O governo está em busca de alguns remendos, inspirados no primeiro governo Dilma Rousseff, que possam fazer a economia reagir diante da perspectiva de mais um ano de encolhimento.
Estão no radar uma nova rodada de estímulos através do crédito de bancos públicos, um plano para o setor automotivo e a ideia de acelerar algumas reformas e negociações internacionais. Nada disso, por enquanto, convenceu alguém de que a “virada” na economia vai sair dos gabinetes do ministério da Fazenda.
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As duas primeiras linhas de ação são as mais fáceis para o governo porque não dependem do Congresso ou de acordos com outros países. São também as que estão sendo analisadas mais a fundo pelo mercado, que percebe o risco de se adotarem subsídios que comprometam ainda mais o cumprimento da meta fiscal deste ano, de 0,5% do PIB.
A grande prioridade do governo é destinar para alguns setores os recursos repassados aos bancos públicos no fim do ano passado para o pagamento das pedaladas fiscais. No BNDES, a ideia é criar uma linha para pequenas empresas com uma taxa de juros baixa, de cerca de 15% ao ano.
O estímulo ao crédito direcionado é estranho porque não há problema de oferta, mas de demanda por recursos para investimento.
A construção civil será outro beneficiado. O setor contará com mais dinheiro do FGTS para financiar o Minha Casa Minha Vida, em especial nas faixas 2 e 3, mas também com R$ 4,8 bilhões a fundo perdido para a faixa 1. Há também a esperança de que o plano de concessões finalmente deslanche, com papel importante para o FGTS como fonte de recursos –ele conta com R$ 22 bilhões que vieram das pedaladas e outros R$ 22 bilhões de sua linha de investimento em infraestrutura. A Caixa recebeu R$ 1,5 bilhão das pedaladas e também pode aumentar o crédito para a construção.
Em outra frente, o governo quer dinheiro mais barato para financiar os exportadores. Para as montadoras, está em estudo um projeto para a renovação da frota. Outras ações, com menos chances de evolução, são uma reforma para reduzir custos trabalhistas e a negociação de acordos comerciais.
Política setorial
Esse conjunto de medidas pode não ter custo fiscal direto, mas traz de volta a política de se escolherem setores beneficiados sem garantia de que haverá a retomada da economia.
“Parece que o diagnóstico está errado”, diz o economista Thiago Curado, da 4E Consultoria. “O país precisa de mais investimentos, é verdade, mas eles só vão voltar quando houver um cenário político menos turbulento e um ajuste fiscal crível.” Para ele, o problema central da economia hoje não é a falta de crédito, como parece acreditar o governo, mas de demanda reprimida pela falta de confiança de empresários e consumidores.
É preciso criar a cultura de haver empreendimentos que funcionam no modelo de PPPs. Eles aliviam o setor público e evitam o inchaço da máquina do Estado.
“O que nos preocupa é o ajuste fiscal”, diz José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Segundo ele, o mais importante para o setor não é o lançamento de um novo PAC ou um grande plano de crédito, mas o pagamento do que o governo deve às construtoras – são R$ 7 bilhões, necessários para que obras em andamento não sejam paralisadas. “Além disso, gostaríamos que o governo desse prioridade para as PPPs.”
A notícia de que haverá mais dinheiro barato no mercado pode não ser suficiente para destravar investimentos. O clima econômico e a existência de projetos viáveis para serem licitados são fatores que precisam entrar na conta do governo para a retomada. “Não adianta ter dinheiro se os empresários não querem investir mais”, resume o economista Alexandre Andrade, da consultoria GO Associados.
A falta de confiança coloca em dúvida também a eficácia da linha de capital de giro para pequenas empresas, estranguladas pela recessão e sem acesso a crédito de baixo custo. A dúvida aqui é se os recursos gerariam novos investimentos ou só substituiriam um dinheiro mais caro que seria tomado emprestado de qualquer forma.
Mesmo no front externo, no qual o câmbio ajuda, o lançamento de novas linhas de crédito pode não fazer muita diferença em um cenário de desaceleração da China e de pressão para a proteção do mercado interno. “Quando o governo começa a atender demandas setoriais, abre-se espaço para essas reivindicações protecionistas que vão na contramão do que o país precisa para crescer”, diz Andrade.
Montadoras
Programas para a renovação de frota são muito usados pelo mundo para estimular a economia. Na crise de 2008, o governo dos Estados Unidos criou uma ação do gênero que consumiu US$ 3 bilhões para a troca de veículos ”beberrões”. “Há muitas vantagens nesse tipo de programa, como a redução de acidentes e da poluição”, diz o consultor do setor automotivo Raphael Galante, da Oikonomia. “Mas isso não sai de graça.”
Balão de ensaio
Veja as linhas de ação que o governo está preparando:
Pequenas empresas
Medida
Liberação de crédito com taxas baixas para capital de giro.
Vantagens
Alivia o caixa das empresas.
Limitações
O crédito não necessariamente criará mais demanda.
Construção civil
Medidas
Ampliação do crédito com o FGTS.
Vantagens
As medidas podem segurar o desemprego e gerar demanda.
Limitações
As licitações de projetos de infraestrutura têm sido lentas.
Setor automotivo
Medida
Crédito para troca de veículos.
Vantagens
Cria uma demanda nova.
Limitações
A conta pode ter de ser paga pelo contribuinte.
Reforma trabalhista
Medida
Atualização de leis trabalhistas.
Vantagens
É possível reduzir custos para as empresas com a reforma.
Limitações
Exige negociação no Congresso.
Comércio exterior
Medidas
Linhas de crédito baratas e novas negociações comerciais.
Vantagens
Pode facilitar a recuperação de mercados perdidos.
Limitações
Os acordos demoram a ser fechados.
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