Moeda de euro: crise grega pode levar o país a voltar à dracma| Foto: Tony Gentile/ Reuters

Saída da zona do euro deixa de ser tabu

Agência Estado

O debate sobre uma possível saída da Grécia da zona do euro cresceu nos últimos dias, como refletem os comentários de diversas autoridades da União Europeia e analistas mostrando preocupação com a situação confusa do país. Após as eleições realizadas no último dia 6, os líderes dos principais partidos políticos gregos têm sugerido que querem uma renegociação dos termos do segundo pacote internacional de resgate, de 130 bilhões de euros.

Alguns dos principais críticos da Grécia são alemães. O ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, alertou que o preço da possível saída dos gregos do bloco monetário seria muito alto, tanto para o país como para a região. Segundo ele, essa decisão resultará em uma desvalorização da moeda grega e em um empobrecimento da população. Já o presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, disse que é muito simplório acreditar que os problemas da Grécia seriam resolvidos pela saída da zona do euro e o retorno ao dracma.

O comissário europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, alertou no sábado que os gregos precisam "tomar as decisões necessárias" para permanecer na zona do euro. "É claro que a bola está agora no campo da Grécia, na mão do povo grego", comentou. Mas ele ressaltou que a UE está "certamente mais resiliente agora do que dois anos atrás" diante de uma possível saída dos gregos. "A Europa também sofreria, mas a Grécia sofreria mais, especialmente a camada mais baixa da população", comentou Rehn. Mesmo assim o comissário disse que "ainda acredita" que a Grécia pode permanecer no bloco.

Talvez a declaração mais concreta de que a saída dos gregos está sim sendo discutida pelas autoridades europeias tenha sido feita pelo vice-presidente do banco central da Suécia, Per Jansson. Segundo ele, o assunto foi debatido pelos bancos centrais do bloco, que inclusive conversaram sobre como lidariam com as repercussões de um evento desse porte.

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Incertezas políticas na Europa provocaram tumulto nos mercados do mundo inteiro ontem, derrubando a Bolsa de Valores de São Paulo e fazendo a cotação do dólar atingir R$ 2 no Brasil.O Ibovespa, principal índice do mercado de ações no Brasil, caiu 3,21% e fechou em 57.539 pontos.

O dólar alcançou R$ 2 logo depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarar que o governo não fará nada para frear a valorização da moeda americana. "O dólar alto beneficia a economia brasileira", disse Mantega. Segundo ele, o governo "nunca estabeleceu parâmetro para o dólar" e deixará o câmbio flutuar. Ao longo do dia, o movimento perdeu força e o dólar fechou valendo R$ 1,99, com alta de 1,73%.

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A bolsa brasileira foi uma das que mais sofreu perdas hoje no mundo. O Ibovespa atingiu o nível mais baixo desde 29 de dezembro, praticamente anulando os ganhos acumulados neste ano. Nos principais mercados europeus e dos Estados Unidos, os índices caíram. Em Londres, o FTSE registrou baixa de 1,97%; em Madri, a redução do Ibex foi de 2,66%; em Paris, o CAC teve queda de 2,29%; o DAX, de Frankfurt, caiu 1,94%. Em Nova York, o Dow Jones recuou 0,98%.

O principal motivo apontado pelos analistas para a instabilidade nos mercados foi a dificuldade encontrada pelos partidos políticos da Grécia para formar um novo governo de coalizão. O impasse na Grécia reforça as dúvidas sobre a permanência do país na zona do euro e a recuperação da atividade econômica na Europa. Investidores do mundo todo fugiram das aplicações de maior risco e buscaram refúgio em opções consideradas mais seguras, como os títulos do governo dos Estados Unidos, valorizando o dólar.

O governo brasileiro conta com a alta do dólar para reanimar a indústria nacional e estimular o crescimento da economia. O dólar mais caro inibe importações e valoriza as exportações brasileiras. Mas a alta também aumenta os custos de produção e provoca aumentos de preços no Brasil, gerando pressões para que o governo intervenha no mercado para evitar que a inflação escape ao controle.

"A formação de preços do câmbio é influenciada pela percepção de que o governo deseja o real desvalorizado", disse Natan Blanche, sócio da consultoria Tendências. Segundo ele, a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff parece avaliar que o risco de que a alta do dólar gere inflação ainda é pouco preocupante. Haveria por dois motivos para isso: o repasse do câmbio para os preços no Brasil diminuiu nos últimos anos e o Banco Central ainda tem como reagir, se preciso.

Mesmo assim, técnicos avaliam que o governo deve evitar que o dólar se descole da cotação de R$ 2. Até esse patamar, a avaliação é que não deve haver pressões exageradas sobre a inflação, não comprometendo a estratégia do BC de seguir reduzindo as taxas de juros.

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Sem euro, gregos sofrerão aversão global

Agência Estado

No caso de ruptura da zona do euro, o cenário previsto para a Grécia é devastador. Primeiro, haveria necessidade de decretação de feriado bancário para a reintrodução de nova moeda. Questiona-se se as instituições gregas teriam como promover uma reestruturação assim.

O país seria palco de uma corrida bancária e teria de introduzir controles de capital para estancar a fuga. "Seria bastante desordenado", afirmou um profissional da City londrina.

Projeções do BNP Paribas apontam que a economia grega encolheria 20%, a inflação subiria entre 40% e 50% e a relação entre dívida e PIB dispararia para 200%. A nova moeda passaria por uma maxidesvalorização. Com setor exportador limitado, economistas também acreditam que o país não poderia aproveitar o ganho de competitividade. "Mesmo se der um calote em toda a dívida, o nível de gastos seria impraticável para uma Grécia sozinha, sem a ajuda financeira externa", avalia Paolo Pizzoli, analista do ING.

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