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Pesquisa do MIT

Brasil é o 5.º país com mais dificuldade em implementar o home office no mundo

Pesquisa apontou por que é difícil aderir ao home office no Brasil
Pesquisa apontou por que é difícil aderir ao home office no Brasil (Foto: Bigstock)

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Desde que se viu obrigada a trabalhar de casa, Juliane precisou se desdobrar para dar conta das tarefas domésticas e da rotina profissional. Mãe de duas crianças, Santiago, de 5 anos e Cecilia, de 3, a advogada precisou adaptar toda a sua rotina para um novo horário e assim acompanhar o ritmo dos pequenos. O marido, por sua vez, não conseguiu aderir ao home office e segue se deslocando até a empresa.

“Tenho trabalhado enquanto eles dormem, no período da noite. Então, está cansativo. Quando eu tenho reunião ou audiência no período da tarde preciso me virar”, diz. “Organizar o sistema doméstico e cuidar do emocional de todo mundo é o mais difícil com toda essa rotina louca. A parte do almoço é a que eu mais sofro e eles também, pois a minha comida não é das melhores”, diverte-se.

Essa realidade, também enfrentada por outros milhões de brasileiros, foi apontada como um dos fatores determinantes para que o país fosse classificado como o quinto país do mundo com maior dificuldade para se implementar o sistema de trabalho home office.

O estudo, realizado pelos pesquisadores Sarah H. Bana, Seth G. Benzell e Rodrigo Razo Solares, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), foi desenvolvido para tentar compreender como a variedade de ocupações, a infraestrutura em tecnologia e características demográficas dos 30 países analisados afetam a capacidade das pessoas trabalharem em casa.

Os dados que levaram o Brasil para a quinta pior posição foram:

  • 67% da população com acesso à internet a uma velocidade média de 24 mbps;
  • 47% das famílias brasileiras têm morador com menos de 15 anos;
  • a falta de dados disponível a respeito do percentual de profissionais empregados que têm experiência no trabalho remoto.

A pesquisa tem o objetivo de auxiliar o poder público e a iniciativa privada para encontrar soluções para esses problemas em futuras intervenções, visto que o trabalho remoto deve ser incorporado nessa nova realidade em que vivemos.

“Os resultados mostram que as economias desenvolvidas provavelmente terão melhor desempenho – principalmente aquelas com uma mistura de indústrias e ocupações mais propícias ao trabalho em casa, além de condições favoráveis, como acesso à Internet e conectividade de alta qualidade”, diz o estudo.

O levantamento destaca que mesmo após a reabertura das economias, devem ocorrer novas paralisações e períodos de quarentena para frear o avanço de novos focos da pandemia. Com isso, o trabalho remoto deve ser uma rotina permanente na vida de muitos trabalhadores.

Além disso, muitas empresas perceberam um aumento expressivo na produtividade e tiveram na modalidade do trabalho remoto um importante aliado no corte dos custos fixos. Com os funcionários em casa, houve economia dos espaços físicos, alugueis e tudo que envolve sua estrutura, como luz, internet, equipamentos e manutenção.

“Seja por opção ou por considerações de saúde pública, a mudança no local onde o trabalho é realizado é real, e os governos devem entender as implicações e tomar medidas para adaptar suas economias de acordo com a nova realidade”, aponta a pesquisa.

Adesão ao home office

O estudo seguiu quatro critérios de análise da adaptação para o trabalho em casa. O primeiro avaliou a mistura de ocupações em cada país e o grau em que essas profissões exigem que as pessoas trabalhem próximas umas com as outras.

Por exemplo, fisioterapeutas, dentistas e barbeiros simplesmente não podem desenvolver suas atividades sem estarem extremamente próximos de outras pessoas. As economias dos países com uma parcela maior desses profissionais terão um impacto maior em razão do distanciamento social.

Os demais critérios avaliados foram o acesso e a qualidade da internet, a porcentagem de famílias com um filho em casa e a porcentagem de trabalhadores empregados que já trabalhavam em casa ocasionalmente. “Os quatro fatores analisados não são os únicos predominantes e outras condições podem contribuir ou prejudicar a capacidade da população de um país passar a trabalhar em casa”, diz a pesquisa do MIT.

