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Transporte

Empresas admitem apoiar caminhoneiros que pararem no dia 1.º; governo e CNT descartam greve

Forte alta dos preços do diesel é um dos motivos para a convocação de greve dos caminhoneiros em 1.º de novembro. (Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo)

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O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, está convicto de que a paralisação nacional dos caminhoneiros autônomos, convocada para 1.º de novembro, não vai ganhar força. Mas mesmo líderes contrários à greve temem que, em algum nível, o movimento possa ganhar adesão. E há uma justificativa para isso: a possibilidade de empresas de transporte rodoviário de cargas apoiarem a paralisação, consentindo que empregados seus parem o trabalho se assim desejarem.

A Gazeta do Povo conversou com líderes da categoria que admitem que há empresários dispostos a apoiar a greve. E ouviu de alguns empresários a confirmação e disposição de apoiar os transportadores autônomos.

Na paralisação de 7 de setembro deste ano, houve indícios de que empresários do setor do agronegócio financiaram e apoiaram os atos contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A diferença, agora, é que a convocação de greve está relacionada a questões econômicas, como a alta do diesel. E contraria o governo, ao passo que a mobilização do feriado da Independência refletia um alinhamento à agenda do presidente Jair Bolsonaro.

Na greve de 2018, pelo menos 20 empresários do setor de transportes foram investigados por suspeita de locaute, prática conhecida como "greve de patrões". Porém, a legislação afirma que a prática é vedada quando busca dificultar o atendimento de reinvindicações dos funcionários, o que não parece ser exatamente o caso agora.

O artigo 17 da lei 7.783/1989, que dispõe sobre o direito de greve, afirma que "fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos respectivos empregados (lockout)".

Por que há empresários dispostos a apoiar a greve dos caminhoneiros

Donos de transportadoras se dizem tão ou mais onerados que os caminhoneiros autônomos no que diz respeito ao custo com o óleo diesel. Como a pauta dos grevistas cobra a redução do preço dos combustíveis – inclusive com demandas por revisões na política de preços da Petrobras –, empresários estão dispostos a apoiar a paralisação.

Desde o início do ano, o preço do diesel subiu mais de 60% nas refinarias da Petrobras, segundo dados da própria estatal – foram quase 10% de alta apenas nesta semana. E 37% nos postos, na média nacional, de acordo com levantamentos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

As empresas ouvidas pela Gazeta do Povo dizem não querer dar o pontapé inicial para uma greve, mas indicam que vão apoiar eventual decisão dos transportadores em aderir. "Se, por exemplo, tiver algum piquete, a gente e outras empresas aderirem, a gente não vai forçar ordem de carregamento para descarregar. Somos solidários com os autônomos", diz um empresário, sob condição de anonimato.

Em caso de bloqueios nas estradas, algumas empresas estão dispostas a autorizar os trabalhadores a encostar o caminhão. "E com o maior prazer. E vou deixar nos pátios o motorista que não tem a intenção de viajar, não vamos forçar nada, porque ele vai poder ficar em casa, que é o que muitos estão sinalizando que farão", reforça o empresário, dono de uma frota de mais de 90 caminhões que operam no país todo.

Essa disposição em apoiar a paralisação é partilhada por outros empreendedores, afirma o empresário. No mercado, há patrões vendendo caminhões pagos e trocando por financiados para ter dinheiro em caixa para sobreviver.

"Desde julho, estou operando no vermelho", diz um outro empresário. "A maioria das empresas com quem eu falo vão agir nessa linha, se resguardar e parar mesmo. Mas alguém tem que dar o primeiro chute, e não vão ser as empresas. Se os caminhoneiros derem o pontapé inicial, as empresas apoiam e fecham tudo", complementa o empresário. Ele não acredita, contudo, na repetição de um cenário como o da greve de 2018.

Caminhoneiros sabem da disposição de empresas em apoiar a greve

Líderes de caminhoneiros autônomos estão cientes da disposição de empresários em apoiar a paralisação. "Se parar o autônomo, para tudo. Para a grande, a média e a pequena empresa. Para eles também não está bom, eles não estão contentes", explica uma liderança.

O momento é propício para a greve e isso preocupa principalmente os líderes menos afeitos à paralisação. "Na paralisação, todo mundo perde. E estão fortalecendo e usando o autônomo para fazer a guerra e acabar com toda a situação ruim que eles [transportadores] enfrentam", lamenta um líder.

