A Grécia está paralisada hoje por uma greve geral de 48 horas, com milhares de trabalhadores de braços cruzados à espera da votação no Parlamento sobre cortes de gastos do governo para o país escapar de um default (não pagamento das dívidas). É a segunda greve geral a atingir o país este mês.
Jovens anarquistas e a polícia entraram em confronto em Atenas, nas proximidades do Ministério das Finanças. Os manifestantes usaram coquetéis molotov, atearam fogo a cestos de lixo e quebraram pedras do asfalto para lançar na polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para dispersar a multidão. Pelo menos uma pessoa teria se ferido.
A paralisação é convocada pelas duas maiores centrais sindicais gregas, contrárias aos cortes apontados pelo mercado como cruciais para a estabilidade financeira da zona do euro. Está em jogo um plano de austeridade de cinco anos, com previsão de cortes de 28 bilhões de euros e um programa de privatização relacionado, que Atenas precisa aprovar em troca de nova ajuda de seus parceiros da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O primeiro-ministro da Grécia, o socialista George Papandreou, disse ontem à noite a parlamentares que apelou aos parceiros do país na Europa para que deem mais tempo e dinheiro para os gregos equilibrarem suas finanças, enquanto ele tenta obter apoio entre os membros de seu próprio partido. "Agora é a hora de responsabilidade para todos nós. Eu sei que o grupo parlamentar socialista fará seu trabalho", afirmou Papandreou. "Nós pedimos à Europa que faça o mesmo: dê tempo à Grécia, mas também as condições que permitam ao país realmente pagar suas dívidas sem naufragar."
A declaração ocorreu no início de um período de dois dias de debates sobre o plano de austeridade do governo, que deve se encerrar com a votação amanhã. O Partido Socialista controla uma maioria de 155 deputados no Parlamento grego, que tem 300 membros. Porém, pelo menos quatro parlamentares socialistas já demonstraram reservas ao avaliar o pacote.
Paralisações
Durante a greve de hoje, os serviços públicos estavam paralisados por todo o país, com escritórios dos governos central e locais fechados. Hospitais públicos funcionavam em esquema de plantão e as operações do correio estavam suspensas. Escolas e universidades também estavam fechadas, com dezenas de milhares de professores parados.
Também havia greve nas empresas estatais - muitas das quais devem ser privatizadas, caso os novos planos sejam aprovados -, e também alguns funcionários em bancos, jornalistas e farmacêuticos faziam suas próprias paralisações.
Os serviços de transporte foram bastante afetados. As operações ferroviárias e por ferry estavam suspensas, e os controladores do tráfego aéreo planejaram uma série de paralisações que levaram ao cancelamento de dezenas de voos. O transporte público no entorno da capital, Atenas, estava paralisado, com apenas o metrô operando para permitir que os trabalhadores se juntem às grandes manifestações previstas para ocorrer ainda hoje.
Em comunicado, a central sindical do setor público, Adedy, afirmou que a greve seria um "catalisador" para reverter o plano de austeridade do governo. Na opinião dessa central sindical, a Grécia deve escapar dos "tubarões" que concedem empréstimos e também das "políticas do governo que se empenham em vender o país".
Em maio do ano passado, a Grécia escapou por pouco de um default com o auxílio de um pacote de 110 bilhões de euros de seus parceiros da zona do euro e do FMI, em troca de reformas fiscais e econômicas. Porém, ainda enfrenta preços proibitivos nos mercados internacionais, por isso deseja um novo pacote de ajuda de 100 bilhões de euros para cobrir suas necessidades de empréstimo para os próximos três anos.
A União Europeia e o FMI, porém, exigem que os gregos aprovem o plano de austeridade, implementem leis e realizem um programa de privatizações estimado em 50 bilhões de euros, antes de receber mais ajuda.