O governo da Grécia apresentou formalmente o pedido de um terceiro pacote de resgate pelo Mecanismo de Estabilidade Europeu nesta quarta-feira (8). O pedido terá que ser complementado com uma proposta detalhada de reformas da economia do país, a ser apresentada em no máximo dois dias.
O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, pediu que o resgate da União Europeia represente “uma luz no fim do túnel” para seu país, em discurso diante do Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), na manhã desta quarta.
Mais uma vez, Tsipras deixou de citar medidas concretas que seu governo estaria disposto a adotar, e que estão sendo insistentemente cobradas pelos líderes da UE. O prazo final para o governo grego é sexta-feira (10), segundo foi estabelecido em reunião de emergência do Eurogrupo na noite desta terça.
Novas medidas
Em Atenas, líderes dos partidos de oposição estão pedindo que o governo apresente as novas medidas para discussão no Parlamento grego. O establishment político grego apoia as negociações, desde que o resultado seja a permanência na zona do euro.
O discurso de Tsipras teve um tom político antiausteridade, respaldado pelo resultado do plebiscito de domingo, no qual 61% dos gregos disseram “não” a novas medidas que possam aprofundar a recessão. A economia grega encolheu 25% nos últimos cinco anos, desde que começaram os programas de resgate.
Tsipras, que está no poder desde janeiro, disse que a Grécia foi convertida em um “laboratório de austeridade”. Segundo ele, a experiência não foi bem-sucedida e exauriu a capacidade de resistência do povo grego.
“Nos últimos cinco anos, vimos uma explosão da pobreza e do desemprego, a marginalização social aumentou, assim como a dívida pública, que é agora de 180% do PIB grego”,disse Tsipras.
Agenda
O líder do partido de esquerda Syriza foi enfático ao afirmar que a Grécia precisa de uma agenda para o crescimento. “Queremos um acordo com nossos sócios que nos dê um sinal de que estamos saindo da crise, de que há uma luz no fim do túnel”, disse o premiê.
Tsipras prometeu apresentar em dois dias as propostas de reformas que os líderes da UE exigem, mas não deu pistas sobre quais medidas serão colocadas no papel.
A imprensa grega especula que ele pode aceitar aumentos de impostos, mas resiste a uma reforma previdenciária profunda e a aprofundar os cortes no orçamento militar.
Tsipras disse ainda que é preciso discutir a sustentabilidade da dívida grega, e que “não pode haver assuntos tabu”, em um recado à chanceler alemã, Angela Merkel, que se nega a discutir a reestruturação da dívida grega antes que um novo acordo seja firmado.
Outros governos europeus, como os da França e da Itália, são mais receptivos a esse tema. Mas, ao fim da reunião do Eurogrupo desta terça, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, descartou a possibilidade de essa discussão ser aberta antes de outubro.
Dos mais de 329 bilhões de euros que foram emprestados à Grécia nos últimos anos, 194 bilhões são devidos ao Eurogrupo.
Tsipras disse que o dinheiro emprestado foi destinado ao resgate de bancos e não trouxe benefícios para a maior parte da população.
“Esse dinheiro foi dado para salvar os bancos gregos e europeus. Nunca chegou ao cidadão grego comum”, disse Tsipras.
Ao final do discurso, o premiê disse que, apesar das críticas aos credores, ele não põe a culpa dos problemas gregos nos “estrangeiros malvados”. Tsipras afirmou que a Grécia “chegou às portas da bancarrota porque durante muitos anos os governos gregos têm sido clientelistas e corruptos, têm permitido a evasão fiscal”.
Ele disse que as reformas implementadas até agora não aumentaram a capacidade de arrecadação nem melhoraram a eficiência do Estado grego, e prometeu apresentar medidas que “mudarão a face do país”.