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A greve dos caminhoneiros autônomos transcorre sem maiores incidentes nesta segunda-feira (01), diante de 29 liminares da Justiça contra bloqueios de rodovias, refinarias e portos, e multas de até R$ 10 mil por dia para pessoa física dos organizadores, em caso de desobediência. Para pessoa jurídica, a violação dos interditos proibitórios pode render multa de R$ 100 mil, em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ou de até R$ 100 milhões, no caso do Paraná.
"Coragem não me falta, o que falta são R$ 100 mil para pagar a multa, se tiver bloqueio", avaliou em entrevista à Gazeta do Povo Carlos Alberto Dahmer, o "Liti", presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sindicam) de Ijuí (RS) e diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL).
A situação nas estradas é monitorada de perto pelo Ministério da Infraestrutura (Minfra) em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal. Até às 17h30, a mais recente atualização no Twitter do Minfra dizia que não havia nenhum registro de bloqueio parcial ou total de rodovias federais ou pontos logísticos estratégicos.
Segundo os boletins, ocorreram apenas atos pontuais, como na Rodovia Presidente Dutra (BR-116), na altura de Pindamonhangaba (SP), em Barra Mansa (RJ) e na região de Itaitinga (CE). O ponto considerado mais relevante da manifestação pela PRF ainda é na altura de Barra Mansa, no km 276, da Dutra, de acordo com o portal UOL.
O chamado à paralisação segue mantido pelos líderes dos caminhoneiros mesmo após a concessão dos com interditos proibitórios de bloqueios. A categoria está descontente com a política de paridade de preços da Petrobras com o mercado internacional e não recebeu bem a proposta de auxílio-diesel de R$ 400,00 cogitado pelo governo para os autônomos. Também defende a constitucionalidade da lei do piso mínimo do frete e o retorno da aposentadoria especial aos 25 anos.
Alguns grevistas avaliam que o movimento está conseguindo atingir seus objetivos, que não envolviam, de imediato, bloquear as estradas. Plínio Dias, presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTCR), disse à Gazeta do Povo que a meta inicial era "diminuir o volume de tráfego nas BRs".
"Tem muitos que passam aqui no posto (de combustíveis), falam com a gente, dizem que vão ficar em casa, que não vão carregar, que vão aguardar o governo chamar a categoria", afirmou Plínio, que comanda uma concentração de caminhoneiros no posto Fedatto, na BR-376, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba.
STF nega autorização para bloqueio de rodovias
Mais cedo, outro mobilizador da categoria revelou planos diferentes para a sequência da greve. Em entrevista a José Luiz Datena, na rádio Bandeirantes, na manhã desta segunda, Wallace Landim, conhecido como "Chorão", disse que seus advogados tentam no STF derrubar as 29 liminares que proíbem a interdição das estradas. "Derrubando as liminares, vamos fechar uma via, como fizemos em 2018. Orientamos que os caminhões fiquem em casa, nos postos, nas empresas", completou.
No entanto, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia negou, nesta noite, o pedido de suspensão das liminares. A ministra considerou que contestar as decisões via mandado de segurança não é apropriado. Com isso, os caminhoneiros seguem proibidos de bloquearem as rodovias e sujeitos a multas, caso descumpram a determinação.
Carlos Alberto Dahmer, da CNTTL, garante que boa parte dos autônomos aderiu à convocação. "Aqueles que estão rodando, no momento, uma minoria, são caminhões de empresas. O próximo passo é deixar os caminhões em casa e ocupar os pontos de trevo. Não adianta greve de pijama, não adianta ficar em casa", enfatiza.
PRF dispersou aglomerações durante manifestação
Os portos do país, segundo o governo, seguem operando dentro da normalidade, após incidentes ocorridos de madrugada. No Porto de Santos, às 2h30h a tropa de choque utilizou bombas de gás para dispersar um protesto e assegurar o livre acesso ao terminal. Uma aglomeração em frente ao Porto de Capuaba (ES) também foi dispersada por agentes da PRF.
Nas rodovias, logo no início do dia, às 6h30, policiais rodoviários atuaram para liberar a circulação de caminhoneiros na BR-116/SP, perto de Pindamonhangaba, que afirmavam não sentir segurança para deixar o local. Pouco mais de uma hora depois os pontos de concentração nas rodovias federais teriam caído para apenas dois: às margens da BR-116/RJ ( Rodovia Presidente Dutra), próximo à Rodoviária de Barra Mansa, e às margens da BR-153-GO, perto de Goiânia.
Dentre as associações que apoiam o movimento grevista, estão a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de cargas (CNTRC) e a Associação Brasileiras de Condutores de Veículos Automotores (ABRAVA), que já atuaram juntas na greve de 2018. Outras entidades, como a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) e a Confederação Nacional do Transporte (CNT) se manifestaram contra a paralisação.