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Crise das dívidas

Grécia ganha nova ajuda da UE

A chanceler alemã, Angela Merkel, “venceu” ao conseguir que a iniciativa privada divida parte das perdas com a Grécia | John Thys/AFP
A chanceler alemã, Angela Merkel, “venceu” ao conseguir que a iniciativa privada divida parte das perdas com a Grécia (Foto: John Thys/AFP)

Bruxelas - Líderes europeus reunidos ontem em cúpula extraordinária em Bruxelas, na Bélgica, aprovaram um programa de 159 bilhões de euros (R$ 355 bilhões) em ajuda à Grécia que provavelmente levará ao primeiro calote da história do euro.

O plano de 16 pontos se baseia em três pilares: ampliação de prazos e reestruturação de títulos, redução das taxas de juros para empréstimos e contribuição de investidores privados – esse último ponto, uma vitória da chanceler alemã, Angela Merkel.

Do pacote, 109 bilhões de euros são financiamentos oficiais – vindos de fundos da zona do euro, FMI e privatizações gregas. Os outros 50 bilhões de euros são contribuições "voluntárias" de credores privados – mas, na verdade, eles têm pouca escolha, uma vez que a alternativa é não receber nada do que investiram.

Pelo modelo desenhado, eles terão um menu com quatro opções de participação: três formas distintas de trocas de títulos e um plano de rolagem. A estimativa é de uma perda de 21% do valor líquido que detêm em títulos da dívida grega.

Além disso, empréstimos gregos no âmbito do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês), terão o prazo estendido dos atuais 7,5 anos para o mínimo de 15 anos e o máximo de 30 anos, com um período de carência de dez anos. Os juros desses empréstimos caem de 4,5% para 3,5%. Essas condições também serão estendidas para Por­tugal e Irlanda.

Diante do potencial impacto sobre os mercados e o perigo de contágio, líderes europeus reforçaram a mensagem de que se trata de uma solução única para uma situação única. "A situação da Grécia é diferente da dos demais países e que por isso exige uma resposta excepcional", disse o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy. "O envolvimento do setor privado vai se limitar à Grécia e apenas à Grécia."

"Não acredito que os especialistas considerem que o que foi decidido hoje [ontem] vá provocar um acontecimento de crédito", disse o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet. Um "acontecimento de crédito" ocorre quando o calote de um país leva à ativação de contratos de seguro contra o risco de quebra desse país.

Agências

Ontem, porém, agências de qualificação de risco sinalizaram que devem considerar a situação grega como "calote seletivo", uma vez que, qualquer que seja a opção, o investidor terá perdas. A cúpula anunciou ainda um "tipo europeu de Plano Marshall" para estimular o crescimento da Grécia. "Criamos uma força-tarefa para dar assistência técnica e ajudar a implementar reformas", explicou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

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Repercussão

Veja o que alguns analistas econômicos falaram sobre o pacote de ajuda à Grécia. Para eles, o pacote se restringiu aos gregos, e faltou uma política de ajuda mais clara para os outros países com problemas.

Inflação vai aumentarSimon Black, do site Sovereign Man

A proposta é tão deliberadamente vaga que os líderes europeus podem voltar para casa e falar aos constituintes o que bem entenderem. Angela Merkel pode falar aos eleitores alemães que os franceses vão pagar o resgate. [Nicolas] Sarkozy pode falar aos eleitores franceses que os alemães vão pagar. É um ganha-ganha. (…) A cada dia, torna-se cada vez mais evidente que o sistema financeiro como o conhecemos vai quebrar. Os Estados Unidos e a união monetária europeia, cujas moedas compõem a quase totalidade das reservas fiduciárias mundiais, vão, ambos, desvalorizar suas moedas. Isso vai elevar a inflação da mesma maneira que qualquer pessoa que detém um papel da dívida grega tentará comercializá-lo o quanto antes. Todo esse dinheiro precisa ir para algum lugar... e certamente boa parte vai alimentar o preço das commodities (o que se traduz em mais inflação).

E a Espanha? E a Itália?Megan McArdle, da revista The Atlantic

Mesmo que talvez esse pacote ajude a Grécia, e o resto da periferia da zona do euro? Para eles, esse plano é o equivalente a dizer: "A austeridade vai continuar até que o moral melhore". Os spreads dos títulos espanhois, italianos, portugueses e irlandenses não estão aumentando porque os investidores pensam que a Grécia precisa de uma conversão da dívida, ou porque os políticos de Bruxelas não fizeram anúncios o suficiente sobre as virtudes do corte no orçamento. Eles estão aumentando porque há dúvidas sobre se esses países – ou a Europa – têm os meios econômicos ou a vontade política para assegurar que os investidores serão pagos de volta. (...) Esse plano não respalda de forma adequada a Espanha e a Itália, cujos os títulos da dívida estão subindo de forma consistente; nem sequer há uma tentativa disso. Mas essa sempre foi a verdadeira ameaça para a zona do euro, e não um calote grego.

Foi poucoThe Economist

O compromisso impressionante para manter a Grécia em pé ainda não foi acompanhado por um compromisso de reestruturar as dívidas da Irlanda e Portugal, que provavelmente também estão insolventes. A falha em aumentar os recursos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em inglês) pode reduzir o impacto do plano sobre a confiança nos bancos europeus e na determinação para deter o contágio. E a vaga parte "Plano Marshall" do programa é o único aceno para uma perspectiva de crescimento em toda a periferia europeia. De fato, o acordo reafirma o compromisso da zona do euro para a redução rápida do déficit em 2013. A combinação de austeridade em escala continental e uma postura "falcão" do Banco Central Europeu (BCE) vai assegurar que o crescimento da zona do euro permaneça lento ou negativo nos próximos anos. Isso, por sua vez, vai tornar bastante difícil a vida dos países periféricos, aumentando as chances de que as metas estabelecidas não sejam cumpridas – e que as performances decepcionantes criem novas crises de confiança nos mercados.

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