O mundo amanheceu nesta segunda-feira (9) com os mercados em pânico. Uma briga entre Rússia e Arábia Saudita (entenda abaixo) fez os preços do petróleo tipo Brent caírem mais de 30%, para cerca de US$ 30 – a maior desvalorização desde a Guerra do Golfo, em 1991.
A queda brusca afeta diretamente o Brasil – mesmo que o país não possa fazer muito mais do que assistir à guerra de preços entre russos e sauditas.
Os efeitos sobre a Petrobras
Os primeiros sintomas da queda generalizada nas bolsas mundiais já foram sentidos pela Petrobras. As ações da empresa caíram no exterior e, na B3, a Bolsa brasileira, começaram o dia com perdas de mais de 20%.
A desvalorização nas ações é reflexo da queda de rentabilidade da empresa. A política de preços da Petrobras implica no repasse das flutuações no preço do petróleo ao consumidor final. Por isso, assim como há alta nas bombas quando o preço do barril aumenta no mercado mundial, também deve haver queda como reação ao óleo mais barato.
A Petrobras também perde sob a perspectiva do mercado externo. O petróleo produzido aqui fica menos competitivo e passa a ser vendido a preços mais baixos.
"A empresa demora mais para reagir a essa queda nas receitas porque tem investimentos de grande vulto e de longo prazo, que não podem simplesmente ser paralisados. Com isso, a Petrobras está necessariamente faturando menos, o que se reflete na queda das ações", explica Edmilson Moutinho dos Santos, professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Instituto de Energia e Ambiente (IEE).
Fontes alternativas, como o etanol, ficam menos competitivas
A guerra de preços também atinge em cheio o mercado de energias renováveis. Isso porque a produção de combustíveis como o etanol apresenta custos maiores, que encarecem o produto. Com o petróleo mais barato, a competição com os derivados do óleo fica inviável.
"Há toda uma cadeia de impactos que é difícil de dimensionar mas, com o petróleo mais barato, o mercado de fontes renováveis perde competitividade. Se isso persistir por muito tempo, vai atrapalhar o desenvolvimento dessas fontes alternativas", diz David Zylbersztajn, sócio-diretor da DZ Negócios com Energia e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Para o consumidor, por outro lado, tende a ficar mais fácil encontrar preços mais amigáveis nos postos de combustíveis. Para não perder tanto mercado para a gasolina, os produtores de etanol podem ser levados a reduzir preços.
E para o governo brasileiro, o que muda?
Para o governo brasileiro, a queda no preço do petróleo pode ser benéfica, na medida em que a diminuição no valor dos combustíveis vinha sendo motivo de atrito entre o presidente Jair Bolsonaro e governadores, além de uma reivindicação dos caminhoneiros.
"Para beneficiar a Petrobras, o governo poderia aceitar que a empresa não repassasse a redução de preços imediatamente para o consumidor – o que geraria um conflito que o Executivo não quer. A situação é favorável porque o preço vai cair de qualquer forma, e a demagogia vai ficar mais barata", diz Santos, da USP.
Bombas com preços mais baixos, no entanto, vão resultar em menos arrecadação em impostos para os cofres públicos. Os estados tendem a arrecadar menos ICMS e o governo federal terá receita menor de PIS/Cofins e Cide. Em paralelo, municípios, estados e a própria União vão receber menos royalties pela produção de petróleo.
Além disso, podem afetar ou até adiar os leilões de petróleo planejados pelo governo para 2020. No ano passado, o leilão de áreas do pré-sal já não atingiu a expectativa do governo: apenas uma das cinco áreas oferecidas foi arrematada.
Por que o preço do petróleo caiu tão rápido?
O barril de petróleo já vinha se desvalorizando por conta da desaceleração da economia mundial, impulsionada pela epidemia do coronavírus.
A queda brusca desta segunda-feira (9), entretanto, está diretamente relacionada a um desentendimento entre a Arábia Saudita e a Rússia em negociações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A posição dos sauditas era de reduzir a produção para segurar a queda de preços do barril. Os russos, entretanto, preferiram não interferir, o que implicaria na manutenção dos preços em baixa.
Como retaliação, a Arábia Saudita decidiu reduzir os preços artificialmente – e deve aumentar a produção de petróleo para compensar as perdas econômicas.
"Os grandes produtores estão com algum fôlego, estão capitalizados. Geralmente, os países que querem que o mercado reaja mais rapidamente costumam vencer, mas é difícil prever quanto tempo a situação vai durar", conclui o professor da USP.
Nesta segunda, o Ministério de Finanças da Rússia afirmou que o país poderia suportar os preços do petróleo num intervalo entre US$ 25 e US$ 30 por barril por algo entre seis e dez anos.
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