A greve dos bancários em outubro afetou os indicadores do mercado de crédito. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, muitas agências não abriram, o que dificultou o acesso dos clientes às operações mais baratas, como o consignado por consequência, subiu a busca por opções mais caras, como o cheque especial.
"A greve se refletiu nas estatísticas porque os empréstimos que são tomados nas agências são mais baratos. E o acesso a essas operações ficou mais restrito, até pela dificuldade de o cliente entrar na agência", explicou Maciel, acrescentando que clientes que não conseguiram realizar essas operações buscaram empréstimos mais caros.
O chefe do Departamento Econômico do BC explicou que a concessão de empréstimos no consignado, por exemplo, caiu 13,4% em outubro na comparação com setembro. Já a concessão de crédito via cheque especial teve expansão de 4,3%. "As operações pré-aprovadas tiveram crescimento mais forte e ajudaram a elevar a média geral do juro praticado em outubro", disse.
Para Maciel, a greve afetou até a inadimplência, que subiu em outubro. "Tivemos relatos de que esse indicador também foi afetado pela greve porque clientes que queriam renegociar débitos não conseguiram porque agências estavam fechadas. Por isso, é preciso ter certa cautela com o indicador da inadimplência no mês passado", disse.
Sem bolha
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que, daqui para a frente, a oferta de crédito no Brasil não poderá crescer como no passado, para não recair em risco de elevado endividamento. "Temos de calibrar, para que a população não se endivide", disse ele durante audiência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. "O crédito cresceu, mas não chega a ser um problema. Não temos risco de bolha em nenhum setor", avaliou.
Segundo o ministro, a dívida das famílias também aumentou nos últimos anos. "Na verdade, subiu porque não tinha crédito no passado e tínhamos de corrigir isso tudo", explicou. Mantega ressaltou que o governo tomou cuidado para que o país não sofresse como a Espanha. "Vou parar de falar, a situação já está suficientemente complicada na Espanha para eu dar opinião", disse, acrescentando que, no caso brasileiro, não há subprime. "Nós cuidamos dessa bolha. Agora abriu-se a possibilidade de crédito, mas a população tem emprego", comparou.
Mantega disse também que é preciso levar os juros brasileiros ao mesmo patamar das taxas internacionais. "Metade dos juros hoje é por conta do custo das reservas brasileiras", afirmou.