A desaceleração da economia chinesa, que registrou no ano passado o menor crescimento em 25 anos (6,9%), vai impactar diretamente o Brasil, que tem o país asiático como principal destino da produção interna de commodities, principalmente soja, minério de ferro e petróleo.
A mudança chinesa é estrutural e o país, que chegou a crescer 13% em 2007 e 10,4% em 2010, deverá se manter agora em patamares mais modestos pelos próximos anos. Isso se deve principalmente à mudança de direção do governo chinês, que decidiu conduzir a economia para o consumo doméstico, diminuindo a cota de investimentos e exportações.
Com investimento crescendo menos, naturalmente a demanda da China por minério de ferro, um dos produtos exportado pelo Brasil, é menor. Na prática, são menos obras públicas e menos projetos de infraestrutura. “A redução da demanda chinesa afeta o resultado da balança comercial brasileira, bastante apoiada em matérias primas. O movimento que teve início em 2011 deve continuar a piorar”, analisa o economista Alexandre Andrade, da GO Asssociados.
Nos últimos 15 anos, as exportações para a China – de produtos como minério de ferro, soja, petróleo, celulose, açúcar e outros – resultaram na entrada de pouco mais de US$ 280 bilhões na economia brasileira, sem contar o que foi embolsado com o aumento dos embarques para dezenas de mercados que avançaram no rastro chinês.
Em 2011, o preço das commodities começou a cair e hoje se encontra em patamares bem mais baixos do que os verificados no início da queda. Atualmente o petróleo está sendo comercializado abaixo de US$ 30. Há cinco anos, o valor estava acima de US$ 100. Agora, além do preço menor, a demanda também será afetada.
Combinação negativa
A queda nas exportações brasileiras, aliada ao pânico do mercado por conta dos números chineses mais modestos e à alta de juros norte-americanos, também causa uma combinação negativa que pode levar à fuga de investimentos estrangeiros em países emergentes, como o Brasil. Sem falar na volatilidade do câmbio, influenciada diretamente pela nova condição chinesa.
O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, já afirmou que o governo tem agido para reduzir a empurrada do dólar para cima. “O Brasil está preparado para enfrentar esse tipo de volatilidade. Temos um elevado estoque de reservas internacionais que dá ao Brasil segurança e capacidade para enfrentar essa flutuação cambial sem gerar um problema financeiro no país”, defendeu..
Segundo o professor de economia chinesa do Insper, Roberto Dumas Damas, nos próximos 10 anos a economia chinesa deverá se manter no patamar de 5% de crescimento. “Quem não utilizar essa premissa no preço de commodities, ações e câmbio estará errando. E não é para se desesperar. Essa é a nova norma”, avalia.