Parcelamento
Coloque tudo na ponta do lápis
Além de pagar as contas, o consumidor deve aproveitar o momento para refletir sobre a maneira que consome. Se for fazer uma compra e resolver pagar parcelado, o cliente precisa pôr na ponta do lápis cada centavo da prestação. "Uma economia de R$ 10 pode garantir uma semana de pão, por exemplo. Sempre que comparar o valor à vista com o valor à prazo a pessoa precisa se perguntar: O que eu posso comprar com esta diferença?", diz o professor da UFPR, José Guilherme Vieira. Ele lembra que as pessoas cuidam mais, em geral, dos maiores valores, mas que os desperdícios estão nas pequenas compras.
Na hora de renegociar uma dívida, o professor ensina que é possível diminuir bastante a taxa de juros. "O banco vai esperar o consumidor se endividar bastante, para depois financiar mais barato. O que não é divulgado é que se a pessoa não estiver conseguindo pagar o limite do cheque especial, por exemplo, pode pedir uma redução de juros no banco. Geralmente eles fazem uma nova negociação", afirma Vieira.
Uma dica básica para ajudar a mudar a cultura do consumidor, naturalmente desatento à taxa de juros, é levar consigo uma calculadora sempre que for fazer uma compra. "Uma calculadora bem básica, com as quatro operações, já ajuda para a pessoa fazer a conta. Multiplicar as parcelas e diminuir do valor à vista é a melhor maneira para saber o quanto se está pagando a mais, por um produto que às vezes ela nem precisa", alerta o professor da PUCPR, Carlos Magno Bittencourt.
A alta dos juros e dos índices de inflação nos últimos meses criou um cenário ruim para quem pretende fazer compras à prazo. Para quem já está com a "corda no pescoço", no entanto, este é o momento para trocar dívidas com taxas mais altas por outras mais baixas, antes que os juros subam ainda mais. A recomendação, válida para o ano todo, ganha força com a perspectiva de que o Banco Central deve manter o aperto na economia nos próximos meses.
Especialistas explicam que, diante de um panorama ainda incerto sobre o comportamento da inflação até o fim deste ano, seria possível prever que as taxas de empréstimos pagas pelos consumidores devam ficar mais altas até dezembro. De janeiro do ano passado para cá, os juros do cheque especial, do empréstimo pessoal e do consignado vêm apresentando tendência de alta. A alta aconteceu no mesmo período em que houve a elevação da taxa básica de juros, a Selic, que também de um aumento do esforço do Banco Central para conter a escalada da inflação. Outro fator que influencia diretamente a taxa de juros cobrada pelos bancos é a inadimplência: conforme ela cresce, a taxa sobe também ela já está mais alta do que no fim do ano passado.
Soma-se a isso, dizem os economistas, a possibilidade de haver outros apertos da política monetária pela frente. Além de elevar a taxa básica de juros atualmente em 12% ao ano , o Banco Central pode aumentar o compulsório (dinheiro que os bancos devem repassar para o BC) para diminuir a oferta de crédito. Com o aumento já feito, o BC calcula que retirou cerca de R$ 61 bilhões de circulação. E a medida teve efeito imediato na oferta de crédito: houve uma redução de 21% nos empréstimos contratados em dezembro, comparado a novembro. Em janeiro, segundo o BC, a queda foi ainda mais acentuada, com 76,63% a menos no volume de contratações.
Medidas
Além disso, o governo tem outras opções, como trabalhar com as medidas macroprudenciais. Um exemplo seria aumentar tributos, como já fez com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) elevado tanto para as compras feitas no exterior quanto na concessão de crédito para pessoas físicas. Outro tributo que pode ser aumentado, segundo os especialistas, é o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O governo tem a opção, ainda, de restringir a quantidade de parcelas no pagamento de compras feitas no varejo, por exemplo. "O mecanismo principal de controle da inflação são os juros. Mas o Banco Central pode ampliar os compulsórios, como em um efeito esponja, para reduzir o dinheiro disponível para os bancos emprestarem", explica o professor de Economia da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC PR), Carlos Magno Bittencourt. "Além disso, o governo pode aplicar outros instrumentos da política monetária, como ajustes de tributos, por exemplo, o que elevaria o preço do produto final."
Hora de pagar as contas
O professor de finanças pessoais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) José Guilherme Vieira fez os cálculos de um empréstimo de R$ 5 mil para serem pagos em 12 parcelas, nas diversas modalidades de crédito (veja a simulação acima). No cheque especial, o consumidor paga até quatro vezes mais caro do que no crédito consignado, no fim dos doze meses. "Para quem está com dívidas do cheque especial, a dica é fazer um empréstimo consignado ou pessoal. A hora é boa para pagar contas. Mas o refinanciamento da dívida de nada vai adiantar caso o consumidor pegue um pouco mais para gastar", alerta Vieira.
De acordo com os economistas, a taxa do consignado é mais barata porque o banco tem mais segurança ao realizar o empréstimo, já que pode fazer o desconto direto na folha de pagamento. O empréstimo pessoal é um pouco mais barato que o cheque especial porque os consumidores têm como pesquisar mais, por não haver urgência na tomada de crédito. Por essa razão, a concorrência entre os bancos em oferecer este crédito aumenta e com isso, as taxas ficam mais atraentes para o consumidor, que não precisa necessariamente ser cliente da instituição para tomar o empréstimo.
O cheque especial, no entanto, é muito mais alto porque é um crédito de emergência, que o consumidor toma na hora do aperto por não ter tempo para pesquisar outras taxas. "Os bancos cobram taxas altas porque não têm concorrentes neste segmento, pois o empréstimo está pré-aprovado. A instituição não tem medo de perder o cliente nesta situação", ressalta o professor da UFPR. De acordo com o BC, a taxa média do cheque especial em março era de 174,62% ao ano, a do empréstimo pessoal era de 47,28% a.a. e a do consignado era de 28,1% a.a.
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