O Brasil deverá contar com o dobro de estoques de etanol ao final da atual safra de cana do centro-sul, em março de 2011, e o governo avalia que não será necessário fazer mudanças na mistura do biocombustível na gasolina, como o ocorrido no início de 2010, para atenuar uma disparada de preços.
Ao contrário, segundo o secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Marco Antônio Martins Almeida, há até a possibilidade de os preços do etanol caírem ao final da temporada 2010/11, com usinas desfazendo-se de estoques antes da entrada da próxima safra.
Um maior consumo de etanol aliviaria a demanda por gasolina, e não haveria necessidade de importações do combustível fóssil, como ocorreu nos primeiros meses deste ano.
"O cenário que a gente está vendo hoje sugere não mexer no percentual de mistura e nem importar gasolina", afirmou Almeida, em entrevista à Reuters na noite de quinta-feira.
Ele disse que a expectativa com a qual o governo trabalha hoje é de que os estoques de passagem de etanol 2010/11 somem cerca de 1,2 bilhão de litros.
No fim da entressafra passada (2009/10), os estoques estavam na casa dos 600 milhões de litros, após problemas climáticos terem afetando da safra de cana e por conta de um consumo elevado nos primeiros meses da temporada, quando os preços estavam baixos.
"Quando chegar no fim da entressafra e os produtores identificarem que os estoques deles de passagem estão elevados, provavelmente vão querer colocar o produto no mercado e existe a possibilidade de o preço cair no final da entressafra", disse Almeida.
Segundo ele, a previsão de aumento de estoques se justifica por uma combinação de fatores, como o aumento da produção e a redução das exportações.
As usinas tinham até 15 de outubro estoques de 7,7 bilhões de litros de etanol, 58 por cento a mais do que até o mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério da Agricultura.
"A produção nesta safra deve superar a anterior em 2 bilhões de litros, e as exportações devem se reduzir de 3,5 bilhões para 1,5 bilhão de litros."
Açucar em alta
O secretário ponderou que a atual elevação nos preços do etanol, que também tem reduzido o consumo pelos carros flex em alguns Estados do país, deve-se ao fato de os produtores estarem capitalizados por conta da alta do preço do açúcar, que atingiu máxima de 30 anos na bolsa de Nova York nesta semana.
"Eles não estão precisando colocar o produto no mercado a qualquer preço", disse. "Só que, quando chegar no final da entressafra, se o estoque de passagem estiver muito alto, isso é prejuízo para eles", acrescentou.
Nesse cenário, Almeida acredita que na próxima entressafra não será necessário alterar o percentual de mistura do etanol na gasolina para aumentar a oferta do combustível renovável no mercado.
Hoje, a adição de etanol anidro à gasolina está em 25 por cento, mas em ocasiões anteriores, como no início deste ano, o governo reduziu temporariamente a mistura para 20 por cento para aumentar a oferta de etanol no mercado e reduzir seu preço.
O secretário também não acredita que será necessário importar gasolina para compensar um eventual aumento do consumo do combustível fóssil, estimulado pela atual alta no preço do etanol.
"Mas, se acontecer, não tem o menor problema, pois gasolina é uma commodity disponível no mercado a qualquer hora", disse.
Em entrevista à Reuters nesta semana, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse que as refinarias da estatal podem aumentar em até 30 mil barris diários a fabricação de gasolina antes de ter que importar o produto, se uma contínua elevação de preços do etanol direcionar mais consumidores para a gasolina.