Os gregos votaram em massa neste domingo (5) pela rejeição do pacote de resgate ao país, arriscando a própria ruína financeira em uma demonstração de resistência que pode fragmentar a União Europeia (UE). Com 94,49% dos votos no referendo apurados (por volta das 20 horas de Brasília), os números oficiais marcavam que 61,3% dos gregos votaram no “não” – contra a atual oferta de resgate ao país – e 38,7% no “sim”.
A surpreendente e robusta vitória do “não” derrubou as pesquisas de opinião, que previam um resultado muito parelho. Ela também deixa a Grécia à deriva em águas desconhecidas: arriscando a ruína financeira, o isolamento político dentro da zona do euro e o colapso bancário se os credores negarem ajuda daqui em diante.
Mas para milhões de gregos o resultado foi uma mensagem raivosa aos credores de que a Grécia não pode mais aceitar repetidas rodadas de austeridade que, em cinco anos, deixaram um em cada quatro pessoas sem emprego no país. O primeiro-ministro, Alexis Tsipras, denunciou que o preço a se pagar pela aceitação do resgate seria “chantagem” e “humilhação” nacional.
Em pronunciamento, Tsipras afirmou que o referendo deste domingo marcou uma página virada na história da Grécia e que a democracia “não pode ser chantageada”. Ele disse que seu governo está pronto para voltar imediatamente com as negociações com os credores nesta segunda-feira (6). O premiê afirmou que o referendo deu mandato para que o governo alcance uma solução viável para a situação financeira do país e que não há saídas simples, mas sim que há saídas justas desde que ambos os lados da mesa de negociação queiram isso.
“Não à austeridade”
Membros do governo da Grécia, que disseram que o “não” reforçaria a capacidade do país de assegurar um melhor acordo com os credores internacionais após meses de discussão, imediatamente disseram que iriam trabalhar para recomeçar as conversas com os parceiros europeus.
“O ‘não’ de hoje é um não à austeridade. É um retorno aos valores da Europa. O não é um grande sim à Europa democrática”, afirmou o ministro para ressaltar que o resultado do referendo é “uma grande ferramenta de colaboração com os sócios europeus”, disse o ministro de Finanças Yanis Varoufakis.
O integrante do partido governista da Grécia, Syriza, e membro do parlamento europeu, Dimitris Papadimoulis, afirmou que o “povo grego está provando que quer permanecer na Europa” de maneira igualitária, e “não como uma colônia da dívida”.
Águas turbulentas
A vitória do “não” põe a Grécia e a zona do euro em águas nunca antes navegadas. Incapaz de pegar emprestado dinheiro dos principais mercados, a Grécia agora tem uma das dívidas públicas mais altas do mundo.