• Carregando...

Operadoras e agências

Empresas querem esquecer 2009

Apesar da perspectiva positiva para 2010, o presidente da Abav-PR, Celso Tesser diz que o setor turístico quer esquecer o ano de 2009. Assim como alguns setores da indústria que enfrentaram dificuldades com o decorrer da crise econômica, o os operadores preferem projetar 2010 com base no ano de 2008. "Este ano começou com o dólar lá em cima, a R$ 2,54, o que sozinho já é ruim para os negócios lá fora. Mas em seguida vieram os efeitos da crise financeira, e logo depois os burburinhos da gripe H1N1, justamente em cima das férias de julho. Foram três pancadas muito fortes para o setor, que voltou a movimentar dinheiro só no fim de setembro", diz.

Lisandro Vasconcelos, proprietário da operadora Green Peace, confirma que os preços estão favoráveis para o aquecimento dos negócios, mas demonstra cautela e não comemora antecipadamente. De acordo com ele, o mercado do turismo é muito vulnerável a vários fatores – estabilidade do clima, dinâmica da economia, e até o "humor" das companhias aéreas. "O ano eleitoral é de muito burburinho, a discussão entre candidatos embute dúvida nas pessoas, e muitas ficam com medo de gastar com viagem. Até isso volatiliza o mercado", diz.

Apesar do aquecimento recente, os operadores de turismo garantem que atrasadinhos ainda conseguem aproveitar preços bons para a virada do ano. Pacotes com quatro noites para Buenos Aires, por exemplo, ainda podem ser encontrados por US$ 700 (passagem e hospedagem). Para Santiago, no Chile, nas mesmas condições, há pacotes a partir de US$ 900. (AL)

  • Caminito, ponto turístico de Buenos Aires: pacotes em promoção

A crise mundial provocou uma conjunção de fatores que criou uma rara oportunidade para brasileiros que tentam encaixar uma viagem internacional no orçamento. Destinos como Paris, Las Vegas, Cancun e a exótica Dubai ainda sentem efeitos negativos causados pela recessão, com diminuição sensível do consumo. Com a demanda em baixa, os serviços ligados ao turismo estão derretendo valores para atrair de volta os clientes. Traduzindo: restaurantes, hotéis e transporte estão mais baratos, em moeda local, do que em anos passados. Com o real valorizado que temos hoje, a balança pende mais ainda para o turista brasileiro.

Essa situação privilegia países que não passaram período prolongado de recessão, como o Brasil, cujas projeções de crescimento de riqueza, valorização da moeda e fortalecimento da classe média são positivas em médio prazo. O próprio Banco Central já identificou a tendência de aumento dos gastos do brasileiro no exterior – o déficit na chamada conta de viagens internacionais aumentou 20% em apenas um mês, registrando em outubro US$ 785 milhões, ante US$ 652 milhões em setembro. Isso significa que brasileiros estão gastando mais em viagens ao exterior do que os estrangeiros estão vindo gastar no Brasil.

Viajantes contumazes, que ficam de olho na cotação do dó­lar, podem até relaxar: o valor do câmbio já é menos importante do que a possibilidade de achar pechinchas no exterior. A avaliação é do professor José Guilherme Vieira, do Depar­tamento de Economia da UFPR. "A maioria dos destinos clássicos está em baixa, em função da recessão mundial", afirma. "Em vez de apenas juntar dólares baratos com o câmbio atual, o consumidor hoje tem a grande oportunidade de fechar um pacote de viagem por um preço bom. Parcelar antecipadamente está sendo vantajoso", diz.

De acordo com ele, serviços turísticos perdem preço mais fácil em épocas de crise por causa da elasticidade do consumo, diferentemente de alimentos. "O arroz com feijão precisa estar sempre na mesa, mas serviços não essenciais como aluguel de carro, cabeleireiro ou hotel perdem espaço em épocas de crise econômica, especialmente em localidades com grande aparelhagem turística", explica.

Os grandiosos hotéis de cassino em Las Vegas, conhecidos por oferecer hospedagem "all inclusive" – com as despesas de refeições incluídas na diária – já oferecem preços individuais inferiores a US$ 100. Na procura de hospedagem para vinte dias nos Estados Unidos, o economista Artur Coelho quase fechou um pacote de ida e volta para Nova Iorque. Mas ao pesquisar em sites especializados em viagem dentro do continente norte-americano, descobriu que poderia dividir a viagem entre o primeiro destino e Las Vegas, e ainda barateou os custos em quase 50%.

Enquanto o projeto inicial de vinte dias para ele e sua companheira sairia por US$ 3,5 mil, o itinerário mais elaborado saiu por US$ 1,8 mil – tudo acertado à distância, com reservas feitas pela internet e pagas com cartão de crédito. "Dentro dos Estados Unidos a logística é bem mas barata. Com um pouco de pesquisa, descobri esses itinerários achei promoções e agora vamos aproveitar também os programas de Las Vegas", disse.

Dubai, México, EUA

Dubai, que na semana passada voltou ao notíciário internacional por causa de rescaldos da crise financeira (leia mais sobre o tema em box na página 21), também tem se empenhado em atrair turistas. A cidade se desenvolveu com base no crescimento imobiliário e ganhou o status de mais moderna dos Emirados Árabes Unidos (EAU), com arquitetura futurista, enormes arranha-céus e largas avenidas que contrastam a imagem comum de Oriente Médio. No entanto, a gerente da operadora Golden Tour, Marcela Simões, esteve lá recentemente e afirmou que o preço dos serviços estão equivalentes ao que se paga em Curitiba.

"Aquela impressão de que Dubai é uma cidade cara, que o turista vai só pra ver, caiu completamente. É uma cidade moderna, super bacana para se conhecer, e hoje dá pra consumir com preços normais para o brasileiro", diz. Um café da manhã em hotel cinco estrelas, de acordo com ela, pode ser consumido por R$ 25. Um bom almoço baseado na gastronomia árabe, nos pontos turísticos, custa R$ 30. "O desconto nas passagens internacionais também tem acontecido de verdade", destaca.

O presidente da Associação Brasileira de Agentes de Viagem (Abav-PR), Celso Tesser, destaca os preços mais baixos na Europa, especialmente nos destinos mais visitados, como França, Itália e Espanha. "Quem conhece sabe a fama de que os restaurantes lá têm, são muito caros. Mas hoje em dia se consegue comer na França pagando o mesmo que se paga para comer em São Paulo. Para quem sempre teve o sonho de conhecer Paris, talvez este seja o melhor momento", afirmou. Nos Estados Unidos, além da depreciação do dólar, ele destaca que os eletroeletrônicos estão com preços muito bons. "Eles tiveram uma queda grande na demanda por causa do desemprego e da crise. As promoções estão imperando nesta temporada. Dá para ir e voltar de mala cheia", diz.

Entre outros destinos que estão facilitando a chegada de turistas está o México, segundo Vieira, da UFPR. "É um país que sofreu muito primeiro com a gripe suína, depois com a recessão, porque a economia deles depende muito dos Estados Unidos. Cancún, que é um destino tradicional e caríssimo, hoje está com promoções de até 50%", diz. Outra possibilidade é a Argen­­­tina, que não demanda visto no passaporte e está oferecendo diárias até 30% mais baratas do que no ano passado, graças à defesa artificial que têm feito no seu câmbio.

Para quem quer evitar o "mainstream" turístico e prefere cidades mais exóticas, o professor cita os países do Leste europeu. "Vale pesquisar por aqueles países, a economia deles também foi fragilizada e estão precisando de turistas."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]