A expectativa se confirmou e a Grécia não pagou a dívida de 1,6 bilhão de euros com o Fundo Monetário Internacional (FMI) vencida nesta terça-feira (30), transformando-se no primeiro país desenvolvido a dar um calote no Fundo.
Ajuste fiscal é melhor caminho para evitar contágio grego
- brasília
O governo federal acompanha de perto o passo a passo da crise grega. Até aqui houve pouco contágio no mercado brasileiro, seja na avaliação de investidores para títulos públicos e privados ou na cotação do real.
No governo o entendimento na equipe econômica é que o “aprofundamento” do ajuste fiscal, como defende o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é o melhor caminho: ao melhorar as contas públicas e os indicadores fiscais, o Brasil estará melhor posicionado para enfrentar uma piora do cenário mundial. Uma estratégia de defesa somente ficará clara, no entanto, quando a presidente Dilma Rousseff e seus ministros da área econômica voltarem ao Brasil.
Auxiliares presidenciais e técnicos do governo veem os últimos atritos da crise entre a Grécia e a União Europeia com um possível potencial de repetição da turbulência entre os dois que derrubou o crescimento econômico mundial e brasileiro entre o fim de 2011 e ao longo de 2012.
Profusão de pacotes
A estratégia de aprofundar o ajuste fiscal, no entanto, é completamente distinta daquela que o próprio governo Dilma tomou três anos atrás. Naquela oportunidade, o governo reagiu com uma profusão de pacotes com medidas de estímulos, como reduções dos juros, incentivos fiscais diversos e aumento dos gastos públicos. Tanto a taxa básica de juros, a Selic, quanto a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) atingiram suas mínimas histórias.
Segundo o FMI, o país fica impedido de receber novos financiamentos enquanto estiver devedor. O drama aumenta porque expirou também o socorro de 245 bilhões de euros dado pelo FMI e pelo Banco Central Europeu (BCE): os gregos ficaram pela primeira vez desde 2010 sem ajuda financeira externa.
O temor de um colapso econômico gera apreensão pelas ruas de Atenas, capital de um país com o maior desemprego da Europa (25%) e dívida pública de quase 180% do PIB. Os bancos seguem fechados em razão do controle de capital (restrição para transações financeiras, com limite no saque em caixas automáticos) imposto pelo governo há dois dias para evitar a insolvência de suas instituições.
Um grande protesto ocorreu na noite desta terça no centro de Atenas a favor de um acordo com os credores, aumentando a pressão sobre o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza, eleito em janeiro.
Plebiscito
Um plebiscito foi convocado para este domingo (5) para aprovar ou não um acordo. O problema é que, em tese, a proposta em votação – medidas discutidas até sexta passada – não existe mais.
Tsipras tentou uma última cartada na tarde desta terça: propôs estender o prazo do programa de resgate, que expirou durante o dia. Sem essa extensão, os gregos perdem o direito de receber a última parcela (de 7,2 bilhões de euros), necessária para pagar FMI, funcionalismo e pensionistas.
Pediu ainda um socorro de dois anos ao ESM (Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira), fundo vinculado à União Europeia e que foi criado há três anos, depois que a crise grega contaminou outros países da região.
Não deu certo. Os ministros de Finanças do bloco da moeda única, que tem 19 países incluindo a Grécia, negaram a prorrogação. O bloco avisou que deve rediscutir o novo socorro nesta quarta (1º), mas não deu brecha para salvar o país do calote.
O governo da Alemanha se posicionou imediatamente contra o socorro emergencial. A chanceler Angela Merkel quer esperar o plebiscito porque aposta na vitória do “sim”, a favor de uma negociação com a zona do euro, enfraquecendo o premiê grego, que faz campanha pelo “não”. Na segunda (29), Tsipras, que faz campanha abertamente pelo “não”, insinuou que pode renunciar se o “sim” vencer.
Como ainda está aberta a negociação para um novo socorro até sexta-feira (3), não se descarta que o plebiscito seja cancelado – por ora, no entanto, está mantido.
Impasse
O calote no FMI é o capítulo mais dramático de uma novela de cinco meses de negociação, em que credores exigiam medidas de austeridade fiscais não aceitas pela Grécia. Tsipras foi eleito com discurso contrário a esses cortes, negociados pelos governos de centro-direita durante a crise que atingiu o país nos últimos anos.
Gregos votam ‘no escuro’ em plebiscito
Chovia forte nesta terça (30) na praça Sintagma, em frente ao Parlamento, e milhares de pessoas gritavam, muitas delas empunhando a bandeira grega: “Europa, Europa, Europa”.
Enquanto os líderes europeus negavam um socorro de última hora para evitar o histórico calote do país, cerca de 20 mil pessoas, segundo a polícia, defendiam o voto “sim” no plebiscito de domingo (5), a favor de acordo com os credores e da permanência do país na zona do euro.
“Ninguém tem o direito de tirar a Grécia do bloco. Viemos aqui dar essa mensagem para a Europa”, disse a aposentada Rania Alexia, 61 anos. O protesto pró-zona do euro foi uma reação à manifestação de segunda (29) em defesa do premiê Alexis Tsipras (Syriza) e do rompimento com o bloco da moeda única.
Ao votar, a população terá tido apenas uma semana para decidir sobre o assunto (e o futuro do país), já que a consulta foi anunciada no fim de semana por Tsipras.
A votação não é nada simples. Os gregos vão responder à seguinte pergunta: “Deve ser aceito o acordo proposto e submetido por CE (Conselho Europeu), BCE (Banco Central Europeu) e FMI para o Eurogrupo no dia 25 de junho, que consiste em duas partes que formam sua proposta completa?”.
A cédula diz que um documento se chama “Reforma para conclusão do atual programa e além” e o segundo “analise preliminar de sustentabilidade da dívida”.
Os eleitores poderão ter acesso aos documentos na hora da votação.
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