Pressões
Assédio e piquetes "terceirizados"
Um funcionário do HSBC que conversou com a reportagem da Gazeta do Povo sob a condição de não ser identificado avalia que a briga da campanha salarial de cada ano tem aspectos ilegais tanto do lado patronal quanto no sindicato que representa os trabalhadores. De acordo com ele, o período de greve sempre intensifica complica as relações de trabalho, especialmente do setor privado, onde costuma ocorrer assédio moral. Vários funcionários são chamados a trabalhar de madrugada, por exemplo, para escapar dos piquetes. Na outra ponta, o sindicato recorre a expedientes questionáveis, como a contratação de pessoas para engrossar o movimento. Neste ano, cerca de 200 "piqueteiros terceirizados" devem custar mais de R$ 90 mil ao sindicato, valor que é rateado depois na folha de pagamento dos funcionários como "fundo de greve". "No ano passado descontaram R$ 35 de cada um, sendo que não há base legal para isso", diz. O bancário admite que falta união na categoria. "Na quinta-feira, quando a Fenaban apresentou a proposta de reajuste, meu gerente me orientou a ir à assembleia e votar pelo fim da greve. Mas eu não vou dar a cara para bater porque preciso do meu emprego, tenho família. Em toda assembleia há gente do RH anotando quem se manifesta. A gente trabalha sob pressão o tempo todo. E sabe que, se houver demissão, eles vão priorizar quem se levanta contra a empresa." (AL)
Ao contrário dos demais bancos, funcionários da Caixa Econômica Federal de todo o país mantiveram a greve e devem começar a próxima semana depois do feriado ainda paralisados. A categoria decidiu pressionar a diretoria do banco por um aumento mais significativo nos salários, usando como justificativa o aumento da responsabilidade da instituição com as políticas sociais promovidas pelo governo federal.
"A Caixa se tornou uma ferramenta importante das políticas do governo, como a distribuição do Bolsa Família e o gerenciamento dos financiamentos habitacionais. Nós entendemos que esse papel social, na prática, é desempenhado pelos funcionários, que portanto devem ser mais valorizados", afirma o presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, Otávio Dias.
De acordo com ele, o Banco do Brasil a outra instituição financeira controlada pelo governo federal ofereceu um aumento extra de 3%, linear a partir do piso, contemplando todo o plano de cargos e salários da instituição. "Outro avanço com o BB foi a promessa de contratação de dez mil novos funcionários concursados, metade no ano que vem e a outra metade em 2011", ressaltou.
Os demais bancos tiveram reajuste de 6%, que equivale a aumento real de 1,5%, e avanços na Participação nos Lucros e Resultados (PLR). A greve desta campanha salarial tirando o prolongamento da paralisação por parte dos funcionários da Caixa durou 15 dias, o mesmo tempo do ano passado. A avaliação do presidente do sindicato é de uma mobilização positiva, garantindo o aumento real (acima da inflação) pelo quinto ano consecutivo e avanços nos benefícios sociais.
Empregos em risco
O aspecto negativo, segundo Dias, foi a não inclusão da garantia de emprego ou perspectiva de novas contratações na proposta geral da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), que contempla os bancos privados. "As filas que vemos diariamente nos bancos é uma consequência disso. A criação de empregos é uma bandeira que levantamos há tempo, mas que não foi atendida novamente nessa campanha pelo contrário, estamos perdendo empregos. A Fenaban alega que cada empresa tem suas políticas de contratação, mas no semestre as demissões dos bancários chegaram a 15 mil, ao mesmo tempo em que o lucro líquido dos bancos foi a R$ 14 bilhões", diz.
O caso do HSBC, que tem sede em Curitiba, é delicado, segundo Dias. De acordo com ele, em 2008 o banco demitiu 646 funcionários no Paraná, e no primeiro semestre de 2009 já foram 311. A base sindical de Curitiba e região metropolitana responde por 17,8 mil bancários, que trabalham em 444 agências, além dos centros administrativos.
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