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Transportes

Dez grandes empresas perderam mais de R$ 1 bilhão com greve dos caminhoneiros

Um pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PSL) fez com que o Sindicato dos Transportadores Autônomos do Paraná (Sinditac-PR) se mobilizasse para uma manifestação. O ato, que não teve a intenção de parar as atividades dos trabalhadores, percorreu a Linha Verde na manhã deste sábado (30). Os caminhoneiros reivindicaram o cumprimento da tabela de fretes mínimos e um prazo mínimo de 30 dias para reajuste dos preços do diesel.
Protesto de caminhoneiros no fim de março, pedindo mais atenção do governo: greve de 2018 provocou perdas de mais de R$ 1 bilhão para dez grandes empresas listadas na Bolsa. (Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná)

Dez companhias do Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, somam R$ 1,187 bilhão de perdas com a paralisação dos caminhoneiros em 2018. Os prejuízos aparecem no chamado Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

Das 63 empresas que compõem o índice, 68% destacam efeitos da mobilização em seus balanços. A maioria conseguiu compensar as perdas de maio com bons resultados dos meses seguintes. O segundo trimestre, entretanto, foi pior que o mesmo período de 2017.

As mais afetadas são distribuidoras e produtoras de combustíveis. Raízen Combustíveis, da Cosan, Ipiranga, da Ultrapar, e BR Distribuidora, da Petrobras, perderam R$ 200 milhões cada uma com a queda no preço do diesel decorrente da paralisação.

Em seguida, vêm os frigoríficos, que interromperam o fluxo de abate. A Seara, da JBS, foi afetada em R$ 113 milhões. A Marfrig relatou um impacto estimado de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões no segundo trimestre. Já a BRF relata R$ 85 milhões de perdas no mesmo período.

"No setor de serviços, a perda é irrecuperável. No caso de transportes, isso fica bem claro. Aquela cadeira de avião que ficou desocupada em um voo é um prejuízo que não se recupera", diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

Gonçalves lembra que na produção o dano é menor. O minério pode ficar dias sem ser transportado. Mas todos sofrem com estoques. "O estoque arrebenta muita gente porque o capital de giro fica descasado: você vende menos do que o esperado e ainda tem contas para pagar. Quando você tem uma variação no estoque que não está na sua conta, o efeito financeiro pode ser muito grande", diz.

Com bloqueio nas estradas e a falta de combustíveis, CCR e Ecorodovias perderam fluxo de pedágios e registraram perdas de R$ 26 milhões e R$ 15 milhões, respectivamente.

A indústria primária viu os estoques e o preço de custo aumentarem. O movimento dos caminhoneiros foi uma das razões de a petroquímica Braskem registrar uma redução de 20% no Ebitda.

Distribuidoras de energia sofreram com a queda de consumo pela paralisação da indústria. A Equatorial Energia, controladora das distribuidoras Ceal, Cemar, Celpa e Cepisa, relatou queda de 4,8% no consumo das indústrias no comparativo do segundo trimestre de 2018 e 2017.

O varejo também sofreu reveses. As companhias, contudo, supriram a queda nas vendas com o bom desempenho do segundo semestre.

A Natura, por exemplo, viu sua margem bruta cair 2% no período em comparação a 2017 em razão do aumento de custo de produção com a paralisação, promoções e efeitos cambiais. A produção de sabonetes da companhia também retrocedeu no período.

"O impacto é o mesmo que retirar esses dez dias de paralisação do calendário anual, como se eles não existissem para a produção das empresas. A paralisação interrompeu a logística completamente e a situação demorou a se normalizar", diz Gabriel Francisco, analista da XP Investimentos.

Ele lembra que a economia não teve bom desempenho, então, as companhias não tinham como se recuperar bem. "Teríamos de ter tido um segundo semestre maravilhoso, mas foi ano de eleição conturbada."

A agropecuária, setor mais prejudicado, cresceu 0,1% no ano. A indústria, 0,6%, e os serviços, 1,3%.

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