés mais político do que prático. Segundo ele, a medida direciona apenas 108 milhões de litros por mês para um consumo que vinha na casa de 1,5 bilhão de litros ao mês. "O efeito da redução de consumo do álcool anidro será bastante limitado", diz.
Para o diretor da consultoria Canaplan e ex-presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, a redução da mistura do anidro à gasolina é "uma medida de bom senso, já que o governo utilizou um dos poucos instrumentos que tinha para agir no mercado". "A medida deveria ter sido tomada antes, quando já era sabido que as chuvas durante a safra trariam impacto na produção do etanol", disse.
O empresário e conselheiro da Unica Maurílio Biagi Filho criticou a redução da mistura. Para ele, ela não reduzirá os preços do etanol hidratado nos postos e nem trará uma oferta suficiente para evitar desabastecimento do combustível. "Isso mostra como o álcool é tratado no governo: por muita gente e com absoluto desconhecimento", disse Biagi. "Nós mostramos que não precisa baixar a mistura, que existe anidro suficiente", completou. Carvalho, da Canaplan, acredita que a partir da safra deste ano a situação pode mudar, quando entrarão em operação as primeiras empresas agentes de comercialização de etanol. Segundo ele, os agentes, formados por empresas do setor privado, evitarão oscilações bruscas de preços.