Outra liderança é mais sucinta ao comentar sobre a possibilidade de um locaute. "Por trás, vai ter [o apoio de empresas], sem dúvidas. Isso aí sempre teve, em todas [as greves] teve, está todo mundo insatisfeito", declara um caminhoneiro.

Outro líder acredita que o próprio ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, sabe que a greve pode contar com o apoio de empresas, e que a consulta ao presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Vander Costa, seria um indicativo disso.

"Eles [governo] têm o GSI [Gabinete de Segurança Institucional] para fazer esse levantamento. Eles têm um termômetro, para ele [Tarcísio] ir à CNT falar com o Vander e pedir para ele fazer uma nota falando que as empresas não vão parar, que não vai ter desabastecimento. Estão com medo", afirma um transportador.

O que dizem Tarcísio de Freitas e a Confederação Nacional do Transporte

O presidente da CNT, Vander Costa, se reuniu na terça-feira (26) com Tarcísio de Freitas para "debater a segurança do transporte de cargas no Brasil", informa uma nota oficial. O representante das empresas de transporte reafirmou que a entidade "não respalda qualquer movimento grevista por parte desses profissionais [caminhoneiros]".

A nota ressalta, ainda, que Tarcísio afirmou que o governo "garantirá a segurança nas estradas brasileiras". "A CNT, por sua vez, reafirma que, com segurança, as transportadoras não irão parar e não haverá desabastecimento", comunica um trecho da nota.

Quanto à possibilidade de empresas apoiarem a paralisação, Tarcísio disse não identificar riscos. "Não temo. A gente conversou com a CNT [Confederação Nacional do Transporte], as empresas estão focadas em trabalhar bastante", disse o ministro na quarta-feira (27), ao fim de um almoço organizado pela Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo.

"Tem muito trabalho, o mercado está superaquecido, construção civil está bombando, agronegócio bombando, estamos na época de transporte de semente, por isso que boa parte dos caminhoneiros não querem saber de parar, é a hora de botar renda para dentro de casa", acrescentou o ministro.

Segundo Tarcísio, a maioria do segmento não quer parar. "Mais de dois terços do transporte, hoje, são de empresas, as empresas não estão com a menor vontade de parar. Então, tendo rodovia desbloqueada, não vai ter nada", declarou.

Como explicou anteriormente a Gazeta do Povo, a estratégia do governo é suprimir "exemplarmente" quaisquer bloqueios em rodovias, por meio de multas aplicadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

O que o governo tem feito para desmobilizar a greve dos caminhoneiros

Para desmobilizar o movimento grevista, o ministro da Infraestrutura tem se reunido com lideranças setorizadas há algum tempo. Na terça-feira (26), recebeu o presidente da Associação das Transportadoras de Combustíveis e Derivados do Petróleo do Rio de Janeiro (Associtanque-RJ), Ailton Gomes.

Os "tanqueiros", que transportam combustíveis, interromperam atividades por algumas horas na semana passada no Rio de Janeiro, em São Paulo e Minas Gerais. Tarcísio recebeu Gomes para discutir sugestões com potencial para baixar o preço do óleo diesel. Uma delas envolve adicionar mais biodiesel ao óleo diesel vendido nas bombas aos caminhoneiros. A outra envolve oferecer algum tipo de subsídio para que as usinas de cana-de-açúcar possam reduzir os custos de etanol e, consequentemente, a gasolina. A ideia é que reduzir custo em toda a cadeia.

Gomes foi convidado por Tarcísio para uma nova reunião nesta quinta-feira (28) com líderes e representantes sindicais dos transportadores autônomos para explicar ambas as sugestões. O ministro convidou líderes grevistas e até contrários à greve, mas que, na análise feita pela pasta, estão dispostos a dialogar. Contudo, parcela dos convidados declinou do convite no mesmo dia.

Mesmo criticado por parte dos líderes da categoria, Tarcísio mantém diálogo com eles. Nos últimos dias, têm falado por ligação de WhatsApp ou em conversas pelo aplicativo de mensagens com lideranças que se mostram menos amistosas. Apesar disso, o ministro decidiu não chamar à reunião representantes das entidades que convocaram greve para o dia 1.º.

O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim – o "Chorão", um dos líderes da greve em 2018 –, foi um dos vetados. Também não foi convidado o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sindicam) de Ijuí (RS), Carlos Alberto Dahmer, o "Liti", diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL). O presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Plínio Dias, que convocou greves frustradas meses atrás, também não foi chamado.

