A esperança de que a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias globais, perca o ritmo está nas mãos dos negociadores dos dois países que estão reunidos desde esta quinta-feira em Washington. O que sair destas discussões vai ter o impacto de afetar a economia mundial. E por tabela, o Brasil.
“Vai ser a mais importante reunião desde que começou o acirramento das tensões comerciais entre os dois países, no começo do ano passado. O resultado vai ajudar a ditar os rumos da economia mundial daqui para a frente.”
José Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos
O cenário, que estava calmo nas últimas semanas, mudou no domingo, com a decisão do presidente americano, Donald Trump, em aumentar as tarifas sobre produtos chineses a partir desta sexta.
Segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, o tuíte de Trump, surpreendeu o mercado, que já acreditava na possibilidade de um acordo para pôr fim à guerra comercial. “O gato subiu no telhado”, sintetiza Patrícia Pereira, especialista da Mongeral Aegon Investimentos.
“Havia uma expectativa favorável em relação às negociações”, diz Silvio Campos Neto. Isto explica a pressão no câmbio e na bolsa de valores no começo da semana, quando o dólar chegou a ultrapassar a marca dos R$ 4 e a bolsa caiu para 94,4 mil pontos. Nesta quinta, fechou a 94,8 mil pontos.
O que está em jogo não é só uma relação comercial que movimentou US$ 738,6 bilhões ao ano e na qual os Estados Unidos tem um déficit de US$ 378,7 bilhões, mas também o ritmo de crescimento da economia mundial.
“Até agora, a economia mundial vem mostrando resiliência, com as duas maiores economias globais crescendo bem”, diz Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais. Mas, segundo ele, um eventual fracasso nas negociações pode complicar o cenário internacional.
Falta de consenso é prejudicial ao Brasil
O cenário mais prejudicial para o Brasil, de acordo com o economista, é a falta de um consenso entre os dois países. “O comércio internacional é um fator importante para o crescimento”, destaca Pena. A expectativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que o PIB global cresça 3,3% neste ano.
O principal efeito do recrudescimento da guerra comercial seria a queda no ritmo de crescimento da economia mundial. “O cenário externo está se mostrando cada vez mais desafiador”, ressalta o economista Sílvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.
Mesmo sendo uma economia mais fechada, o Brasil não está imune aos efeitos de um eventual recrudescimento da guerra comercial. Isto traria uma série de impactos para o país: uma demanda menor por produtos no exterior, valorização do dólar frente ao real e aumento da inflação, o que acabaria impactando negativamente no consumo.
“Seria uma má notícia, justamente no momento em que há falta de motores domésticos de crescimento.” E uma mitigação dos impactos, de acordo com o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, dependeria da aprovação da reforma previdenciária.
Maiores impactos
Um dos setores que mais sentiria os impactos seria a indústria, que não vem em um bom momento, lembra Campos Neto. O setor é afetado pela crise na Argentina, um dos principais clientes dos produtos industrializados brasileiros.
Nos 12 meses encerrados em março, a indústria teve um encolhimento de 0,1%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E as expectativas para a produção industrial estão piorando semana a semana. Segundo o Relatório Focus - pesquisa feita pelo Banco Central junto a instituições financeiras -, nas últimas quatro semanas, a projeção de crescimento para 2019 caiu de 2,5%.
Quem pode ter algum ganho, de acordo com Campos Neto, é a soja, com a qual o Brasil disputa espaço na China com os Estados Unidos. No primeiro quadrimestre do ano, foram exportados US$ 7,15 bilhões em soja,1% a mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Ministério da Economia.
Quem também pode ter um impacto negativo com a falta de um acordo entre os Estados Unidos e a China, segundo Bandeira, do Modalmais, é quem está endividado. “Em um cenário de maior aversão ao risco há o fortalecimento do dólar, o aumento da inflação e uma tendência à alta de juros."
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