Incertezas políticas na Europa provocaram tumulto nos mercados do mundo inteiro ontem, derrubando a Bolsa de Valores de São Paulo e fazendo a cotação do dólar atingir R$ 2 no Brasil.O Ibovespa, principal índice do mercado de ações no Brasil, caiu 3,21% e fechou em 57.539 pontos.
O dólar alcançou R$ 2 logo depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarar que o governo não fará nada para frear a valorização da moeda americana. "O dólar alto beneficia a economia brasileira", disse Mantega. Segundo ele, o governo "nunca estabeleceu parâmetro para o dólar" e deixará o câmbio flutuar. Ao longo do dia, o movimento perdeu força e o dólar fechou valendo R$ 1,99, com alta de 1,73%.
A bolsa brasileira foi uma das que mais sofreu perdas hoje no mundo. O Ibovespa atingiu o nível mais baixo desde 29 de dezembro, praticamente anulando os ganhos acumulados neste ano. Nos principais mercados europeus e dos Estados Unidos, os índices caíram. Em Londres, o FTSE registrou baixa de 1,97%; em Madri, a redução do Ibex foi de 2,66%; em Paris, o CAC teve queda de 2,29%; o DAX, de Frankfurt, caiu 1,94%. Em Nova York, o Dow Jones recuou 0,98%.
O principal motivo apontado pelos analistas para a instabilidade nos mercados foi a dificuldade encontrada pelos partidos políticos da Grécia para formar um novo governo de coalizão. O impasse na Grécia reforça as dúvidas sobre a permanência do país na zona do euro e a recuperação da atividade econômica na Europa. Investidores do mundo todo fugiram das aplicações de maior risco e buscaram refúgio em opções consideradas mais seguras, como os títulos do governo dos Estados Unidos, valorizando o dólar.
O governo brasileiro conta com a alta do dólar para reanimar a indústria nacional e estimular o crescimento da economia. O dólar mais caro inibe importações e valoriza as exportações brasileiras. Mas a alta também aumenta os custos de produção e provoca aumentos de preços no Brasil, gerando pressões para que o governo intervenha no mercado para evitar que a inflação escape ao controle.
"A formação de preços do câmbio é influenciada pela percepção de que o governo deseja o real desvalorizado", disse Natan Blanche, sócio da consultoria Tendências. Segundo ele, a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff parece avaliar que o risco de que a alta do dólar gere inflação ainda é pouco preocupante. Haveria por dois motivos para isso: o repasse do câmbio para os preços no Brasil diminuiu nos últimos anos e o Banco Central ainda tem como reagir, se preciso.
Mesmo assim, técnicos avaliam que o governo deve evitar que o dólar se descole da cotação de R$ 2. Até esse patamar, a avaliação é que não deve haver pressões exageradas sobre a inflação, não comprometendo a estratégia do BC de seguir reduzindo as taxas de juros.
Sem euro, gregos sofrerão aversão global
Agência Estado
No caso de ruptura da zona do euro, o cenário previsto para a Grécia é devastador. Primeiro, haveria necessidade de decretação de feriado bancário para a reintrodução de nova moeda. Questiona-se se as instituições gregas teriam como promover uma reestruturação assim.
O país seria palco de uma corrida bancária e teria de introduzir controles de capital para estancar a fuga. "Seria bastante desordenado", afirmou um profissional da City londrina.
Projeções do BNP Paribas apontam que a economia grega encolheria 20%, a inflação subiria entre 40% e 50% e a relação entre dívida e PIB dispararia para 200%. A nova moeda passaria por uma maxidesvalorização. Com setor exportador limitado, economistas também acreditam que o país não poderia aproveitar o ganho de competitividade. "Mesmo se der um calote em toda a dívida, o nível de gastos seria impraticável para uma Grécia sozinha, sem a ajuda financeira externa", avalia Paolo Pizzoli, analista do ING.