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O IIF (Institute for International Finance ), espécie de Febraban (Federação Brasileira de Bancos) mundial, afirma que "há uma conjunção de fatores preocupantes no Brasil" que podem indicar a formação de uma bolha. A expansão de crédito ficou em 30% no ano passado, neste ano caiu para 12% - apesar da queda, ainda está em dois dígitos.

O País está recebendo grandes volumes de fluxos de capital - em outubro, o segundo maior da história. O mercado acionário está em alta e o real bate recordes - foi a moeda que mais se valorizou, cerca de 34% neste ano. "Todos esses fatores combinados representam um risco de bolha de ativos", disse Hung Tran, diretor da área de mercado de capitais e mercados emergentes do IIF. "Essa excessiva valorização de ativos e moeda terá de ser corrigida mais cedo ou mais tarde, o que não vai ser fácil."

A economia brasileira é vítima do próprio sucesso, dizem os economistas. Com um crescimento expressivo e sistema financeiro saudável, o Brasil vem recebendo muitos investimentos. Mas o Brasil também é refém do ambiente externo: as economias avançadas ainda estão se recuperando, e devem manter as taxas de juros baixas por muito tempo, como sinalizou o Fed (o banco central americano) nesta semana.

Com juros baixos e dólar em queda, emergentes como o Brasil se tornam principal alvo para o chamado carry-trade. Os investidores tomam emprestado nos EUA, com juros baixos e dólar em queda, e aplicam em tudo quanto é ativo considerado mais arriscado, inclusive no Brasil. O economista Nouriel Roubini alertou para a volta do carry-trade, que anteriormente era feito com o iene, em uma coluna recente no jornal Financial Times. "Os preços dos ativos arriscados subiram demais, muito cedo e muito rapidamente em comparação com os fundamentos macroeconômicos", escreveu Roubini.

Para Arvind Subramanian, economista do Peterson Institute for International Economics, tanto China como Índia e Brasil são grandes alvos de investimento porque as economias estão em franca recuperação e oferecem bom retorno. "Mas a China controla o câmbio e a Índia tem grandes restrições a capital (como limites em investimentos em títulos domésticos), então o Brasil, que tem maior liberdade, fica mais vulnerável", diz Subramanian.

Na tentativa de lidar com essa enxurrada de capital, o Brasil adotou IOF de 2% sobre investimentos estrangeiros em renda fixa e variável.

Apesar da medida, outubro foi o mês com segundo maior fluxo cambial da história. O Ministério da Fazenda estuda algumas modificações no imposto: isentar IPOs, lançamentos iniciais de ações, aumentar a alíquota do IOF e taxar outros tipos de operações.

"O governo precisa usar um arsenal de medidas para lidar com isso, não adianta só taxar a entrada de capitais", diz Tran. "Precisam apertar a política fiscal para tirar pressão da política monetária."

Para Subramanian, o Brasil terá de adotar medidas com maior "convicção", não se restringindo a um IOF tímido sobre os fluxos de capital. "Mas não existe uma receita pronta, é muito difícil lidar com excesso de entrada de capital", disse o economista. "Em última instância, precisamos esperar a recuperação nos países desenvolvidos", disse Subramanian, que escreveu com John Williamson um artigo no Financial Times, há uma semana, defendendo a imposição de impostos sobre capital no Brasil e criticando a postura conservadora do Fundo Monetário Internacional (FMI) a respeito do tema.

O maior foco de preocupação para essa bolha ainda é a Ásia, onde já há inflação significativa nos preços dos mercados imobiliário, acionário e de crédito doméstico. Na semana passada, o Banco Mundial afirmou que a enxurrada de capital no leste da Ásia - aplicados em bolsa e mercado imobiliário na China, Hong Kong, Vietnã e Cingapura - "levam a uma preocupação sobre a formação de bolhas nos preços dos ativos". Apesar de estar em situação menos aguda, o Brasil começa a chamar atenção.

"No Brasil, a combinação de sintomas mostram que as autoridades precisam abordar esse problema", diz Tran. Mas de certa maneira, o Brasil está refém da situação externa, que não deve mudar tão cedo. Até que termine o processo de "desendividamento" de suas economias, os países desenvolvidos terão de manter as condições benignas - juros baixíssimos - que, combinado ao dólar em queda, são o combustível dos carry-trades e da potencial bolha.

"Controle de capital apenas ameniza a pressão e a volatilidade, mas não é forte o suficiente para reverter a tendência; além disso, os 2% são muito baixos em comparação com os retornos de investir no Brasil", disse Bertrand Delgado, economista sênior no Roubini Global Economics.

"Será preciso esperar o dólar se valorizar e haver uma elevação nos Treasuries, o que não deve ocorrer antes da metade do ano que vem." Segundo a previsão da Roubini Global Economics, a liquidez só vai se reduzir no final do ano que vem ou início de 2011. Seis meses antes, os mercados vão começar a precificar isso, e os juros vão subir, diz Delgado.

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