Quais as chances de Tarcísio desmobilizar a paralisação

O ministro da Infraestrutura ainda é respeitado por parte dos líderes dos caminhoneiros autônomos que se dispõem a ajudá-lo a orientar e convencer outras lideranças a não aderirem à greve. Apesar disso, a leitura feita por lideranças convidadas para a reunião desta quinta no Ministério da Infraestrutura é de que a paralisação ocorrerá.

"Apesar de eu ser contrário à paralisação, com fechamento de pistas, greve desordeira, eu estou em estado de greve, estou parado em casa. E o que eu vi nos grupos e movimentação de quem quer a greve é que, quanto mais o ministro tenta alguma coisa, uma aproximação, mais ele piora a situação", sustenta o líder autônomo Aldacir Cadore, de Luziânia (GO).

Cadore está entre os líderes autônomos convidados por Tarcísio para a reunião de quinta-feira que rejeitou a participação. Outros disseram que fariam o mesmo e que aguardam um convite para se reunir com o presidente Jair Bolsonaro. A alegação de algumas lideranças é de que o movimento chegou a um estágio em que Tarcísio não tem condições de resolver sozinho os problemas.

"Essa conversa não pode mais ser só com o ministro, não. A conversa, agora, tem que ser com o Bolsonaro presente, ele tem que estar na reunião", diz o líder autônomo Bira Nobre. "A conversa tem que ser com o ministro e o Bolsonaro. Se o presidente não estiver presente, não é interessante a gente estar presente na reunião", endossa um outro líder.

O líder autônomo Marcelo Paz, que atua na Baixada Santista (SP), é outro a cobrar a participação de Bolsonaro na mesa de negociações. Segundo ele, houve um convite na última semana para uma reunião com o presidente, mas o encontro teria sido abortado depois que o governo soube que líderes pediram a participação de um membro do Supremo Tribunal Federal (STF). "Eles cancelaram e, agora, o Tarcísio tenta desmobilizar [a greve], mas não conseguirá", diz.

A leitura feita pelo líder Janderson Maçaneiro, o "Patrola", de Itajaí (SC), é que, no cenário atual, o clima é favorável para a paralisação acontecer. "É uma pena que a gente não está conseguindo fazer uma linha de diálogo", diz.

Com posição neutra em relação à greve, Patrola entende que as conversas precisam evoluir. "Se busca paralisação em situações extremas, quando não tem mais diálogo. E a proposição do diálogo existe e não está evoluindo. É uma grande preocupação", reforça.

O que faria as entidades recuarem da convocação de greve dos caminhoneiros

Interlocutores do Ministério da Infraestrutura sustentam que uma reunião entre líderes caminhoneiros com Bolsonaro e Tarcísio não está prevista. E apontam, ainda, que as lideranças responsáveis por convocar a greve não serão recebidas.

Não por acaso, a informação que circula entre caminhoneiros é que uma reunião prevista para ocorrer nesta quinta-feira (28) no Palácio do Planalto foi abortada por Tarcísio, para para evitar que Bolsonaro se reunisse com Liti, diretor da CNTTL, Chorão, presidente da Abrava, e Plínio Dias, presidente do CNTRC.

A reunião havia sido intermediada pelo presidente da Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, Nereu Crispim (PSL-RS). No governo, a informação é de que o encontro nunca chegou a ser agendado.

Os responsáveis por convocar a paralisação alegam, contudo, que uma reunião com Bolsonaro é uma das condicionantes impostas por eles para abrir um diálogo pela desmobilização.

"Se houver um chamamento do presidente da República, junto com o presidente da Petrobras, e também formos convidados pelos mandantes dos outros Poderes, aí é um cenário totalmente diferente, com o qual podemos ir dialogando para chegar a um entendimento, para que não haja aquilo que imaginamos que acontecerá, o confronto", alerta Liti.

Chorão endossa que, até que o cenário traçado por Liti ocorra, a paralisação estará mantida. "Isso já foi até deliberado, não se trata mais de se sentar com o ministro Tarcísio, porque ele é um encantador de serpentes. Ele não resolve, queremos alguma coisa concreta, vamos sentar na mesa, sim, mas com o presidente [Bolsonaro]", destaca.

O presidente da Abrava diz que não veria problemas em Tarcísio participar da reunião, desde que acompanhado por Bolsonaro. Mas defende que a pauta da categoria é algo a ser debatida por outros ministros, não apenas o da Infraestrutura. "A gente faz questão que ele participe, como também fazemos questão da participação dos ministros do Trabalho, da Economia e de Minas e Energia", diz.

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