Enquanto o governo federal faz malabarismos para financiar as perdas bilionárias das distribuidoras de energia com a estiagem, um grupo seleto de agentes do setor elétrico contabiliza mês a mês ganhos extraordinários com o preço da energia que chegou a R$ 822 o megawatt/hora (MWh) em fevereiro. O valor movimentado nos dois primeiros meses do ano já chega a quase R$ 9 bilhões e cerca de um quarto desse total está sendo faturado por apenas quatro empresas.
Os números são guardados a sete chaves pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Mas a reportagem teve acesso a alguns dados que mostram que as geradoras Cemig, Cesp e Tractebel, e o banco BTG Pactual estão entre os que mais estão lucrando com a crise do setor elétrico. Diferentes fontes ligadas às empresas e também ao governo confirmaram as posições, mas procuradas nenhuma das companhias quis comentar o assunto.
O volume financeiro total em fevereiro já foi apurado, mas ainda não foi divulgado. Alguns técnicos do governo dizem que chegará próximo a R$ 6 bilhões, mais que o dobro de janeiro. Na prática, esse valor reflete o preço da energia no mercado à vista e dá a quantia exata do quanto trocou de mãos no período. Quem tem energia sobrando recebe, quem está descontratado paga.
Em janeiro, o chamado PLD (Preço da Liquidação das Diferenças), que reflete o custo do mercado à vista, foi de R$ 370 o MWh. Saltou para R$ 822 em fevereiro e o número se repetiu em março, o que significa que outros R$ 6 bilhões devem ser contabilizados Assim, em apenas três meses R$ 15 bilhões vão mudar de mãos no mercado de energia.
Em janeiro, que é o único mês do ano com os dados já informados aos agentes, dos R$ 2,8 bilhões movimentados, a Cesp e a Cemig receberam por volta de R$ 240 milhões cada uma, equivalentes a uma média de 1.000 MW. O BTG Pactual e a Tractebel receberam cerca de R$ 120 milhões cada. Essas companhias ganharam porque têm energia em seu portfólio que não foi vendida e por isso são liquidadas a PLD.
Quando o PLD está elevado, elas faturam e lucram. No caso das estatais paulista (Cesp) e mineira (Cemig), a energia está sobrando porque elas não aderiram ao programa de renovação das concessões do governo federal que vencem em 2015. Sem aderir ao programa, ficaram com seus megawatts descontratados e agora ganham com os preços elevados no mercado à vista. E os preços estão elevados por causa da estiagem, que está secando os reservatórios das usinas hidrelétricas.