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O ministro Paulo Guedes disse para investidores, em Dubai, que a economia do Brasil está crescendo acima da média mundial. Os dados de atividade econômica já conhecidos e as projeções de instituições como Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram cenário diferente.
Se confirmados os prognósticos, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ficará abaixo da média dos países emergentes e da média mundial em 2021 e 2022. O Brasil já havia perdido nessas comparações em 2020, o primeiro ano da pandemia, e também em 2019, antes da disseminação do coronavírus pelo mundo. Nada muito diferente do que se vê desde o início do século.
O PIB do Brasil e do mundo em 2019 e 2020
Em 2020, quando o PIB nacional encolheu 4,1%, o Brasil se saiu melhor que vários outros países, em especial os desenvolvidos, que fecharam o ano com retração de 4,5%. Porém, o resultado da economia brasileira ficou abaixo dos países emergentes e em desenvolvimento – cujas economias recuaram 2,1%, em média – e do desempenho do PIB global (-3,1%).
O país já não vinha bem antes da pandemia. Em 2019, o PIB brasileiro cresceu 1,4%, menos que economias desenvolvidas (1,7%), países emergentes e em desenvolvimento (3,7%) e a média mundial (2,8%).
Os números foram compilados pelo FMI e constam de Carta de Conjuntura sobre a economia mundial publicada no fim de outubro pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério da Economia. O documento também apresenta as estimativas do FMI para 2021 e 2022 (a reportagem continua logo após a tabela).
O PIB do Brasil e do mundo em 2021
Em 2021, o Brasil está se recuperando – com alguma sobra – do baque do primeiro ano da pandemia, e deve fechar o ano com a maior expansão desde 2010. Mas, segundo as projeções do FMI, o crescimento brasileiro não deve superar a média mundial. O órgão prevê alta de 5,2% no PIB do Brasil neste ano, índice igual ao esperado para países avançados, porém inferior ao de emergentes e em desenvolvimento (6,4%) e à média de todos os países (5,9%).
O Banco Mundial projeta alta de 5,3% para o PIB brasileiro em 2021, segundo relatório sobre América Latina e Caribe, de outubro. Enquanto isso, o mais recente relatório de perspectivas econômicas globais da instituição, de junho, apontava para crescimento de 6% nas economias emergentes, 5,4% nas avançadas e 5,6% no mundo.
As estimativas mais recentes da OCDE, de setembro, são de expansão de 5,2% no Brasil e 5,7% no mundo em 2021.
As expectativas dos organismos internacionais para o Brasil em 2021 são mais otimistas que as de bancos e consultorias consultados semanalmente pelo Banco Central. O relatório Focus publicado nesta terça-feira (16) mostra que o ponto médio das estimativas para o PIB nacional caiu pela quinta semana consecutiva, e agora é de 4,88%.
Os dados mais recentes da atividade econômica não são melhores. No segundo trimestre deste ano, o PIB brasileiro encolheu 0,1%, segundo o IBGE. Foi o sexto pior resultado de uma lista com 50 países e grupos econômicos elaborada pela OCDE. Nesse ranking, 44 países e grupos registraram alta do PIB.
O PIB do terceiro trimestre ainda não foi divulgado pelo IBGE, mas os primeiros sinais são ruins. O índice do Banco Central que busca medir a atividade econômica no país, o IBC-Br, indicou queda de 0,14% no período de julho a setembro, em relação aos três meses anteriores.
O PIB do Brasil e do mundo em 2022
O cenário para 2022 mostra uma grande distância entre a economia brasileira e a mundial. O FMI prevê que o Brasil crescerá 1,5% no ano, muito abaixo da média dos emergentes (5,1%), dos desenvolvidos (4,5%) e da média mundial (4,9%).
O Banco Mundial, por sua vez, vê alta de 1,7% no Brasil, 4,7% nas economias emergentes, 4% nas avançadas e 4,3% no mundo todo. E a OCDE projeta expansão de 2,3% no PIB brasileiro e 4,5% no mundial.
Também nesse caso, os organismos internacionais veem perspectivas mais favoráveis que as instituições consultadas pelo Banco Central.
Em queda há seis semanas, a mediana das expectativas do relatório Focus para 2022 aponta para alta de 0,93% no PIB. Segundo o boletim, as instituições mais pessimistas já esperam recessão de até 0,8%. Bancos como Itaú e Credit Suisse estimam queda de 0,5%, o Haitong prevê -0,3% e o JP Morgan acredita em variação zero do PIB.
Brasil tem resultados abaixo da média desde o início do século
O desempenho atual da economia brasileira, inferior ao observado na média dos emergentes e do mundo todo, não destoa do que ocorre desde o início do século, com poucas exceções.
Segundo dados compilados pelo FMI e publicados pelo Ipea, de 2000 a 2007 o PIB do Brasil cresceu 3,6% ao ano, em média. Mais que países desenvolvidos (2,7%), porém menos que emergentes (6,5%) e a média mundial (4,5%).
De 2008 a 2011, o Brasil se saiu melhor: o PIB cresceu 4,1% ao ano, em média, acima das economias avançadas (0,4%) e da média mundial (3,1%), porém abaixo dos países emergentes (5,6%).
O pior desempenho do Brasil neste século foi de 2012 a 2018, com avanço anual de apenas 0,2%, ante 4,8% nas economias emergentes, 1,9% nas desenvolvidas e 3,5% no mundo todo.
Se confirmadas as projeções do FMI para este ano e o próximo, a economia brasileira novamente perderá na comparação internacional no período de 2019 a 2022. Conforme essas estimativas, o crescimento médio do país nos quatro anos será de 0,9% ao ano, contra 3,2% nos países emergentes, 1,7% nos avançados e 2,6% na média mundial.