De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre as 84,4 milhões de pessoas ocupadas no país, apenas 8,6 milhões estavam trabalhando remotamente entre os dias 21 e 27 de junho. Cerca de 24,6% desses trabalhadores são militares ou servidores estatutários. Outros 21,4% são do setor público com carteira assinada. Apenas 11,4% pertenciam ao setor privado com carteira assinada. Ainda segundo a pesquisa, 31,1% desses trabalhadores tinham ensino superior completo ou pós graduação, disparado a grande parcela de trabalhadores em home office.

Aumento de consumo de internet e reclamações

De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), houve um aumento de até 50% na demanda de tráfego de dados nacional entre a primeira e a segunda quinzena de março, período que marcou o início das medidas restritivas para conter o avanço da pandemia no Brasil. Segundo o órgão, o aumento do tráfego de dados está relacionado à quantidade de pessoas que, distantes de suas rotinas habituais, têm recorrido às aplicações disponíveis para atendimento de necessidades de trabalho, estudo ou lazer.

Um levantamento de maio deste ano, apontou que o Brasil tem 33,3 milhões de acessos em banda larga fixa, densidade de 47,8 acessos para cada 100 domicílios. Nesse quesito, não houve um aumento considerável de novos pontos de internet se comparado aos meses anteriores de abril e março.

Consequentemente, com a maior demanda, cresceu também na mesma proporção o número de reclamações de consumidores brasileiros com relação as operadoras de internet e telefonia celular. Nos meses pós-pandemia, a agência registrou um aumento de quase 50% de queixas entre fevereiro e junho deste ano. Foram contabilizadas pouco mais de 50 mil reclamações naquele mês contra quase 74 mil no período atual.

Redução na velocidade

Dados do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) coletados entre 31 de janeiro e 5 de abril, que incluem medições anteriores ao aparecimento do primeiro caso de Covid-19 no país, apontam uma queda mediana da velocidade de download, a partir de 18 de março, com redução mais acentuada na semana do dia 23 do mesmo mês, chegando a 10 Mbps de diferença.

Outro ponto que apresentou variação, indicando uma possível maior demanda da rede, é a latência, com um valor máximo de 4 milissegundos maior que o período anterior à Covid-19, valor esse registrado após a redução na qualidade dos streamings. O instituto pontua no relatório que, apesar das variações percebidas durante esse período, não foram identificados problemas sistêmicos na rede.

Onde é mais fácil migrar para o home office

Em geral, os resultados da pesquisa do MIT apontam que os países desenvolvidos provavelmente passarão por uma mudança mais fácil para o regime home office. Embora esses países apresentem uma parcela maior de pessoas trabalhando em serviços pessoais de alta proximidade – para os quais a demanda cresce na medida que um país se torna mais rico – suas variedades ocupacionais são superadas por fortes pontuações em qualidade da internet, experiência em trabalhar de casa e demografia.

Luxemburgo, por exemplo, que terminou a pesquisa em primeiro lugar, possui a maior taxa de penetração da internet se comparada aos demais, e ocupa o quarto lugar em relação a força de trabalho com experiência em home office. O país europeu também se sai muito bem por causa de sua variação de força de trabalho capacitada, como cientistas, engenheiros e profissionais de negócios e administração.

A Suécia, que ficou em segundo lugar, já tem uma cultura de home office bem estabelecida, com uma parcela muito grande da população que já trabalha de forma híbrida, parte em casa e parte no escritório (29,4%) – o maior número dentre os países analisados na pesquisa. As leis favoráveis aos trabalhadores e políticas sociais do país também são fatores potenciais que dão aos funcionários um maior grau de flexibilidade trabalhista, diz o levantamento.

“Essa pandemia trouxe dificuldades a todos nós. Perder o acesso a um local físico de trabalho pode ser difícil, mas, tomando as medidas corretas antes de novos impactos globais, os líderes do governo e dos serviços privados podem minimizar as consequências econômicas”, conclui o estudo.

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