Mesmo fraca, greve queima estoques
Os caminhoneiros que entraram em greve ontem ainda são minoria, mas têm força para provocar ameaça de desabastecimento de produtos perecíveis
- Mesmo fraca, greve queima estoques
- Filas de até 40 caminhões foram registradas na PR-182
- Quatro caminhoneiros são presos após tumulto em piquete
- Pelo menos 250 caminhões estão parados em Astorga e Campo Mourão
- Caminhoneiros aderem à greve e fazem piquete em estradas do PR
- "Lei do Caminhoneiro" encarece frete e estimula greve nacional
A greve dos caminhoneiros gerou tumulto na madrugada desta quinta-feira (26) na região Central do Paraná. O posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Guarapuava registrou depredação de cerca de 20 caminhões de motoristas que não aderiram à manifestação na BR-277 entre Irati e a região de Guarapuava. Nenhum motorista relatou as ocorrências à PRF e os agentes não puderam, por isso, fazer uma busca para chegar aos responsáveis.
No caso mais grave, às 21 horas desta quarta-feira (25), um motorista de um veículo de carga foi atingido por uma pedra no quilômetro 347, da BR-277, a cerca de dois quilômetros do posto de combustíveis Guarapuavão. A PRF atendeu a ocorrência e ele foi encaminhado com ferimentos leves para um hospital de Guarapuava, sem gravidade.
Em decorrência dos registros, a Justiça Federal proibiu a interdição do tráfego de caminhões na BR-277. A proibição foi concedida pela juíza Cristiane Maria Bertolin Polli depois de a EcoCataratas concessionária que administra a rodovia solicitar o recurso. A decisão prevê multa de R$ 1 mil por hora de bloqueio a cada um dos manifestantes identificados em caso de desobediência à ordem judicial.
No final da tarde de quarta-feira (25), em Mandirituba, quatro caminhoneiros foram presos pela PRF local depois de denúncias de que teriam jogado pedras em caminhões que não aderiram à greve no Paraná. A prisão ocorreu depois de um piquete, com o objetivo de parar caminhões, feito na BR-116, quilômetro 152, entre Quitandinha e Mandirituba.
Na PR-151, município de Furnas, manifestantes atearam fogo em pneus, bloqueando a pista. Um caminhão-pipa da concessionária que administra a via foi acionado para apagar o incêndio.O Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) no Paraná alega que não tem ligação com os incidentes. De acordo com o presidente estadual do Mubc, Neori Leobet, a metodologia da manifestação continua a mesma, com piquetes de parada e orientação aos caminhoneiros nas estradas e paralisação das viagens. "Nós queremos ajudar a família do irmão caminhoneiro, não queremos prejudicar ninguém", relata Leobet.
Conforme a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), nos piquetes os manifestantes abordam caminhões de carga, convocando os colegas a aderir a paralisação. Na maioria dos casos, o tráfego de outros veículos carros, motos e ônibus é liberado. Mesmo assim, foram registrados congestionamentos e pontos de lentidão no estado no segundo dia de manifestações.
Policiamento preventivo
A PRF de Guarapuava informou que pela falta de registro das ocorrência por parte dos caminhoneiros que tiveram os veículo apedrejados, não é possível apurar o caso para chegar aos autores. No entanto, o posto da região central do Paraná informou que fará um policiamento preventivo, na tentativa de evitar novos casos. Os pontos mais críticos, segundo a PRF da região, estão nas proximidades de Guarapuava, no quilômetro 345 da BR-277, e na região do quilômetro 247, na BR 373, em Guamiranga.
Pontos de parada
Durante o dia, na rodovia PR-182, caminhoneiros paravam seus colegas no município de Realeza, onde a pista chegou a ser completamente interditada pela manhã e houve congestionamento. Depois do intervalo de almoço, não houve informações de que a paralisação da rodovia tenha sido retomado. A estrada foi liberada às 11h20.
No outro ponto da PR-182, no município de Toledo, os caminhoneiros também interromperam temporariamente o piquete que acontecia nas primeiras horas do dia, que foi restabelecido à tarde com trânsito liberado apenas para automóveis, transportes de passageiros e carga viva até o final da tarde, de acordo com a PRE.
Em Iporã, houve manifestação no trevo PRC-272. Também foram registrados piquetes na PR-180, no trevo de Dois Vizinhos, e na PR-483, em Francisco Beltrão, pela manhã. Na BR 277, na saída de Guarapuava, informações divulgadas pela PRE apontam que a via chegou a ser interditada no sentido Curitiba das 14h30 as 16h30 para veículos de grande porte.
No final da tarde, na PRE-471, próximo ao quilômetro 223, uma fila de 30 caminhões se formou por causa de um piquete. O tráfego foi liberado das 16h30 às 17 horas, e depois a PRE não confirmou a retomada do bloqueio.
Na quarta-feira, primeiro dia de greve, houve 18 pontos de manifestação em estradas paranaenses e mais de 50 em todo o país, segundo o MUBC. A estimativa da organização que puxa as reivindicações é de que pelo menos dez estados aderiram à paralisação.
Reivindicações
A mobilização é uma reação a pontos da chamada Lei do Caminhoneiro em vigor desde junho deste ano que limitou a jornada de trabalho a 10 horas para os contratados e a 12 horas para os autônomos. Outra exigência são intervalos de 30 minutos a cada 4 horas trabalhadas e um repouso ininterrupto de 11 horas a cada 24 horas. Os caminhoneiros querem a suspensão da lei até que sejam construídos "pontos de paradas", onde os veículos possam permanecer em segurança.
A categoria também contesta pontos da Resolução 3658, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que acaba com a carta-frete e a informalidade na discriminação de custos da contratação de autônomos por parte das transportadoras. Os trabalhadores pedem a suspensão temporária da norma, até que o sistema eletrônico de pagamento seja estruturado.
Os caminhoneiros também reivindicam pontos que garantiriam mais segurança nas estradas. Dentro as solicitações, estão a criação do Fórum Nacional do Transporte, a suspensão imediata da fabricação dos bitrens (composições rodoviárias com nove eixos), aprovação do estatuto dos motoristas, e criação em todo o país de delegacias especializadas em combater roubos de cargas.
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