A greve dos trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), iniciada na noite terça-feira (15), mobiliza 80% dos funcionários do setor operacional em Curitiba, de acordo com estimativa do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná (Sintcom-PR) divulgada na manhã desta quarta-feira (16). A estatal, até as 11h30, não tinha um balanço oficial sobre a paralisação dos trabalhadores na capital, mas garantia que a greve era parcial e que nenhuma agência estava fechada.
Informações preliminares do Sintcom-PR dão conta de que o índice de adesão seria semelhante nos municípios de Cascavel, Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá e Ponta Grossa. "Apenas em cidades pequenas é que ainda não temos informações de como está a mobilização", diz Sebastião Cruz, secretário de finanças da entidade. Em todas as regiões do estado, a paralisação foi aprovada por maioria em assembleias realizadas na terça-feira, segundo Cruz.
Na manhã desta quarta-feira, a assessoria de imprensa dos Correios no Paraná ainda não tinha um levantamento de como os serviços de entrega de pacotes e correspondências estavam sendo afetados pela paralisação. A empresa garantia, entretanto, que serviços de entrega de urgência, como Sedex 10 e Sedex Hoje, não seriam suspensos, como já ocorreu em paralisações anteriores.
O sindicato dos trabalhadores alerta os usuários dos serviços que o trabalho ficará prejudicado enquanto durar a paralisação. "O atendimento nas agências está normalizado, mas a maioria dos funcionários que fazem a separação e a distribuição está de braços cruzados, o que retardará o andamento do processo", afirma o secretário de finanças do Sintcom-PR.
Segundo ele, os funcionários que trabalham nas agências não participam da greve porque fazem parte de um grupo à parte das reivindicações feitas pelo sindicato. Conforme dados da empresa, em todo o Paraná os Correios têm 6,3 mil trabalhadores, dos quais, aproximadamente dois mil estão lotados na capital. Em média, 1,3 milhão de encomendas são distribuídas diariamente no estado 800 mil em Curitiba.
Em Curitiba, dirigentes do sindicato passaram a noite em frente ao prédio dos Correios localizado no cruzamento da Rua João Negrão com a Avenida Iguaçu, no bairro Rebouças. Segundo a entidade, uma manifestação está sendo programada para ser realizada na cidade, mas ainda não há definição de horário ou data para ocorrer.
Reivindicações
Cruz afirma que a deflagração da greve foi decidida apenas quando os empregados não viram outra alternativa para demonstrar a insatisfação com as propostas de reajuste salarial da empresa. "Não queríamos prejudicar a população, mas a empresa ofereceu 4,5% de aumento sem abertura para negociação", afirma. Os trabalhadores dos Correios reivindicam um índice bem diferente de reposição salarial 41,03%, que corresponderia a perdas ocorridas desde agosto de 1994. Outros pedidos são de aumento linear de R$ 300 no piso salarial da categoria, que é de R$ 640, além de segurança armada e portas giratórias nas agências e redução da jornada de trabalho.
A empresa alega que não há condições de fazer o reajuste reivindicado, e que os trabalhadores foram informados disso. Segundo a assessoria de imprensa dos Correios, caso os pedidos fossem atendidos, a estatal sofreria um impacto de R$ 54 bilhões anuais na folha de pagamento, o que supera o orçamento anual, que é de R$ 13 bilhões. Anualmente, a negociação é feita em Brasília, entre a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect) e a direção nacional da empresa. Por todo o país, a Fentect conta com 35 sindicatos regionais, dos quais 33 haviam aderido à paralisação até as 11h30 desta quarta-feira.
2008
Em 2008, trabalhadores dos Correios realizaram duas paralisações de nível nacional. Em abril, os carteiros ficaram parados por cinco dias, entre 1º e 5, para reivindicar um aumento no repasse de participação nos lucros, além de adicional de periculosidade. O movimento grevista foi encerrado depois que a direção da empresa se propôs a instituir uma comissão para discutir os repasses, e prometeu resposta em 90 dias.
Passados os 90 dias, no dia 1º de julho, sem uma resposta, os empregados voltaram a paralisar as atividades. A nova greve durou 21 dias e foi encerrada com um acordo por meio do qual a ECT se comprometeu a pagar os 30% do salário-base para 43 mil carteiros que trabalham na distribuição e coleta externa, que a categoria solicitava como adicional de risco. A empresa afirmou ainda que não descontaria os dias parados dos vencimentos dos trabalhadores, que seriam compensadas por banco de horas. Durante o período de paralisação, estima-se que três milhões de correspondências deixaram de ser entregues em Curitiba.